George Pell descartou desistir do cargo, mesmo depois do escândalo.
Ele garante que não sabia dos abusos cometidos pelos sacerdotes.
O influente cardeal australiano George Pell, encarregado das finanças do Vaticano,descartou renunciar ao seu cargo, apesar do escândalo que atinge vários padres pedófilos em sua ex-diocese. A declaração de que não deixará seu posto foi dada em uma entrevista à emissora Sky News.
O ex-chefe da Igreja católica na Austrália, que se converteu em 2014 em chefe da Secretaria de Economia da Santa Sé, negou ter acobertado casos de pedofilia cometidos nos anos 70 e 80 por sacerdotes e religiosos da diocese de Melbourne, quando era arcebispo desta cidade.
O cardeal fez a revelação em um depoimento por videoconferência dado durante a investigação. Ele diz que o garoto não pediu que medidas fossem tomadas, mas que, hoje, o cardeal admite que deveria ter feito algo.
Pell, de 74 anos, depôs nesta semana ante uma comissão australiana que investiga estes casos.
"Não, não vou renunciar. Isso seria encarado como uma admissão de culpa", disse Pell em uma entrevista à Sky News, gravada em Roma e transmitida na sexta-feira (5) na Austrália.
"Se o Santo Padre me pedir, diria isso, mas farei tudo o que me pedir", acrescentou.
Pell considera que foi uma coincidência desastrosa o fato de cinco sacerdotes terem abusado de menores quando atuava nesta cidade.
Depoimentos
Devido aos seus problemas cardíacos, o ex-bispo de Melbourne e depois de Sydney, de 74 anos, testemunhou pelo quarto dia consecutivo, na quinta-feira passada (3), por videoconferência a partir de um hotel de Roma.
Submetido às perguntas dos advogados que representam as vítimas de abusos cometidos por membros do clero, desmentiu ter cometido algum erro.
A comissão se concentra atualmente na situação nas cidades de Ballarat e Melbourne, no estado de Victoria, onde o cardeal Pell cresceu e trabalhou, nos anos setenta e oitenta, quando sacerdotes pedófilos abusavam de dezenas de vítimas.
O eclesiástico, que revelou que o papa Francisco recebe diariamente um resumo das audiências, afirmou que ao menos dois arcebispos e outros membros da hierarquia católica o enganaram ao não informá-lo da situação. Falou de um "mundo de crimes e ocultações".
À pergunta sobre se tinha a impressão de ser vítima de uma caça às bruxas, o cardeal Pell respondeu nesta quinta-feira: "Nunca disse nada semelhante, mas devo confessar que a ideia me passou pela cabeça".
O fato de ao menos cinco sacerdotes pedófilos terem atuado ao mesmo tempo em Ballarat nos anos setenta é uma "coincidência desastrosa", acrescentou.
No entanto, reconheceu que um jovem se queixou em 1974 do irmão Edward Dowlan.
O menor "mencionou em uma conversa" que o irmão Dowlan "se comportava mal" com os meninos, disse. Então levantou o tema com o capelão do colégio e nada mais.
"Com 40 anos de distância, diria certamente que deveria ter feito mais", admitiu quando informaram que Dowlan, agora detido, abusou de dezenas de crianças.
Outra acusação
O eclesiástico também foi interrogado sobre o caso de Gerald Ridsdale, sacerdote pedófilo reincidente múltiplo, com quem o cardeal dividiu alojamento por um tempo e que também trabalhava em Ballarat.
George Pell voltou a desmentir que tenha tentado comprar o silêncio do sobrinho de Ridsdale, David, como ele afirma. David Ridsdale foi vítima de abusos por parte de seu tio.
O cardeal Pell estimou que era um "dever cristão" acompanhar Gerald Ridsdale no processo que culminou com sua condenação por mais de cem crimes de abusos sexuais de menores.
Também negou ter ficado ciente das atividades pedófilas de Ridsdale, e voltou a desmentir que um dia tenha dito a um sacerdote: "Haha, acredito que Gerry está se atirando em direção aos meninos novamente". Esta acusação é "falsa", disse.
No início das audiências, o cardeal havia explicado que os crimes de Ridsdale não tinham "maior interesse para ele", mas voltou atrás nesta quinta-feira. "Lembro de ter falhado completamente nesta sequência. Lamento as palavras utilizadas. Estava muito perturbado, respondi mal".
Um grupo de vítimas que viajou a Roma para acompanhar este depoimento disse não acreditar nele.
"Achamos que mentiu e nos enganou", declararam em um comunicado. O interessado negou que minta. "Diria que é totalmente falso e não se baseia em nenhuma prova".
Reconheceu que os relatos das vítimas eram horríveis. "Uma das coisas que lamento como sacerdote católico são os danos que tais crimes infligem à fé dos sobreviventes, das vítimas, de seus amigos e famílias, e de maneira mais geral à sociedade. Lamento".
A comissão se constituiu em 2013 para investigar acusações de pedofilia em igrejas, escolas, orfanatos ou associações de jovens, depois de mais de dez anos de pressões. Ouviu quase 5.000 vítimas
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