sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O velho lobo

Por Max Velati*
Aproveitei o Carnaval para ficar isolado e trabalhar sem a obrigação de acompanhar o noticiário. Que o leitor então me perdoe se eu estiver tratando de abobrinhas enquanto coisa muito mais grave está em andamento. Para registro, a última vez que tive notícias do Brasil o arquivilão Eduardo Cunha havia empurrado o processo de cassação para a estaca zero. Dilma havia ganhado vaias e aplausos no Congresso e o tríplex de Guarujá ainda não era de ninguém, nem mesmo da OAS.
Neste isolamento pude colocar a leitura em dia e meio ao acaso tirei da pilha de livros o “Para ler e pensar”, de Hermann Hesse. Foi publicado pela Record na década de 70, com tradução de Belchior Cornelio da Silva. Para quem não sabe ou não se lembra, Hermann Hesse era escritor, poeta, pintor e merecidamente Prêmio Nobel em 1946. Para a minha geração foi um guru importante, com mensagens poderosas sobre autoconhecimento e espiritualidade. De um certo modo, acho que Hermann Hesse foi tudo o que Paulo Coelho gostaria de ser.
O livro que está sobre a minha mesa é uma coletânea de pensamentos extraídos de seus livros e cartas. Fica evidente o seu olhar atento e a maestria de Hesse de extrair do mundo que o cerca as verdades mais puras e mais úteis. 
Começo com o primeiro pensamento do livro: 
“Todo político, no mundo inteiro, é decididamente a favor da reforma, do império do bom senso e da renúncia às armas – não de sua parte, mas apenas da parte dos adversários!”.
“Muitos se têm na conta de perfeitos somente porque são pouco exigentes consigo mesmos”. E ao ler esta passagem não consegui evitar de pensar no ex-presidente Lula e na boa imagem que tem de si mesmo.
“O caos precisa ser aceito, precisa ser vivido, antes de se deixar organizar numa ordem nova”. E já nesta não consegui evitar de pensar na presidente Dilma e na sua incrível incapacidade de enxergar a realidade.
E para ser justo, esta colhi para mim: “O homem racional facilmente se apaixona por sistemas. Tende sempre a não confiar nos próprios instintos”.
E Hesse segue ensinando:
“Leitura sem amor, saber sem respeito, cultura sem coração – eis alguns dos mais graves pecados contra o espírito”.
“Saber é agir. Saber é uma vivência. Não perdura. Sua duração é a do momento”.
“O mundo de fora dos hospícios não é menos estranho que o de dentro”.
“Certa noite, estando eu a ajudar num parto, percebi que a maior dor e o máximo prazer têm expressão inteiramente igual”.
E para concluir:
“Não deves aspirar a uma doutrina perfeita e, sim, ao aperfeiçoamento de ti mesmo. A divindade está em ti, não em ideias e livros”.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é professor de esgrima e chargista de Economia da Folha de S. Paulo. Publica no Dom Total toda sexta feira.

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