Ex escoteiros denunciam as violências sofridas entre os anos 70-90 e exigem as demissões do arcebispo, que teria encoberto os sacerdotes incriminados. Os bispos franceses: “Solidariedade com o cardeal. Agiu com muita responsabilidade”
Terá sido por causa do Spotlight, terá sido pelo ‘processo’ da Royal Commission ao cardeal Pell, mas também na França, em Lyon, começou a virar notícia um escândalo de abuso sexual do clero. Depois de décadas de silêncios e medos, três escoteiros, agora adultos, encontraram a coragem para denunciar as violências sofridas por alguns sacerdotes durante quase duas décadas, o período de 1978-1991.
As denúncias – cerca de 55 no total – fizeram abrir uma investigação preliminar por parte do Ministério Público de Lion. No centro está o caso do pe. Bernard Preynat, 71 anos, que acabou sob investigação no passado 27 de janeiro. Dele conta uma das vítimas, agora 44 anos: “Era um verdadeiro predador, atacava principalmente os meninos de 8 a 12 anos, loiros e com os olhos azuis, como eu”. Interrogado pelos investigadores, o religioso confessou todos os abusos realizados aos jovens que frequentavam a sua paróquia e acabou revelando também outros estupros nunca denunciados.
Mas as principais acusações estão sendo dirigidas ao cardeal Philippe Barbarin, primaz das Gálias, acusado de ter encoberto os casos de abusos e de não ter denunciado o religioso, deixando cair no vazio o grito das mães de algumas vítimas que, durante anos, pediam a remoção do sacerdote orco. O que não aconteceu sequer em 2007, embora – afirmam as vítimas – teve publicamente conhecimento dos fatos.
Como explicado por uma nota da diocese francesa, divulgada ontem, o cardeal “estava convencido de que o sacerdote tinha rompido com o seu passado” e confirmou o cargo do sacerdote. Preynat foi suspenso somente em 2015, depois que o arcebispo recebeu “o testemunho direto de uma vítima” e “obteve o parecer de Roma”. O grupo de sobreviventes pede agora a sua renúncia, e o faz com apoio de advogados, psicólogos e outras associações católicas.
Nesta tempestade, no entanto, Barbarin – que foi apontado no conclave de 2013 pela sua chegada ao Vaticano de bicicleta – responde com tranquilidade e pragmatismo. Na nota suscitada se lê: “O cardeal Barbarin e a diocese de Lion colaborarão com serenidade e confiança com a justiça e fornecerão aos investigadores todas as informações que solicitarem para iluminar estes eventos cuja complexidade e distância histórica requerem um abordagem cautelosa”.
“Consciente da extrema gravidade das acusações contra o padre acusado”, o prelado – continua o comunicado – “desejar recordar que no momento dos fatos não era arcebispo de Lion e que nunca encobriu nenhum fato de pedofilia”. Barbarin foi então, em 2007/2008, no momento da sua nomeação, “informado do passado deste sacerdote”, cujas ações anteriores a 1991 tinham já sido tratadas, nas respectivas épocas, pelos três antecessores. “Certo de que o sacerdote rompeu com o passado, foi, então, renovado na sua missão que lhe havia dado os seus antecessores”.
Foi graças ao coletivo das vítimas da Parole Libérée, que o cardeal tomou conhecimento de que “os fatos são mais numerosos e mais graves do que parecia em 2007/2008″. No entanto, reitera, “não conhecemos nenhum fato sucessivo a 1991”.
Só no 2014 a diocese de Lyon teve contato pela primeira vez com os terríveis eventos realizados até agora na sombra. Naquele ano, se lê na nota dos cardeais, o cardeal “recebe o testemunho direto de uma vítima de fatos prescritos e decide, depois de ter obtido o parecer de Roma, suspender o sacerdote em maio de 2015, antes ainda da denúncia da vítima à justiça”.
“O Cardeal Barbarin – se lê nas últimas linhas do comunicado – renova o seu apoio às vítimas e às suas famílias e leva na oração todos aqueles que foram feridos por estes eventos dolorosos”. Expressa, além do mais, “a esperança de que a justiça possa agir com a serenidade para compreender e acertar a verdade”.
Em apoio ao cardeal também veio a Conferência Episcopal Francesa que, em um outro comunicado, expressando “a profunda dor e apoio às vítimas de tais atos”, confirma “a política de firmeza dos bispos da França por mais de 15 anos sobre questões de pedofilia”. Portanto, garante “plena colaboração com a justiça” e “garante apoio e oração ao cardeal Barbarin”. Zenit
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