domingo, 10 de abril de 2016

Histórias interligadas conduzem 'Zoom'

Com histórias de narrativas e estéticas muito diversas entre si, que Pedro Morelli estrutura 'Zoom'.


Cena do filme
Cena do filme "Zoom", do diretor Pedro Morelli.
Por Nayara Reynaud
Metalinguagem elevada ao cubo. É assim, com três histórias de narrativas e estéticas muito diversas entre si, mas todas interligadas, que Pedro Morelli estrutura “Zoom”, praticamente seu debut em longas-metragens. O jovem cineasta codirigiu “Entre Nós” (2013) com o pai, Paulo Morelli, que apenas produz este novo trabalho do filho.
Porém, é aqui que Pedro ganha voz própria enquanto realizador, ou, pelo menos, tenta. Ainda que seja uma resposta para aqueles que pedem mais inventividade e diversidade ao cinema nacional, esta coprodução Brasil-Canadá é, de fato, uma coleção divertida, mas irregular de retalhos de influências recicladas pela direção e ideias subutilizadas no roteiro.
Misturando a narrativa já conhecida por “Mais Estranho que a Ficção” (2006) com o caos interdimensional da série “Sense 8” (2015-), a ligação de cada trama com as outras fica mais clara com o passar do tempo, até que a interferência de um protagonista sobre o destino de outro vai aumentando sensivelmente e foge de controle. O looping infinito de influências é o seu diferencial, mas não é capaz de sustentar por si só o longa.
Exibido no ano passado no Festival de Toronto e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a produção começa apresentando a história de Emma (Alison Pill). Quadrinista insatisfeita com seu próprio corpo, particularmente com seus seios, a designer trabalha modelando bonecas infláveis em uma pequena fábrica, onde mantém um relacionamento com o colega Bob (Tyler Labine). Com um estilo característico dos filmes indies norte-americanos, o segmento da atriz canadense é o que funciona melhor e cujo humor agrada mais, mesmo quando sua trama passa a perder todo sentido.
É a partir dele que se introduz a parte capitaneada por Gael García Bernal, totalmente de forma animada. O astro mexicano encarna o cineasta Edward, que deseja seguir novos rumos na carreira, empregando um caráter autoral ao seu novo trabalho. Ao mesmo tempo, enfrenta as pressões do estúdio à procura de mais um blockbuster, além de uma drástica redução peniana que abala sua confiança.
A trama é pobre e até de gosto duvidoso, mas tais fatores são atenuados pela clara intenção de satirizar Hollywood e o machismo que subjuga os próprios homens e pelo ótimo visual obtido pela trabalhosa animação em rotoscopia, com influência declarada de “Waking Life” (2001) de Richard Linklater.
Paralelamente, o espectador conhece o drama de Michelle, uma modelo tentando ser romancista. Vivida por Mariana Ximenes, a moça é desestimulada pelo marido (Jason Priestley) e procura paz e inspiração literária ao voltar ao Brasil, em sua estadia na pousada de Alice (Claudia Ohana).
A direção over de um filme de arte vazio, com sucessão de planos holandeses e até giros e inversões de câmeras numa fotografia solar diferenciada, empregada por Adrian Teijido no segmento, só é justificada narrativamente mais à frente. Mas a parca construção dos personagens e a falta de empatia gerada pelo rebuscamento intencional a enfraquecem.
O script do novato Matt Hansen dilui seu subtexto do culto ao corpo sem a sagacidade de Charlie Kaufman, em quem declaradamente se inspira, para ir além em suas próprias ideias e na crítica aos padrões de beleza. O roteiro, assim como a direção, não consegue fugir dos problemas típicos dessas tramas múltiplas, sendo que a mais prejudicada é justamente a protagonizada pela estrela brasileira, por conta de suas falhas intrínsecas.
Reuters

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