A presidente Dilma certamente não reverterá um só voto contrário a ela no Senado. Não vai melhorar em nada a sua situação. Mas vai piorar, e muito, a situação dos que se preparam para assumir o seu lugar, antes do tempo regulamentar, diga-se, como convém a gente desse jaez.
Temer e Celso de Mello já acusaram o golpe. (Cunha não, pois pessoas com seu perfil não se importam muito ou quase nada com a opinião que outros têm a seu respeito.)
O vice e o decano do STF, no entanto, que são daqueles que “zelam pela sua biografia” estão em polvorosa. E as suas respectivas biografias, depois dessa viagem, serão escritas em tintas de coloração marrom. O que os editoriais dos maiores jornais do mundo dirão não está em nenhum gibi.
A imprensa de Nova York já tinha dedicado páginas no mínimo sarcásticas aos acontecimentos de Brasília, mas a visita de Dilma será um prato cheio. O Brasil está sob holofotes não só por ser a potência econômica que é (não importa a recessão, que é passageira), mas por sediar a próxima Olimpíada.
Ferida como está, Dilma não vai economizar papas na língua ao descrever o que estão aprontando com ela. O mais grave nem será definir que é vítima de um golpe, mas sim que é vítima, sem ser acusada de nenhum ato ilícito, de um bando de ladrões escancarados, chefiados por um presidente da Câmara que é, por enquanto, réu por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, mas que caminha celeremente para ser muito mais, o que é inadmissível por lá. (Aqui ele é ainda o herói do baixo clero e principal fiador do “governo” Temer.)
No atual momento dos Estados Unidos, onde corruptos são presos seja de qual extrato social ou político forem as declarações da presidente vão produzir um escândalo internacional não só entre os políticos, o público em geral, que lê jornais e não tem a cabeça feita pela Globo, mas sobretudo entre os investidores de Wall Street, que vão ficar com a pulga atrás da orelha: é essa gente que vai cuidar do nosso rico dinheirinho que suamos tanto para ganhar? Talvez seja melhor tirá-lo de lá!
Para piorar, o país está em campanha presidencial. Um dos candidatos é um bilionário fanfarrão, mas que jamais vai defender o grupo que está prestes a substituir Dilma. E uma das candidatas é mulher, ainda por cima. Estarão eles dispostos a reconhecer um novo governo tão comprometido com assaltos não só ao poder, mas aos cofres públicos? Algum deles estará disposto a receber Temer e apertar sua mão? Ou reconhecer o novo governo?
A mensagem que Dilma vai passar é: quando me derrubarem vocês vão conviver com um bando de gente que não é nada confiável! E com a conivência da Suprema Corte do país. E vai dizer isso num país que prendeu, sem nenhum alarde, mas com muita eficiência o notório José Maria Marin. Ou seja, o que Dilma disser não será novidade e não será colocado em dúvida, pois a fama dos políticos brasileiros já é conhecida.
A opinião pública americana (que não faz passeatas dominicais na avenida Paulista em frente a um pato amarelo) e a internacional vão ficar no mínimo indignadas e perplexas, não só com os políticos liderados por Michel Temer, que acobertam o delinquente Eduardo Cunha e são, portanto, seus cúmplices. O escândalo maior será sintetizado numa pergunta inevitável: como a Suprema Corte permite isso?
Daí o medo de Celso de Mello, para quem é muito grave a presidente denunciar um golpe em Nova York. Claro que é grave, mas para ele e seus pares que fazem cara de paisagem para quem deveria fazer companhia a Marin em Nova York, fechado entre quatro paredes.
Vai ser um fim de semana muito desagradável para os golpistas, apesar do feriadão e do dolce far niente que esperavam curtir.
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