domingo, 24 de abril de 2016

25 de Abril: Fátima é um «laboratório» na recomposição das vivências religiosas

Agência Ecclesia 23 de Abril de 2016, às 18:23      
Arlindo Homem/AE
Arlindo Homem/AE
Alfredo Teixeira analisa os reflexos da religiosidade mariana nas «trajetórias de modernização da sociedade» em Portugal após 1974

Lisboa, 23 abr 2016 (Ecclesia) – O teólogo e antropólogo Alfredo Teixeira disse à Agência ECCLESIA que Fátima não é “produto de uma construção política”, conheceu uma “expansão” após o 25 de Abril e tornou-se num “laboratório das recomposições do religioso na sociedade”.

Em entrevista publicada na última edição do Semanário Ecclesia, Alfredo Teixeira afirmou que Fátima faz o “transporte daquilo que eram as vivências religiosas tradicionais no mundo português para aquilo que são as trajetórias de modernização da sociedade portuguesa e está, claramente, no centro desse transporte”.

Ao analisar as transformações na sociedade portuguesa nas últimas três décadas do século XX, nomeadamente na âmbito religioso, o professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP) refere que Fátima “afirmou-se com uma centralidade no país” incomparável a qualquer outra proposta católica.

Alfredo Teixeira considera que a passagem para “um quadro de pluralismo” após 1974, onde é mais notória a “separação entre a esfera religiosa e a esfera secular”, não se observa uma “erosão do fenómeno de Fátima”, o que mostra que não era “produto de uma construção política”, que fazia corresponder a “identidade católica” à “identidade dos portugueses”

“O que observamos foi o contrário, foi uma certa expansão de uma afirmação no país e na cena internacional, muito vincado pela relação que obviamente João Paulo II e o seu pontificado estabeleceram com Fátima”, observou.

Alfredo Teixeira observa que Fátima encontrou um “terreno de afirmação” num contexto de liberdade, sobretudo “das liberdades individuais”.

Para Alfredo Teixeira, a “destradicionalização”e “individualização” religiosa que acontece após Abril de 1975, tem em Fátima a referência central, onde a individualização da experiência crente e a afirmação de novas formas de vivência comunitária conhecem uma nova reconfiguração, que corresponde também à “fragilização das dimensões comunitárias” da fé.

De acordo investigador do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP, a “característica fundamental de Fátima é estar disponível para múltiplas apropriações por parte dos crentes”.

“Temos um universo de relação com Fátima que passa muito pelos dispositivos paroquiais, pelos movimentos, todas as grandes estruturas que organizam a vida católica normalmente têm alguma relação com Fátima. Depois temos uma diversidade enorme de relações construídas desde o tradicional pagador de promessas ao movimento recente de grupos que fazem a peregrinação a pé no quadro de uma experiência espiritual, individual e grupal ao mesmo tempo”, acrescentou.

“São fenómenos novos que dão conta de uma plasticidade que se adapta bastante aquilo que são os ritmos de identificação religiosa hoje”, sustentou Alfredo Teixeira.

O teólogo e antropólogo Alfredo Teixeira analisa na última edição da revista ‘Communio’ as transformações religiosas que aconteceram em Portugal no contexto do 25 de abril de 1974 num artigo intitulado ‘A Revolução de abril num contexto de mudança religiosa. Destradicionalização e individualização’.

A entrevista com o professor da Faculdade de Teologia da UCP está publicada na última edição do Semanário Ecclesia e vai ser emitida no programa 70x7 deste domingo, na RTP2, pelas 13h30.

PR

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