sexta-feira, 17 de junho de 2016

Eleição já é a saída

Se queremos escapar do atoleiro que nos espreita, precisamos de um governo que se construa sobre novas bases. E só a voz das urnas é capaz disso
Eleição (Foto: Arquivo Google)

16/06/2016 - 11h05
Flávio Henrique Lino, O Globo

Alguém já disse que o Brasil é o único país que vai direto da barbárie à decadência sem nunca passar pelo apogeu. O vaticínio dá sinais de estar se materializando. Durante uns poucos anos, alcançadas a democracia e a estabilidade econômica, chegou a parecer que a maldição não se cumpriria.

Dois partidos mais progressistas — PSDB e PT — assumiram o poder e, finalmente, pudemos crer que uma sociedade mais justa era possível. Infelizmente, a realidade se impôs, e agora vemos que subestimamos a capacidade de reação de uma oligarquia parasitária que jamais pensou em recuar de seus privilégios.

E com a Lava-Jato atirando em todas as direções, nos damos conta também de como os porta-vozes daquela “visão progressista” nos traíram, usando o cargo público como um pé de cabra para o acesso fácil e voraz a riquezas que deveriam ser de todos. A cada dia uma manchete mais estarrecedora surge.

Dá medo pensar no tamanho do assalto ao Estado pelos que deveriam ser seus guardiões. Mas mais do que indignação, dá tristeza. De saber que, enquanto somos saqueados, o país vê passar pela janela, outra vez, a oportunidade de encontrar seu rumo.

Numa época de aceleração da economia do conhecimento, quem não tomar o bonde agora arrisca-se a ficar para trás por gerações, atolado num subdesenvolvimento crônico. Tragicamente, pode ser o caso do Brasil.

Já perdemos a viagem em 1822, 1889, 1930, 1945 e 1985. E o futuro do país do futuro foi ficando cada vez mais distante, com as oligarquias manobrando para que tudo permaneça igual.

Os sinais da decadência estão aí: a cúpula política da nação sob risco de prisão por corrupção; ministros caindo logo após a posse — e outros se mantendo por puro desespero do presidente interino, acuado pelas mesmas mazelas que afastaram sua antecessora; líderes neogovernistas e neo-oposicionistas na mira da Justiça...

Nada que se pareça com uma elite governante. A única luz no fim do túnel, que não é a panaceia para todos os males, mas é, sim, a semente de uma nova visão de país, são a Lava-Jato e outras operações anticorrupção em curso. Se forem adiante, serão nossa nova chance de pegar o bonde que já se afasta outra vez.

Por isso, Sarney teme a “ditadura da Justiça”, pois ela é cega e não enxerga seus galardões de imortal nem os privilégios que ele e outros donatários da nossa “República” construíram para si próprios. E é por isso que o melhor para o país seriam eleições gerais já.

Ao governo Temer, formado por muitas das mesmas figuras sinistras que nos levaram à atual situação, falta legitimidade para conduzir-nos no grave período de incerteza atual. E sobre elas paira ainda a suspeita de maquinações contra a Lava-Jato, no que contam com apoio de grande parte da carcomida classe política, apavorada com a aplicação do republicano princípio de que todos são iguais perante a lei.

Se queremos escapar do atoleiro que nos espreita, precisamos de um governo que se construa sobre novas bases. E só a voz das urnas é capaz disso.

Eleição (Foto: Arquivo Google)
Flávio Henrique Lino é jornalista

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