Instrumento de doação de vida de Jesus para a nossa salvação e redenção.
Por Dom Vital Corbellini*
1. Bendito o que vem em nome do Senhor
Alguns padres da Igreja se detiveram sobre a cruz do Senhor para se chegar à glória da ressurreição. Ninguém nega a sua dramaticidade, no entanto foi o instrumento de doação de vida de Jesus para a nossa salvação e redenção. Ela aponta-nos para a ressurreição do Senhor. Dessa forma é fundamental ver esses dados nos escritores dos primeiros séculos do cristianismo.
Nós encontramos referências com Beda(Monge Inglês, historiador do século VII-VIII dC), o Venerável, o qual comenta o valor da cruz. Jesus Cristo irá para Jerusalém para não fugir da missão de dar a vida por todos, onde Ele passará por sofrimentos, não deixando também que as pessoas o proclamassem rei, com hinos dignos do Filho de Deus e do rei, da qual Ele não mandou calar as pessoas que cantaram a restauração nele do patriarca Davi e a conquista da primitiva benção. Por qual motivo Jesus acolheu com alegria as coisas que antes recusou? Para Beda, Jesus Cristo está por sair do mundo, através da paixão da cruz. Ele quer nos ensinar abertamente que é rei de um império que não é temporal e terreno, mas eterno nos céus e este o alcançará com a vitória sobre a morte, com a glória da ressurreição e o triunfo da ascensão. Por isso, aparecendo aos seus discípulos após a ressurreição diz: Foi-me dado todo o poder nos céus e na terra (Mt 28,18).
2. A cruz, nossa glória e nossa força
São João Crisóstomo fala que nenhum envergonha-se dos sinais sagrados e veneráveis da nossa salvação, da cruz que é o vértice dos nossos bens, pela qual vivamos e somos aquilo que somos. Por ela chegou Jesus à glória da ressurreição. Na realidade a cruz para o Senhor era uma espécie de trono.
Carregamos a cruz de Cristo como uma coroa. Quando nós somos regenerados pelo batismo, a cruz é presente; se nos alimentamos daquele místico alimento que é o corpo de Cristo, se nos vem impostas as mãos para ser consagrados ministros do Senhor, e qualquer outra coisa façamos sempre, em toda a parte nos está junto e nos assiste este símbolo de vitória. Disto decorre o fervor com o qual nós o conservamos nas nossas casas, o pintamos sobre as nossas paredes, o colocamos sobre as portas, o imprimimos sobre a nossa fronte e nossa mente, o carregamos sempre no coração.
3. A cruz sinal de misericórdia e de amor
São João Crisóstomo também diz que a cruz é o sinal da nossa salvação e da comum liberdade do gênero humano, é o sinal da misericórdia do Senhor que por amor a nós se deixou conduzir como ovelha ao matadouro(cfr. Is 53,7; At 8,32). Quando pois fazes este sinal, lembra todo o mistério da cruz, apague em ti a ira e outras paixões. O próprio São Paulo afirma que para elevar-nos à liberdade que nos convém, lembra a cruz e o sangue do Senhor: Por um elevado preço fostes comprados. Não vos torneis, pois, escravos de seres humanos( 1 Cor 7,23). Dessa forma ele diz que não teve algum preço que pudesse nos livrar da escravidão senão a morte de Cristo Jesus na cruz, para nos ver livres da escravidão do pecado, da morte e chama a cruz o preço da vitória.
4. Os sentimentos da nossa debilidade
Leão Magno fala da solidariedade dos sofrimentos de Jesus em relação a toda a humanidade. Sabendo que estava chegando o tempo no qual devia cumprir-se a sua gloriosa paixão, disse que a sua alma estava triste até a morte(cfr. Mt 26,38) e ainda: Pai, se era possível que afastasse dele aquele cálice(cfr. Mt 26,39). Com estas palavras que manifestam um certo medo, compartilhava Jesus os sentimentos da nossa debilidade e com isso eliminava o temor do castigo. O Senhor tremia em nós com o nosso medo assumia a nossa debilidade, revestindo a nossa instabilidade com a solidez da sua força. A ressurreição dará sentido aos sofrimentos da paixão.
5. A participação dos sofrimentos da nossa condição mortal para curá-los
Leão Magno segue os apóstolos João e Paulo em relação aos sofrimentos de Cristo Jesus. Deus amou tanto o mundo de doar o seu único Filho para que todo aquele que crê nele não morra, mas tenham a vida eterna(cfr. Jo 3,16) e do apóstolo Paulo: Cristo nos amou e deu a si mesmo por nós a Deus em sacrifício de suave odor(cfr. Ef 5,2). Para salvar os seres humanos por meio da cruz de Cristo, comum era a vontade do Pai e do Filho, comum era o desígnio de salvação e não podia ser alterado por nenhuma consideração quanto foi estabelecido antes mesmo dos séculos eternos. Aquele que assumiu todo o ser humano em verdade fez seus também as sensações do corpo e os sentimentos da alma. Ele foi desprezado na nossa baixeza, crucificado em nossa dor. A misericórdia carregou os sofrimentos da nossa condição mortal para curá-las; o seu poder os acolheu para vencê-los. Dessa forma a sua ressurreição levará a termo pleno a sua doação na crucificação por amor a toda a humanidade.
A cruz possui o seu valor de reconciliação e de amor por cada um de nós, e pela humanidade. Nós seguimos a Jesus Cristo que carregou a cruz para a nossa salvação para assim chegar à glória da ressurreição. Pela cruz que carregamos com Cristo e com as pessoas queremos um dia chegar também à glória de ressuscitados com o Senhor.
CNBB, 30-03-2016.
*Dom Vital Corbellini: Bispo de Marabá (PA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário