terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

'Unidade e pluriformidade são o selo da Igreja'

Francisco reitera a necessidade de promover em todos os níveis da vida eclesial a "justa sinodalidade".
O Papa Francisco recomenda "continuar e intensificar" a colaboração entre a Congregação para a Doutrina da Fé, por um lado, as Conferências Episcopais nacionais e os bispos individuais, por outro, por ocasião de uma audiência à plenária do ex-Santo Ofício, invocando o princípio da "justa sinodalidade" a ser promovida em todos os níveis da vida eclesial e, em relação à "complementaridade entre dons hierárquicos e carismáticos", enfatizou o valor da "dinâmica sinodal".
Jorge Mario Bergoglio agradeceu o dicastério dirigido pelo cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, dentre outras coisas, pelo "compromisso e a responsabilidade" exercidos ao lidar dos casos de abuso de menores por padres.
"O cuidado pela integridade da fé e dos costumes é uma tarefa delicada", disse Francisco. "Para desempenhar bem tal missão é importante um compromisso colegial. A sua Congregação valoriza muito a contribuição dos consultores e dos comissários, a quem eu gostaria de agradecer pelo seu trabalho precioso e humilde; e lhes agradeço a continuar na sua práxis de tratar as questões no Congresso semanal e as mais importantes na Sessão Ordinária ou Plenária. É preciso promover, em todos os níveis da vida eclesial, a justa sinodalidade. Nesse sentido, no ano passado, vocês organizaram oportunamente uma reunião com os representantes das comissões doutrinais das Conferências Episcopais europeias, para enfrentar colegialmente alguns desafios doutrinais e pastorais. Desse modo, vocês contribuem para despertar nos fiéis um novo impulso missionário e uma maior abertura à dimensão transcendente da vida, sem a qual a Europa corre o risco de perder o espírito humanista que ela também ama e defende. Convido-lhes – disse o papa – a continuar e a intensificar a colaboração com tais órgãos consultivos que ajudam as Conferências Episcopais e os bispos individuais na sua solicitude pela sã doutrina, em um tempo de mudanças rápidas e de crescente complexidade das problemáticas."
Outra "importante contribuição" da Congregação para a "renovação da vida eclesial" é "o estudo sobre a complementaridade entre dons hierárquicos e carismáticos. De acordo com a lógica da unidade na legítima diferença – lógica que caracteriza toda autêntica forma de comunhão no Povo de Deus –, dons hierárquicos e carismáticos são chamados a colaborar em sinergia pelo bem da Igreja e do mundo. O testemunho dessa complementaridade é mais urgente do que nunca hoje e é uma expressão eloquente daquela ordenada pluriformidade que conota todo tecido eclesial como reflexo da harmoniosa comunhão que vive no coração do Deus Uno e Trino. A relação entre dons hierárquicos e carismáticos, de fato, remete à sua raiz trinitária, no laço entre o Logos divino encarnado e o Espírito Santo, que é sempre dom do Pai e do Filho. Justamente essa raiz, se reconhecida e acolhida com humildade, permite à Igreja se deixar renovar em todos os tempos como 'um povo que deriva a sua unidade da unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo', segundo a expressão de São Cipriano. Unidade e pluriformidade são o selo de uma Igreja que, movida pelo Espírito, sabe se encaminhar com passo seguro e fiel para aquelas metas que o Senhor Ressuscitado as indica no curso da história. Aqui se vê bem – ressaltou o papa – como a dinâmica sinodal, se retamente entendida, nasce da comunhão e conduz para uma comunhão cada vez mais implementada, aprofundada e dilatada, a serviço da vida e da missão do Povo de Deus".
O papa expressou a esperança de que, no Ano Santo da misericórdia, "todos os membros da Igreja renovem a sua fé em Jesus Cristo, que é o rosto da misericórdia do Pai, o caminho que une Deus e o homem. Por isso, a misericórdia é a pedra angular que sustenta a vida da Igreja: a primeira verdade da Igreja, de fato, é o amor de Cristo. Como não desejar, então, que todo o povo cristão – pastores e fiéis – redescubram e coloquem novamente no centro, durante o Jubileu, as obras de misericórdia corporal e espiritual?".
Na fé e na caridade, "dá-se uma relação cognoscitiva e unificante com o mistério do Amor, que é Deus mesmo. E, embora permanecendo Deus, mistério em Si mesmo, a misericórdia efetiva de Deus se tornou, em Jesus, misericórdia afetiva, tendo-se Ele feito homem para a salvação dos homens. A tarefa confiada ao dicastério de vocês encontra, aqui, o seu fundamento último e a sua justificação adequada. A fé cristã, de fato, não é só conhecimento a ser conservado na memória, mas verdade a ser vivida no amor. Por isso, junto com a doutrina da fé, é preciso conservar também a integridade dos costumes, particularmente nos âmbitos mais delicados da vida. A adesão de fé à pessoa de Cristo implica tanto o ato da razão, quanto a resposta moral ao seu dom. A esse respeito – acrescentou o papa – agradeço a vocês por todo o compromisso e a responsabilidade que exercem ao lidar com os casos de abuso de menores por parte de clérigos".
Vatican Insider, 29-01-2016.

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