ZENIT entrevista o jornalista Emílio Coutinho que recebeu nota máxima pelo seu trabalho de conclusão de curso que, agora virou um livro em busca de editora para publicação
Seu nome é Emílio Coutinho, de São Paulo, capital, e no final de 2015 formou-se em Jornalismo pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAM FAAM).
Em seu trabalho de conclusão de curso (TCC) resolveu sair do comum e já exercer o jornalismo, escrevendo um livro-reportagem sobre o mais famoso caso de erro jornalístico no Brasil: o Caso da Escola Base, ocorrido em 1994.
Até então só existia um livro totalmente dedicado ao caso, o de Alex Ribeiro, publicado no ano de 1995. Mas, diferente dele, Emílio resolveu fazer uma atualização do caso e ir atrás de cada um dos principais personagens envolvidos, 20 anos depois.
Após meses de intensa investigação, tensão e emoção, tudo foi descrito no livro, que foi aprovado pela banca formada por três doutores em jornalismo, recebendo nota máxima.
Agora ele tem em vista a publicação dessa obra, que com certeza interessa a estudantes de comunicação, profissionais, pesquisadores e público em geral. Todos eles, de uma forma ou de outra, acabam discutindo o emblemático Caso Escola Base, mas a bibliografia é pequena e o trabalho de Emílio é o mais atual.
Emílio Coutinho criou um portal para estudantes de jornalismo (www.casadosfocas.com.br) e seu email para contato é: casadosfocas@gmail.com
Abaixo uma entrevista que Emílio concedeu a ZENIT. Confira:
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ZENIT: O que o levou a escolher esse tema de TCC?
Emílio Coutinho: Quando chegou o período de escolher um tema para meu Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo procurei um tema que pudesse de alguma forma ajudar aos meus colegas de profissão à refletirem sobre a importância do trabalho do jornalista na sociedade e ao mesmo tempo no poder que muitas vezes temos de construir ou destruir reputações. O Caso da Escola Base se encaixava perfeitamente nesse meu objetivo. Pesquisei sobre ele e achei pouca coisa na internet. Além disso o único livro publicado até então tinha sido o do jornalista Alex Ribeiro, que em 1995, no ano seguinte ao caso, escreveu uma obra contando todo o ocorrido. Vi que eu poderia fazer uma atualização do caso, indo atrás de cada um dos principais personagens envolvidos e contando como estão e como foi a vida deles daquela época para cá.
ZENIT: Quais as principais dificuldades que você encontrou?
Emílio Coutinho: Dificuldades não faltaram. Não foi fácil encontrar os personagens dessa história. Conto no livro um pouco dos perrengues que passei para conseguir entrar em contato com cada um dos envolvidos. Cheguei inclusive a sofrer ameaças de pessoas que não queriam mais falar sobre essa história, mas meu papel como jornalista era dar espaço para todos apresentarem suas versões sobre os fatos, e foi o que fiz. Tive que viajar para o interior, visitar fóruns, delegacias, etc. À medida que os obstáculos iam sendo vencidos me motivava mais à não desistir desse trabalho.
ZENIT: Qual a principal lição que a imprensa deveria tirar de toda essa história?
Emílio Coutinho: Hoje em dia os jornalistas em geral falam sobre o caso como uma vergonha, algo que não devia ter acontecido, etc. Mas são poucos, infelizmente, que reconhecem que erraram. Atualmente, se analisarmos o noticiário diário, veremos outras “Escolas Bases”, outros inocentes sendo condenados injustamente pela própria imprensa. É triste, mas programas sensacionalistas que passam diariamente na televisão exploram muito isso. Esse pré-julgamento e condenação de “suspeitos”. O Caso da Escola Base, que é sempre lembrado nos bancos das faculdades de comunicação, é esquecido nas redações dos veículos de imprensa. Acredito ser necessário sempre recordar esse erro e tomar o máximo de cuidado para não condenar inocentes. Publicar fotos, endereço, nome completo, e outros dados de “suspeitos” é uma forma de incentivar a população a fazer justiça com as próprias mãos, principalmente em casos de crimes mais graves que envolvem menores de idade.
ZENIT: As pessoas, cujas imagens foram manchadas para sempre não recorreram à justiça para terem, pelo menos, ressarcimento moral?
Emílio Coutinho: Os donos da Escola Base recorreram à justiça contra a imprensa e a fazenda do estado de SP, mas vinte anos depois ainda existem processos em andamento. A imprensa errou, reconheceu publicamente que errou, mas no tribunal afirmou que estava apenas fazendo o seu trabalho narrando os acontecimentos. Entretanto o papel da imprensa não é simplesmente narrar, mas indagar, apurar, duvidar, ir atrás de provas antes de publicar uma matéria desse teor.
ZENIT? Na sua opinião, as vidas destruídas pela maledicência e calúnia conseguem se reerguer?
Emílio Coutinho: Pelo que pude sentir nas conversas que tive com os personagens do Caso Escola Base, o baque que sofreram foi muito grande e até hoje, duas décadas depois, ainda sofrem as consequências do episódio em todos os âmbitos: financeiro, familiar, psicológico, etc. Todos lutam ainda para se reerguer ou simplesmente para esquecer o ocorrido, mas aquilo os marcou profundamente. Alguns preferiram nem tocar no assunto que para eles não passou de um pesadelo.
ZENIT: Você já conseguiu uma editora para publicar o seu livro?
Emílio Coutinho: Estou em busca de uma editora para publicar essa obra que com certeza é de grande interesse para estudantes de comunicação de todo o Brasil, pois o Caso Escola Base é um exemplo do que não deve ser feito. As consequências daquelas matérias publicadas na imprensa foram trágicas e é isso que tento mostrar no livro da forma mais explícita possível.
ZENIT: Na sua visão o jornalismo deve servir para denunciar, como arma, como instrumento de verdade… como o que?
Emílio Coutinho: O jornalista tem um papel importante na sociedade. Ele não serve apenas para informar, mas para formar opiniões. Sempre que estiver exercendo o seu trabalho, ele deve recordar de que tudo o que fala ou escreve terá consequências nas vidas das pessoas. Portanto é necessário ter muita cautela ao divulgar uma informação. O desejo de fazer o bem através da sua profissão deve ser maior do que o de alcançar grandes números no ibope.
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O CASO ESCOLA BASE
No ano de 1994 duas mães acusaram os donos da Escola Infantil Base, na capital paulista, de terem abusado sexualmente de seus filhos. A acusação logo chegou aos ouvidos da imprensa, que abraçando a versão dessas mães, e sem ouvir o outro lado, publicou a história, que teve repercussão nacional. Resultado: a escola foi depredada, os donos sofreram torturas físicas e psicológicas, perderam todo o seu investimento, além de terem seus nomes, endereços e rostos divulgados nos principais veículos de comunicação do Brasil. Tudo isso ocorreu antes de qualquer prova concreta. As mães acusaram, a imprensa julgou e o público praticou a justiça com as próprias mãos. Alguns meses depois o caso foi arquivado por falta de provas e os acusados considerados inocentes pela justiça. Porém, o que poderia parecer o fim de um pesadelo na verdade foi apenas o início. Isso porque os acusados injustamente e expostos pela imprensa nunca tiveram suas reputações recuperadas. A vida de cada um deles mudou para sempre. O trauma ficou, junto com as dívidas e a falta de esperança. Duas décadas depois, resolvemos ir atrás dos principais personagens dessa trama.
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