Fernando Notari
Do UOL, em São Paulo 29/04/201
Jorge romero/AFP
Em 2011, a presidente Dilma Rousseff e o então presidente paraguaio Fernando Lugo se reúnem em Assunção
A comparação entre o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) e o impedimento do ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo, em 2012, já provocou uma crise diplomática entre os dois países.
O termo "golpe democrático à paraguaia", que teria sido usado por Dilma em outubro do ano passado, deixou o governo paraguaio insatisfeito e levou o governo brasileiro a negar que a presidente tenha feito tal de declaração.
Com o apelo feito por Dilma na semana passada para que Mercosul e Unasul (União de Nações Sul-Americanas) acompanhem "o golpe que está em curso no Brasil" e levando em conta que as nações sul-americanas consideraram que houve "ruptura da ordem democrática" no Paraguai, em 2012, e decidiram pela suspensão temporária do país dos blocos, a reportagem procurou especialistas para avaliar se há semelhanças ou diferenças entre os dois processos.
A oposição e o vice-presidente Michel Temer têm procurado afirmar para a opinião pública internacional que o processo não se trata de um "golpe".
Semelhança: minoria parlamentar
Como Dilma, Lugo não tinha maioria no Congresso e seu governo estava paralisado no momento em que houve seu impedimento. "Ele tinha 3% de apoio", afirma o cientista político e economista Ricardo Sennes, coordenador-geral do Gacint/USP (Grupo de Análise de Conjuntura Internacional).
No caso brasileiro, o governo perdeu a eleição da presidência da Câmara no início do segundo mandato. Quando o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados com 267 contra 136 do candidato do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). E a partir de então, a oposição provocou uma série de derrotas, como no caso da redução da maioridade penal ou da terceirização dos funcionários de empresas em atividades-fim.
Semelhança: relação conflituosa com o vice
O presidente do Paraguai tinha em Federico Franco, o vice-presidente eleito pela sua chapa, membro do Partido Blanco, um adversário político. Logo depois da eleição, Franco e o partido racharam com o mandatário e se afastaram. Apesar de o PMDB ter desembarcado formalmente do governo Dilma às vésperas da votação do impeachment na Câmara, Michel Temer, vice da petista, nunca foi considerado um aliado da mandatária.
Diferença: crise econômica
Diferentemente do caso brasileiro, o Paraguai de Lugo não estava em crise econômica. "Dilma está em uma retração cavalar, uma crise raramente vista na história do país", afirma Sennes.
Semelhança: questionamento ao crime
No Paraguai, o principal fator jurídico a motivar o impeachment de Lugo se deu na responsabilização do ex-presidente pelas 17 mortes decorrentes de um conflito entre policiais e sem-terra, episódio conhecido por "Massacre de Curuguaty". Apoiadores de Lugo contestam sua culpabilização pelo ocorrido, argumento endossado por Wagner Iglesias, professor do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP (Universidade de São Paulo).
"Deveria recair culpa, talvez, sobre as autoridades locais", avalia Iglesias. "A impressão que dá é que procuravam pretexto para tirá-lo do poder". O professor lembra que o ex-presidente, à época, sinalizou com uma "pequena reforma agrária". "Paraguai é um país de grandes proprietários rurais, isso incomodou muito".
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