terça-feira, 3 de maio de 2016

O IMORTAL DEZINHO LEMOS

Olímpio Araújo
O escritor José Lemos de Carvalho (Dezinho Lemos) nasceu em Mombaça, aos 3 de junho de 1929. Foi agricultor até os 25 anos de idade. Foi funcionário público com 35 anos de serviço, tendo exercido a chefia da Residência Agrícola de Mombaça de 1956 até 1973. Só com 37 anos de idade fez o Exame de Admissão ao Ginásio, (para ingressar na 5.ª série, hoje  6º ano do Ensino Fundamental). Após terminar o Cientifico (Ensino Médio), ainda passou oito anos sem poder estudar por falta de recursos financeiros, concluindo a faculdade (bacharelado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará), aos 60 anos incompletos.

Apaixonado pela literatura de cordel, diz que aprendeu a ler, com os versos Donzela Teodora, Canção de Fogo, Pavão Misterioso, dentre outros. Isto o levou a descobrir que era poeta e começou a escrever. São de sua autoria os seguintes cordéis: Quatro horas de agonia; Vaquejada sertaneja; Criação do mundo (baseado no Livro de “Gênesis”); Cem anos de República; Do  paraíso até a nossa geração; Por que sou escritor; Terço em comunidade, A Santíssima trindade, Em louvor à Maria Santíssima; A Morte de Mário Eugênio e A juventude humilhada. Também é autor dos seguintes livros: Mombaça-Ceará e seu encontro familiar (premiado pela Casa Juvenal Galeno como livro do século); Saga de Umbelino – um soldado brasileiro na 2.ª Guerra Mundial; Cooperando (1.º Prêmio de Literatura Popular, Poesia de Cordel Revista literária de cultura do Ceará); Salvação do Brasil (uma coletânea de cartas publicadas pelo jornal O Povo). Compôs o hino do Município de Mombaça, e o da AMLECE (este em parceria com Francimar de Castro). 

Seus escritos (versos, crônicas e cordel), eivados da autêntica religiosidade sertaneja, mostram uma linguagem direta e coloquial, porém viva e expressiva, características da boa e sempre agradável literatura de cordel. Realça os elementos de uma narrativa linear, repleta de sutilezas e sensibilidade poética, a par do engajamento nas lutas sociais. Principais bandeiras: o desarmamento, a criação de penitenciárias agrícolas para os criminosos e os educandários agrícolas para os menores infratores. Veja-se, por exemplo, nestes versos do cordel “Acreditamos na Justiça de Deus! Clamamos pela Justiça dos Homens” (que narra o frio assassinato de dois jovens, seus conterrâneos, por um oficial militar):

E as nossas autoridades
Querem manter o povo armado
E para andar livremente
Basta dinheiro somente
Seja cidadão ou errado.

Penitenciária agrícola
Seria boa solução
Tiraria o homem da cadeia
Fazia dele um cidadão
Menino na horticultura
E homem em outra cultura
Plantando milho e feijão.

Educandário agrícola
Era a grande solução
Tirando os menores daqui
Levando para o sertão
Iam viver com a natureza
E cresciam com certeza
Cada um mais cidadão.

Foi convocado para a Academia Celeste no dia 3 de maio de 2015. Cercado do merecedor carinho da esposa, D. Iolanda, de seu filho Dezilando e de outros familiares, conterrâneos, e dos acadêmicos da AMLEF. Para os que têm espírito cristão, com certeza, e para nós acadêmicos, Dezinho Lemos é imortal: poeta popular, foi homem de grade alma e coração, semeador de amor, fé e  justiça.

Sem dúvida, a obra que mais o orgulhava foi a fundação da Academia Municipalista de Letras do Estado do Ceará, em 2005, que deu origem a uma das arcádias mais produtivas do nosso Estado: a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF). 

E, ao completar o primeiro ano de saudade, unimos nossas palavras à família e aos amigos, para agradecer ao Senhor a felicidade de termos convivido com este homem de bem, em cujos lábios nunca faltou o riso e o bom-humor, no aplauso ou no protesto. E lá, junto a Deus, seus anjos e santos, nos incentiva a continuidade da lida literária, quem sabe, suavemente exclamando: VIVA A AMLEF!!
*Coautor dos livros “Desenvolvendo a habilidade de escrever” e “Ortografia Atualizada” / Secretário da Academia Metropolitana de Fortaleza. 

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