sábado, 19 de março de 2016

Nova pessoa

A parábola do filho pródigo mostra que o retorno é possível, diante de Deus, se a pessoa for humilde.
Por Dom José Alberto Moura*
Muitos começam bem a vida, mas a encaminham de modo não adequado à sua realização e se encontram como num beco sem saída. Sentem-se como um criminoso que tenta fugir e se esconder para não ser pego. Sua preocupação contínua com a segurança no refúgio os fazem arredios a qualquer solução, por não encontrarem saída honrosa para seus desmandos anteriores diante de pessoas e da sociedade. Como reverter o quadro? Seria possível? 
A parábola do filho pródigo mostra que o retorno é possível, diante de Deus, se a pessoa for humilde e reconhecer seu pecado, querendo voltar atrás e pedir misericórdia a quem a pode dar (Cf. Lucas 15,1-32).  
Felizmente a lei de Deus é clara e não deve ser infringida. Mas, diferentemente das leis humanas, a lei misericordiosa divina, mesmo na desobediência, pode fazer a pessoa reverter o quadro e tornar-se nova criatura. A lei de Deus coloca o ideal a ser seguido. Mas a base de sustentação do mesmo, se a pessoa for humilde, faz com que o pecador, infrator da lei, possa trocar o pecado pela absolvição, com a condição colocada pelo Criador.Isto se dá através da realização da penitência e conversão. Jesus lembra à pecadora pública: “Eu também não te condeno. Vai e não peques mais” (João 8,11). As exigências de Jesus são maiores até do que a de tantas religiões. Mas a misericórdia dele é infinitamente superior à de qualquer ser ou instituição humana. Só Deus pode sanar a doença e a podridão moral e espiritual de algum ser humano. Por isso, é de bom alvitre a pessoa se refugiar nele, se quiser ter o refazimento da vida e tornar-se nova pessoa. Temos exemplos sobejos disso em tantas pessoas que mudaram de vida e se tornaram verdadeiras criaturas do bem, do amor, do exemplo de dignidade e altivez moral! 
Neste tempo da Quaresma somos conclamados a nos tornar pessoas de novo enfoque e prática de vida com os novos critérios de Cristo, para sermos com Ele ressuscitados para a vida do verdadeiro amor. O tema da Campanha da Fraternidade nos incita a cuidarmos melhor do nosso planeta com os valores da nova criatura banhada pelo amor divino. Fazemos, então, da justiça, a fonte de promoção da vida digna para todos. A fraternidade acontece com o beneficio de convivência na compreensão, na solidariedade e no trabalho de inclusão social dos deixados de lado na sociedade. Este ano de eleição política somos chamados a colocar a mão na consciência para mudarmos o Brasil. Se não mudarmos nosso modo de fazer política, teremos a continuação da corrupção, alimentada pela compra e venda de voto. Não podemos nos omitir em escolher melhor os dirigentes políticos da sociedade. Caso contrário, o dinheiro do povo vai para os bolsos insaciáveis dos inescrupulosos e continuaremos a ajudar a promover a injustiça principalmente para os empobrecidos da sociedade.
Precisamos de nova cidadania, em que pessoalmente nos responsabilizamos pela promoção do bem comum e do uso adequado da natureza e dos recursos naturais. Esses não podem ser usados, acima de tudo, para promover a ganância de poucos que abocanham a maior parte do que deveria ser de benefício para todos!
A celebração da Páscoa de Jesus só tem influxo em nós quando aceitarmos o desafio dele de sermos pessoas que o seguem, imitando-O, para também darmos de nós mesmos o necessário para o benefício do semelhante. Então, com nossa conversão, seremos também misericordiosos com os outros, como pedimos a misericórdia de Deus para nós!
CNBB, 03-03-2016.
*Dom José Alberto Moura: Arcebispo de Montes Claros.

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