Francisco, o filho de imigrantes, tem um «sonho» para a «mãe Europa»
Agência Ecclesia 06 de Maio de 2016, às 12:24
Cidade do Vaticano, 06 mai 2016 (Ecclesia) - O Papa recebeu hoje no Vaticano o prémio internacional ‘Carlos Magno’ 2016 e apresentou no seu discurso de agradecimento o “sonho” de um “novo humanismo” europeu.
“Sonho com uma Europa jovem, capaz de ainda ser mãe: uma mãe que tenha vida, porque respeita a vida e dá esperanças de vida. Sonho com uma Europa que cuida das crianças, que socorre como um irmão o pobre e quem chega à procura de acolhimento, porque já não tem nada e pede abrigo”, disse Francisco, após ser distinguido pela cidade alemã de Aachen.
O atestado do prémio, lido na Sala Regia do Palácio Apostólico do Vaticano, sublinha o “compromisso extraordinário” do Papa “em favor da paz, da compreensão e da misericórdia numa sociedade europeia de valores”.
Francisco, cujos pais eram imigrantes italianos na Argentina, apresentou-se como “um filho que reencontra na mãe Europa as suas raízes de vida e de fé”.
“Sonho com uma Europa que escuta e valoriza as pessoas doentes e idosas, para que não sejam reduzidas a objetos de descarte, porque são improdutivas. Sonho com uma Europa onde ser migrante não seja delito, mas apelo a um maior compromisso com a dignidade de todos os seres humanos”, prosseguiu.
O Papa pediu que os europeus promovam os valores da honestidade, a beleza da cultura e de uma “vida simples”.
Francisco desejou depois uma Europa onde “casar e ter filhos sejam uma responsabilidade e uma alegria” e não um problema “criado pela falta de trabalho suficientemente estável”.
“Sonho com uma Europa das famílias, com políticas realmente eficazes, centradas mais nos rostos do que nos números, mais no nascimento dos filhos do que no aumento dos bens”, precisou.
A intervenção manifestou preocupações com o enfraquecimento projeto europeu que nasceu após as duas Grandes Guerras e a perda progressiva de relevância do continente no cenário internacional.
Sonho com uma Europa que cuida das crianças, que socorre como um irmão o pobre e quem chega à procura de acolhimento
“Que te aconteceu, Europa humanista, paladina dos direitos humanos, da democracia e da liberdade? Que te aconteceu, Europa terra de poetas, filósofos, artistas, músicos, escritores?”, perguntou.
O Papa quis dedicar o prémio que recebeu à própria Europa, com votos de um “novo e corajoso impulso a este amado Continente”.
Francisco defendeu que os vários Estados devem evitar fechar-se nos seus “egoísmos” e “interesses”, com alertas para uma Europa que se vai “entrincheirando”.
O Papa evocou o seu discurso no Parlamento Europeu, em novembro de 2014, em que falou de uma “Europa avó”.
O pontífice argentino propôs uma atualização da “ideia de Europa”, uma Europa “capaz de dar à luz um novo humanismo baseado sobre três capacidades: a capacidade de integrar, a capacidade de dialogar e a capacidade de gerar”.
Entre os presentes estavam os presidentes da Comissão, do Parlamento e do Conselho Europeus - respetivamente, Jean-Claude Juncker, Martin Schulz e Donald Tusk -, bem como a chanceler alemã Angela Merkel, antiga vencedora do prémio.
A audiência incluía ainda chefes de Estado e de Governo como o rei Filipe VI, de Espanha; o grão-duque do Luxemburgo, Henrique; a presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaité; e o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi.
O Prémio Carlos Magno foi estabelecido em 1949, após a II Guerra Mundial; a distinção, considerada como uma das mais importantes na Europa, tinha sido outorgada ao Papa São João Paulo II, em 2004.
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