segunda-feira, 11 de abril de 2016

«A Alegria do Amor»: Exortação pós-sinodal propõe valorização da «dimensão erótica»

Agência Ecclesia 08 de Abril de 2016, às 11:00  
      
Papa adverte para discurso com atenção «quase exclusiva» na procriação

Cidade do Vaticano, 08 abr 2016 (Ecclesia) – A exortação apostólica do Papa Francisco com as conclusões do Sínodo da Família, divulgada hoje, propõe uma valorização da “dimensão erótica” do amor conjugal na reflexão da Igreja.

“Não podemos, de maneira alguma, entender a dimensão erótica do amor como um mal permitido ou como um peso tolerável para o bem da família, mas como dom de Deus que embeleza o encontro dos esposos”, refere, no documento que tem como título ‘Amoris laetitia’ (A Alegria do Amor).

Francisco assinala que a “união sexual”, no Matrimónio, é vista pela como “caminho de crescimento na vida da graça para os esposos”.

Nesse sentido, questiona a apresentação que é feita pelos responsáveis católicos, com “uma ênfase quase exclusiva no dever da procriação” que acaba por ofuscar “o convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua”.

A exortação pós-sinodal deixa uma rejeição de qualquer forma de submissão sexual e questiona um “ideal de matrimónio” apenas como “doação generosa e sacrificada, onde cada um renuncia a qualquer necessidade pessoal e se preocupa apenas por fazer o bem ao outro, sem satisfação alguma”.

O Papa rejeita ainda “correntes espirituais que “insistem em eliminar o desejo para se libertar da dor”.

“A sexualidade não é um recurso para compensar ou entreter, mas trata-se de uma linguagem interpessoal onde o outro é tomado a sério, com o seu valor sagrado e inviolável”, escreve.

Francisco convida os casais a “cuidar a alegria do amor”, o que permite “encontrar prazer em realidades variadas” e nas várias fases da vida, dando "real importância ao outro".

“A ternura é uma manifestação deste amor que se liberta do desejo da posse egoísta”, pode ler-se.

O texto apresenta uma reflexão acerca da “transformação do amor”, sublinhando que o aumento da esperança média de vida leva a que “a relação íntima e a mútua pertença” sejam mantidas “durante quatro, cinco ou seis décadas”, o que “gera a necessidade de renovar repetidas vezes a recíproca escolha”.

“A aparência física transforma-se e a atração amorosa não desaparece, mas muda: com o tempo, o desejo sexual pode transformar-se em desejo de intimidade e ‘cumplicidade’”, assinala Francisco.

O Papa admite que não é possível prometer “os mesmos sentimentos durante a vida inteira”, mas defende ser viável ter “um projeto comum estável”.

“Na própria natureza do amor conjugal, existe a abertura ao definitivo”, realça.

O documento adverte para as consequências do afastamento dos membros do casal: “Pouco a pouco, aquela que era ‘a pessoa que amo’ passa a ser ‘aquele que me acompanha sempre na vida’, a seguir apenas ‘o pai ou a mãe dos meus filhos’, e por fim um estranho”.

Os temas da família estiveram no centro de duas assembleias do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2014 e 2015, por decisão do Papa Francisco, antecedidas por inquéritos enviados às dioceses católicas de todo o mundo.

OC

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