sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Uma piada esperançosa

A direita, seu braço midiático e judicial tentaram fechar o cerco sobre a figura do ex-presidente Lula esta semana. Tentaram de tudo, apartamento triplex, sítio de amigos, barco de lata, Lulinha e mais o que foi possível à imaginação.Não se sabe se o efeito é pior sobre Lula, sobre a credibilidade da combalida imprensa proprietária e oligopolizada, sobre a caixa preta do judiciário ou sobre a democracia em si.

Lula teve sua imagem arranhada. Segundo pesquisa Ipsos citada no Valor Econômico, apenas 25% dos entrevistados acreditam que Lula é honesto contra 49% à época do suposto mensalão em 2005. Contudo, há que se considerar que ele não tem tido exposição em sua defesa tanto quanto tem, sete dias por semana, 24 horas por dia, em sua acusação.

A mídia brasileira, liderada por um oligopólio descarado de poucas grandes empresas familiares, caracterizada como velha mídia, cujos carros chefes são os telejornais, jornais impressos, rádios e revistas semanais amarga, há alguns anos uma tendência recessiva, com queda nas vendas, assinaturas e audiência. Logicamente há que se considerar o efeito das novas mídias, das redes sociais da internet, dos avanços da área da tecnologia da informação e comunicação. Mas também é preciso perceber que o oligopólio baseia-se em uma pauta monotemática, majoritariamente oposicionista ao governo atual e que repele qualquer debate sobre a democratização das vozes que formulam a opinião publicada. Apostam no “quanto pior melhor”.

No primeiro semestre de 2015 em média, TVs, jornais, revistas e rádios enfrentavam recuos de verbas publicitárias no patamar de 8,5%, sendo que a queda das revistas chegava a 20,9% como informou a Rede Brasil atual.

O judiciário não teve sua credibilidade tão afetada, contudo permanece a sensação de que as punições judiciais recaem com muito mais severidade sobre pobres do que sobre ricos, uma verdadeira caixa preta. Os exemplos da lava-jato tendem a reverter esta avaliação ao prenderem empresários, mas a população sente na pele a seletividade da justiça e da polícia, principalmente nas periferias urbanas entre pobres e negros.

A opinião publicada corrobora para a criminalização da política e do Estado, exaltando valores  como o individualismo e a concorrência, e mais recentemente o ódio de classe contra movimentos sociais, trabalhadoras e trabalhadores e a esquerda como um todo. Mas é constrangedor ver as imagens do barco de lata de Lula, como fosse um Iate, e os vários minutos do Jornal Nacional dando zoom nos valores do tal triplex, cuja cifra mais alta chegou a $380 mil quando na esquina da minha casa há um apartamento anunciado por 1 milhão e meio de reais. E nem é um triplex!!!

A sanha golpista não consegui inviabilizar o governo Dilma e agora mira em seu potencial sucessor em 2018. Mas se por um lado fracassa o golpe, por outro a direita avança e ganha terreno na disputa do governo. A pauta da reforma da previdência, da continuidade e austeridade do ajuste fiscal, a reforma administrativa que enfraquece o lado social do governo, a desejada “flexibilização” dos programas sociais, além do pouco avanço das pautas progressistas são sinais de quem tem dado as cartas no jogo político.

O quadro não é dos melhores nestas searas políticas, nem por isso devemos perder a esperança e o bom humor. Quando soube que no primeiro dia de retorno ao trabalho do Legislativo o processo de cassação de Eduardo Cunha voltou à estaca zero pensei qual seria a piada da semana: o barco de lata do Lula ou a cara de pau do Cunha?

Quem mais perde com isso continua sendo a democracia que elegeu um governo de esquerda em 2014 mas até hoje não o recebeu. Mas como a luta está caricaturesca pelo lado golpista da direita  continuemos lutando e à espera esperançosa de um sinal, de uma fagulha da mudança prometida

Marcel Farah

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