sábado, 5 de março de 2016

Fomos escolhidos para estender a mão

'Também o pecado tem este efeito: nos empobrece e nos isola', diz Papa.
Regresso do filho à casa é o que acima de tudo anseia o Pai

O Papa Francisco presidiu na tarde desta sexta-feira (4), na Basílica de São Pedro, a celebração penitencial na qual abriu a inciativa “24 horas para o Senhor” que partiu de Roma e ganhou alcance mundial. O encontro nasceu com o intenção de recolocar no centro a importância da oração, da adoração eucarística e o do dom do sacramento da Reconciliação, e oferecer a todos a possibilidade de fazer experiência pessoal da misericórdia de Deus.

“Eu quero ver de novo: este é o pedido que queremos fazer hoje ao Senhor. Ver de novo, depois de os nossos pecados nos terem feito perder de vista o bem e desviar da beleza da nossa vocação, levando-nos para longe da meta”, disse Francisco na homilia.

Segundo o pontífice, “este trecho do Evangelho possui um grande valor simbólico e existencial, porque cada um de nós se encontra na situação de Bartimeu. A sua cegueira o levou à pobreza e a viver na periferia da cidade, dependendo em tudo dos outros”.
“Também o pecado tem este efeito: nos empobrece e nos isola. É uma cegueira do espírito que impede de ver o essencial, fixar o olhar no amor que dá a vida; e, aos poucos, leva a deter-se no que é superficial até deixar insensíveis aos outros e ao bem. Quantas tentações têm a força de anuviar a vista do coração e torná-lo míope! Como é fácil e errado crer que a vida dependa do que se possui, do sucesso ou do aplauso que se recebe; que a economia seja feita apenas de lucro e consumo; que as pretensões próprias devam prevalecer sobre a responsabilidade social! Olhando apenas para o nosso eu, tornamo-nos cegos, amortecidos e fechados em nós mesmos, sem alegria nem verdadeira liberdade.”
Porém, Jesus passa; passa e não vai além, parou, como diz o Evangelho. “Então um frêmito atravessa o coração, porque nos damos conta de ser contemplados pela Luz, por aquela Luz gentil que nos convida a não ficar fechados em nossas cegueiras tenebrosas. A presença de Jesus perto de nós faz sentir que, longe d’Ele, falta-nos qualquer coisa importante: faz-nos sentir necessitados de salvação; e isto é o princípio da cura do coração. Depois, quando o desejo de ser curado ganha audácia, leva a rezar, a gritar, com força e insistência, por ajuda, como faz Bartimeu: «Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!»” 
“Infelizmente, há sempre alguém que não quer parar, não quer ser incomodado por quem grita a sua aflição, preferindo mandar calar e repreender o pobre que chateia. É a tentação de prosseguir como se nada tivesse acontecido; mas, assim, nos afastamos do Senhor e deixamos afastados de Jesus também os outros. Reconheçamos todos que somos mendigos do amor de Deus, e não deixemos escapar o Senhor que passa. «Timeo transeuntem Dominum – temo que o Senhor passe» (Santo Agostinho). Demos voz ao nosso desejo mais verdadeiro: «[Jesus], que eu veja de novo!» “
“Este Jubileu da Misericórdia é tempo favorável para acolher a presença de Deus, experimentar o seu amor e voltar a Ele de todo o coração. Como Bartimeu, joguemos fora o manto e ponhamo-nos de pé, ou seja, joguemos fora aquilo que nos impede de caminhar rapidamente para Ele, sem medo de deixar aquilo que nos dá segurança e a que estamos presos; não fiquemos sentados, ergamo-nos, recuperemos a nossa estatura espiritual, a dignidade de filhos amados que estão diante do Senhor para que Ele nos fixe nos olhos, nos perdoe e recrie.”
Segundo o Papa, “hoje mais do que nunca, sobretudo nós, pastores, somos chamados também a escutar o grito, talvez abafado, de quantos desejam encontrar o Senhor. Somos obrigados a rever comportamentos que, às vezes, não ajudam os outros a aproximar-se de Jesus; horários e programas que não atendem às reais necessidades daqueles que poderiam aproximar-se do confessionário; regras humanas, quando valem mais do que o desejo de perdão; nossa rigidez que poderia manter longe da ternura de Deus.” 
“Certamente não devemos diminuir as exigências do Evangelho, mas não podemos correr o risco de frustrar o desejo que tem o pecador de reconciliar-se com o Pai, porque o regresso do filho a casa é o que acima de tudo anseia o Pai.”

“Que as nossas palavras sejam as dos discípulos que, repetindo as próprias expressões de Jesus, dizem a Bartimeu: «Coragem, levante-se, porque Jesus está chamando você». Somos enviados para dar coragem, amparar e levar a Jesus. O nosso ministério é o ministério do acompanhamento, de modo que o encontro com o Senhor seja pessoal, íntimo, e o coração possa, com sinceridade e sem medo, abrir-se ao Salvador. Não esqueçamos jamais: o único que age em cada pessoa é Deus. No Evangelho, é Ele que para e pergunta pelo cego; é Ele que diz para trazê-lo; é Ele que o escuta e cura. Fomos escolhidos para suscitar o desejo da conversão, ser instrumentos que facilitam o encontro, estender a mão e absolver, tornando visível e operante a sua misericórdia.”
Francisco disse que a conclusão desse episódio do Evangelho “é densa de significado: Bartimeu «logo recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho». Também nós, quando nos aproximamos de Jesus, vemos de novo a luz para olhar o futuro com confiança, encontramos a força e a coragem para nos pormos a caminho. Com efeito, «quem acredita, vê» e vai adiante com esperança, porque sabe que o Senhor está presente, ampara e guia. Sigamo-Lo, como discípulos fieis, para tornar participantes da alegria do seu amor misericordioso aqueles que encontrarmos em nosso caminho”. (MJ)
Rádio Vaticano

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