quarta-feira, 23 de março de 2016

Golpe branco: impeachment para Bresser Pereira

"Essa crise é muito estranha porque é em uma democracia que eu entendo consolidada", disse.
Ex-ministro dos governos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira disse nesta terça-feira (22) que considera o processo de impeachment da presidente da República Dilma Rousseff um "golpe branco". Segundo ele, a crise atual repete as que antecederam as quedas dos ex-presidentes Getúlio Vargas e de João Goulart.

"Essa crise é muito estranha porque é uma crise em uma democracia que eu entendo consolidada. É uma crise que repete crises passadas, é uma crise em que liberais derrotados nas eleições resolvem tentar dar o golpe de Estado. Isso aconteceu no Brasil inúmeras vezes", disse Bresser-Pereira em entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil.

"Em 1954, o Getúlio Vargas foi derrubado nessas condições. Em 1964, João Goulart foi assim. Sempre a UDN, que era o partido liberal. Agora é a mesma coisa, mas é o PSDB, meu ex-partido, que virou partido liberal. Tudo é sempre feito em nome da moralidade pública. Como se, de repente, a moralidade pública estivesse encarnada nesses liberais e jamais existisse do outro lado", disse.

No entanto, de acordo com o ex-ministro, na crise atual, diferentemente das anteriores, um setor da classe média radicalizou o discurso, e começou a agir com "ódio" contra o governo. "Em nenhuma das outras vi tanto ódio. Isso me surpreendeu muito já em 2014. Havia um setor da classe média que radicalizou e começou a agir com um ódio em relação ao PT e em relação a Dilma e Lula que eu nunca vi na minha vida."

"No tempo do golpe militar, por exemplo, havia uma preocupação da direita com um possível golpe socialista, o que era bobagem, mas enfim, era razoável o medo, e havia medo. Mas não havia ódio. Agora tem ódio. E, na minha opinião, quando isso acontece, quando aparece o ódio, é porque não há razão", analisou.

Bresser-Pereira destacou que não acredita que Dilma sofrerá impeachment porque o Brasil tem uma democracia consolidada. "O impeachment só se justifica nos momentos em que o presidente cometeu algum crime. Não há crime, desde o começo não há. Acho que nós estamos em uma democracia consolidada e isso seria um golpe muito sério na democracia."

Ex-ministro da Fazenda no governo José Sarney, da Administração Federal e Reforma do Estado, e de Ciência e Tecnologia no de Fernando Henrique Cardoso, Bresser-Pereira é economista, cientista político, administrador de empresas e bacharel em direito.

Transmitido pela TV Brasil toda terça-feira, às 23h, o programa Espaço Público é apresentado pelos jornalistas Paulo Moreira Leite e Florestan Fernandes Júnior.
Agência Brasil

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