terça-feira, 1 de março de 2016

Persona non grata

Por Lev Chaim*
A última do escritor britânico David Irving, hoje mais conhecido como o homem que nega a veracidade do Holocausto e que chama Hitler de um grande líder, foi tentar alugar uma suíte no Hotel Mercure de Haia, capital administrativa da Holanda, para uma conferência sobre Hitler, Himmler e os Homossexuais.   
Ao tomar conhecimento disto, tanto a prefeitura como organizações judaicas holandesas comunicaram o fato ao hotel, o que fez com que este estabelecimento rejeitasse a permanência deste senhor em suas dependências.   
As autoridades holandesas e todos por aqui respiraram mais aliviados com esta firme atitude da gerência do hotel Mercure de Haia. Ao fazer isto, a direção informou que não queria, de forma alguma, o seu hotel associado àquela controversa pessoa.   
Estranho é que não percebi manchete alguma do assunto nas televisões ou jornais holandesas, só na mídia social. Eu me pergunto: por que um homem como este, que teve um início de carreira promissora como escritor histórico, apesar de não acadêmico, tenha se enveredado por este caminho? Em 2005,  ele já havia sido condenado à prisão por um tribunal de Viena, justamente por negar em público a existência do holocausto. 
Como o assunto não teve desdobramentos, até agora ninguém sabe no que deu esta tentativa de David Irving de vir à Holanda para dar uma conferência. Nunca é demais recordar que este abjeto senhor, já em 2011, teve uma conferência sua, na Universidade de Amsterdã, cancelada de última hora, por pressão da prefeitura local.   
Fica cada vez mais claro que atrás de ações como esta, que se tornam cada vez mais frequentes, existe uma nítida intenção de se estabelecer um programa político para o renascimento do antissemitismo.
Trocando ideias com a minha ilustradora Marguerita Bornstein sobre o assunto, ela acabou me revelando que há alguns anos ela participou de uma exposição em Nova Iorque, Memória,  contra ideias nazistas. A caixa que vocês podem ver como ilustração deste texto, foi feito todinha a mão por ela e intitulada ‘Hitler in the box’. Ao apetar um botão, a cabeça e a mão de Hitler aparecem, querendo sair da caixa, mas não conseguem e são obrigados a voltar para dentro do box. A gravação que se ouve é da cantora Josephine Baker. A mãe de Marguerita foi prisioneira em Auschwitz e a sua avó foi assassinada no campo de concentração de Treblinka, ambos na Polônia.    
E o  que deu força recentemente à volta do revisionismo do Holocausto foi mesmo a Conferência Internacional sobre o assunto, patrocinada pelo Irã, país que nega até hoje a veracidade do massacre em massa de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial. E hoje em dia, esta sórdida tentativa de fazer ressurgir o antissemitismo e incentivar a descriminalização do nazismo foi engrossada pelo ‘falso’ apoio aos palestinos no Oriente Médio.   
Mas, uma pergunta permanece no ar: quem estaria financiando tudo isto? Muitos apontam para os turbantes radicais do Irã, já responsáveis pelo financiamento de grupos terroristas. Mas, existiriam outros financiadores? 
Por isto mesmo é que concordo a colocação de Renato Alencar Dotta, em seu artigo (‘a agenda política dos revisionistas’), para a revista digital  ‘História Viva’, quando ele perguntou: – estaria aqui também valendo a famosa citação do teatrólogo alemão, Bertold Brecht: “a cadela que deu à luz (ao nazismo) estaria no cio novamente?”

Hitler in the box - by Marguerita Bornstein.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.

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