Um olho e braços e pernas nos inarredáveis afazeres domésticos. O outro olho e parte da atenção no pequeno, travesso inocente, a espaldar-se no também diminuto quintal.
— Este poço é perigoso, meu filho... Não se aproxime dele! Ouviu?...
A louça do café lavada e posta num canto da pia, cobertos por um pano de prato. O feijão ferve, escumando na panela encardida. Tira o arroz pra lavar. Corta a verdura. Ainda falta varrer e arrumar a casa. Já é mais de dez horas... Virgem Mãe! Esse tempo corre ligeiro demais...
— Meu Deus, o João Lucas!...
Pressentimento doloroso de mãe... Ainda vislumbrou o pequeno corpo escorregando poço adentro. O grito e o tibungo.
— Minha Nossa Senhora de Fátima... Valei-me, Mãe Poderosa!!
A prece e a imediata ação. A incrível rapidez de chegar à boca do poço, o pulo, a tempo de pegar o filho e sustentar-se, atravessada e toda esticada, pés, uma das mãos e cabeça, a segurar-se às bordas das paredes, providencialmente esburacadas...
— Chore não, filhinho... Nossa Senhora vai nos salvar!
Só Deus sabe de onde uma mãe tira tanta coragem, força, jeito, fôlego e fé, numa situação assim... Não sabe como conseguiu e quanto tempo passou naquele esforço supremo. Sabe — disto não tem dúvida — alguém os amparou. Não pensou em mais nada. Não viu mais nada...
Homens de uma construção vizinha viram a queda e o pulo, e correram a tempo de salvar vítima e heroína, desfalecida. Mas firme com o pequeno colado ao se corpo, seguro por um dos braços.
*O Prof. Olímpio Araújo é coautor dos livros “Desenvolvendo a habilidade de escrever” e “Ortografia Atualizada” / Secretário da Academia Metropolitana de Fortaleza.
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