sexta-feira, 11 de março de 2016

O causo Limeira

Gonzaga Mota*
A maioria dos políticos, em campanhas eleitorais, sofre muito. Além das despesas financeiras e dos recursos escassos, são assumidos compromissos difíceis de serem atendidos. Ademais ocorrem vexames, constrangimentos e gafes de toda ordem: comer alimentos indesejáveis, às vezes vencidos; beber cerveja quente; dormir dentro do veiculo estacionado num posto de gasolina; viajar em estradas perigosas e poeirentas; falar em comício sem microfone; etc. Não é fácil. Na minha época de candidato enfrentei várias situações desagradáveis, e ficava com uma pasmaceira incrível. A sorte é que possuía uma equipe solidária e amiga: o “marqueteiro” Zé Limeira(assessor para assuntos aleatórios) e o motorista Zé Bola. As campanhas eram cansativas, mas seguia a orientação do “marqueteiro”. Zé Limeira era uma figura popular e querida por muitos, principalmente pessoas ligadas ao futebol. Torcedor do Ferrim, fez dois livros contando lembranças e lambanças. Detalhe: não sabia ler e nem escrever. O primeiro livro foi prefaciado pela inesquecível Rachel de Queiroz e o segundo pelo “diputado” (como me chamava) Gonzaga Mota. Certa vez, em um comício, ele me comunicou que a mãe de um grande amigo havia falecido. Fomos direto para o velório. Entrei e me dirigi à capela nº 1. Rezei em torno do caixão e cumprimentei os familiares. Zé chegou no meu ouvido e disse que a falecida era outra. Fui à capela nº 2, a certa, e fiz o mesmo. Em seguida falou-me: “vamos na capela nº 3 buscar mais votos”. Disse-lhe não. Saí triste e constrangido pela enorme gafe. Eram campanhas quixotescas, ingênuas.

*Professor aposentado da UFC, escritor e ex-governador do Ceará 

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