Em primeiro lugar é preciso festejar que não tenha havido confronto grave entre correntes opostas.
Por Ricardo Soares*
Escrever de longe sobre fatos políticos importantes que acontecem no seu país pode ser uma temeridade. Sou do tempo em que repórter ia ao local dos fatos, estava ombro a ombro com a notícia e não usava "Google", e-mail e outras impessoalidades. Colhia depoimentoin loco, anotando em bloquinhos ou laudas surradas.
Arqueologias e velhas convicções jornalísticas à parte eu me justifico para comentar de longe o que aconteceu no Brasil ontem com as passeatas antigoverno, antiLula e pró-impeachment. Em primeiro lugar é preciso festejar que não tenha havido notícias de nenhum confronto grave entre correntes opostas. Depois é muito salutar que dois presidenciáveis golpistas e oportunistas tenham sido vaiados e xingados de corruptos pelos manifestantes demonstrando que mesmo os que estão manipulados e à direita na verdade não querem corruptos e nem opositores de nenhuma facção. Tomara que Alckmin e Aécio tenham entendido o recado assim como Marta Suplicy que teve que se esconder dentro do prédio da Fiesp.
Os tiros dessa gente e demais desqualificados como Paulinho da Força e Bolsonaro saíram pela culatra e daí emerge um fato político curioso, uma novidade, para mim, inesperada. O recado de muitos opositores a Dilma ficou mais cristalino: o alvo deles é combate a corrupção, seja de onde vier. Meno male. Cansaram da leviandade de uma oposição que aposta no "the horror show".
Então vem à tona o tal juiz Sérgio Moro, o Macunaíma da direita nativa, o herói do momento, transformado em vídeos e memes como um Eliot Ness da terra das finadas araucárias. O moço parece que vai ter que rebolar então para continuar agradando a sua torcida pois não vai poder seguir com sua indisfarçavel justiça seletiva. Não é isso sequer que a torcida dele parece querer. Parece sim que ela está querendo punição para todos os corruptos conforme deixaram claro em nada democráticos palavrões proferidos contra os oportunistas Alckmin- Aécio.
O jogo que estava sendo jogado não vale mais. Novas cartas na mesa. Os tais falsos arautos da moralidade foram pegos com as calças na mão e tiveram que sair correndo das manifestações onde imaginavam que seriam aplaudidos. Dizer bem feito é pouco. Ter certeza que isso é uma novidade não deixa de ser bom. Quem sabe se pressionados pela mesma massa que os embalou essa malta hipócrita seja enfim desmascarada?. Que todos caminhem juntos para o purgatório político em busca de uma terceira via sem imundícies de qualquer espécie.
*Ricardo Soares é escritor, diretor de TV, roteirista e jornalista. Autor de sete livros e diretor de doze documentários, escreve às segundas e quintas no Dom Total.
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