domingo, 27 de março de 2016

PONTUAÇÃO: EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO...

José Olímpio de Sousa Araújo*

Como fato linguístico e cultural, a pontuação muda ao sabor das transformações tecnológicas; mudanças que tendem a acelerar com o advento e a supervalorização da Internet.

Alguns sinais vão perdendo o uso efetivo ou sendo substituídos. Dentre os que surgem, alguns rapidamente se consagram, como a barra ( / ). Outros ficam num uso  restrito; é o caso de vários sinais usados por internautas. E há os que não vingam, não tem consistência. Veja-se, por exemplo, o interrobang ( ). Segundo Úrsula Dubosarsky, no ensaio Pontuação?!... (revista Seleções Reader’s Digest, nov. 2008), este sinal foi patenteado por Martin Speckter, em 1962, com a pretensão de substituir o emprego simultâneo do ponto de interrogação e do ponto de exclamação.

Ora, as sequências ?! / !? indicam diferentes expressões, embora sutis, por terem os mesmos ingredientes pausal-melódicos. A primeira indica uma interrogação exclamativa, com ênfase na indagação; na segunda exprime, há também emoção e pergunta, mas, com o ponto de exclamação vindo primeiro, acentua a emoção (dúvida, surpresa, espanto, etc.). Não podem, pois, ser indicadas indiferentemente por um único sinal. Isto mostra que tal procedimento não tem aplicação prática.

Outro fato curioso está ocorrendo com o travessão. Lembremo-nos de que se usam (ou se usavam), na escrita, três traços horizontais de tamanhos desiguais: um menor para o hífen; um médio para o sinal de “menos”; e um maior para o travessão. No entanto, tem sido muito comum, na época atual, empregar-se o sinal de dimensão intermediária para o travessão. Mas, sobretudo nos jornais, vem-se usando apenas o hífen, quer no seu emprego próprio, quer em substituição ao travessão. Estará com os dias contados o sinal de travessão (—, o traço mais longo)? Entendemos isto como um procedimento deselegante e inadequado, imposto pela pressa, podendo trazer prejuízo à clareza do texto. Que fique pelo menos o traço intermediário como travessão, já seria de bom tamanho... E usemos o hífen somente como hífen. Afinal, estes sinais têm empregos bem distintos...

Assim, é preciso avaliar bem os novos sinais e procedimentos. Verificar se resultam de evoluções, proporcionando soluções adequadas, que venham aperfeiçoar a escrita, dando-lhe mais clareza; ou se não passam de invencionice inadequada,  involução, acarretando prejuízos ao nosso expressivo sistema de pontuação...

*Coautor dos livros “Desenvolvendo a habilidade de escrever” e “Ortografia Atualizada” / Secretário da Academia Metropolitana de Fortaleza.

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