Prostitutas e dependentes químicos do México falam sobre a visita de Francisco.
Por Jan Martínez Ahrens*
China, Rosario e Lupillo habitam o território preferido do papa Francisco: as periferias existenciais. Os três vivem em Ciudad Juárez, creem em Deus e em muitos dias passam fome. O Santo Padre visitou a cidade deles nesta quarta-feira, 17. Isso é o que esperam dele.
Gorro de lã, roupa esportiva vermelha e uma mandíbula que dança sozinha. China é prostituta. E também viciada em heroína, e também mãe de sete filhos de pais diferentes. Não fala muito, e sentada em uma esquina, com as pernas cruzadas, é modesta até para rezar: "Quando rezo, peço só por hoje". Embora acredite em Deus, não vai à missa, e na quarta-feira também não poderá comparecer aos atos do Papa. Terá que trabalhar na rua. Vinte dólares por serviço. Mas verá o Santo Padre pela televisão.
- E se você encontrasse o Papa, o que pediria?
- Bem... uma caixa de alimentos. Cereais, latas, vegetais, feijão, arroz, manteiga de amendoim e... geleia!
- Não pediria carne?
- Posso? É que eu nunca como carne, não tenho condições.
China nunca ouviu falar das periferias existenciais. Também não sabe muito sobre Francisco. Mas gosta dele. "Deve ser um homem honrado". Isso a impressiona. Exerce a prostituição desde que se tornou uma mulher. Nunca teve descanso. Ao longo da vida viu a morte de perto. Os anos sombrios de Ciudad Juárez. Dez mil assassinatos entre 2008 e 2011, quando muitas de suas companheiras, as mais bonitas, desapareciam. "Eram levadas por pervertidos, satânicos que procuravam jovens meninas".
- E você não tinha medo?
- Quem iria querer uma velha como eu, tão rodada?
China diz ter 43 anos e acredita que uma das melhores coisas da visita do Papa é que, aproveitando a confusão, pode ter a oportunidade de cruzar a fronteira com os Estados Unidos. Gostaria de criar lá sua filha pequena, a agitada Ángeles, de 7 anos. "Quero que seja melhor do que eu". Esse é o seu sonho.
O remorso de Lupillo
Lupillo, ex-presidiário de 48 anos, está como de costume. Pouco depois do amanhecer já ingeriu meio litro de jalapeño e uma picada de heroína. Com isso calcula que aguentará até o almoço. Nascido em Ciudad Juárez, ele crê em Deus e garante que vai se aproximar do aeroporto quando pousar o avião do Papa para ver se recebe "um raio de luz". Diz com um meio sorriso. Depois não exibirá mais nenhum. É um cristão calado, com as mãos imóveis. Viu matar e já matou. Isso é o que conta. Anos atrás, durante a noite, na margem sul do Rio Bravo. Acabou com a vida de um amigo a "pancadas com barra de ferro". "Tinha uma dívida de 2.500 dólares e se não o matasse, me matavam”, se explica. No turbilhão de Juárez, ninguém se importou com um cadáver a mais. Mas Lupillo não se esquece. Garante que sente remorso e que quando está na igreja, sozinho, em silêncio, aquilo retorna à sua cabeça e machuca.
- Fiz por medo, sabe?
Para Lupillo, a chegada do Papa é um bom sinal. "Pelo menos alguém pensa em nós". Mas não acha que adiantará muito. "Se me encontrasse com o Papa iria mostrar o meu respeito, mas não iria pedir nada. Nem ele pode me mudar".
O pesadelo de Rosario
Rosario não perderia por nada no mundo a visita do Papa. Pensa em ir vê-lo no aeroporto e depois seguirá cada passo dele em Ciudad Juárez. Ela, que vai à missa todos os domingos, está convencida de que a chegada de Francisco é "uma dessas coisas importantes que acontecem na vida".
Rosario, de 33 anos, trabalha na selvagem rua Mina. Sob um toldo da cerveja Corona, se oferece aos transeuntes. Quando sai da sombra, o sol desenha seu rosto. Tem as sobrancelhas depiladas e veste uma jaqueta rosa, um top azul-turquesa e calça de lycra preta.
Pouco mais. Atende de cinco a sete clientes por dia. 150 pesos (cerca de 30 reais) por serviço. Ganha mais do que na fábrica em que trabalhava, onde colocava peças em refrigeradores a 480 pesos por semana. "Sei que é errado o que eu faço, mas tenho que seguir em frente".
Seu único descanso é aos domingos. Nesse dia cuida de seus três filhos. Mas raramente encontra a paz. Muitas noites acorda na cama em pânico. É o demônio de suas lembranças que a afasta de seus filhos e a arrasta de volta para o toldo da rua Mina. Nesses momentos, Rosario olha para uma imagem da Virgem de Guadalupe e reza. Se tiver sorte, volta a dormir.
Francisco visita penitenciária em Cidade Juarez, México:
*Jan Martínez Ahrens escreve para o El País
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