domingo, 26 de junho de 2016

Festas Juninas

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Festejos são expressão da obra divina realizada em figuras magníficas da tradição cristã.
A religiosidade popular se expressa nas festas juninas de forma tão humana e bela, simples e rica.
A religiosidade popular se expressa nas festas juninas de forma tão humana e bela, simples e rica.

Por Dom Jaime Spengler*

O mês de junho é marcado pelas festas juninas. Em muitas cidades de nosso imenso Brasil, o povo costuma se reunir para festejar Santo Antônio, São João Batista, São Pedro e São Paulo. 

Durante este mês, acontece um fenômeno natural interessante: temos, no hemisfério sul, o dia mais curto e a noite mais longa do ano e no hemisfério norte, o contrário: o dia mais longo e a noite mais curta do ano. Tal fenômeno era motivo de celebrações em meio aos povos antigos: pedia-se colheita farta e agradecia-se as já realizadas. 

As festas juninas são marcadas por alegria, música, danças típicas, fogueira grande, casamento caipira, bandeirinhas coloridas, fogos de artifício e comidas típicas como rapadura, pinhão, pipoca, quentão e canjica. 

Estas festas são oportunidade privilegiada para encontro de pessoas e recordação de um estilo de vida, por vezes, distante no tempo, que traz saudade pela simplicidade, alegria, partilha, descontração e fé. 

Os festejos populares juninos são expressão da obra divina realizada em figuras magníficas da tradição cristã. Santo Antônio é invocado especialmente nas dificuldades. São João é aquele que foi enviado para preparar os caminhos do Senhor. São Pedro é a rocha escolhida sobre a qual o Senhor edificou sua Igreja. São Paulo é evangelizador intrépido. Estes homens, por caminhos distintos, cooperaram e cooperam para que a obra de Jesus continue no tempo. Um intercede nas dificuldades, outro inaugura caminhos, outro é garante da unidade da comunidade de fé, ainda  outro, intrepidamente, vai ao encontro de diversos povos e culturas.

Neste período, vemos, de um lado, o povo cantando e fazendo festa, alegrando-se e divertindo-se, dançando e partilhando pratos típicos. De outro, vemos a comunidade de fé que, na liturgia, faz memória de homens que se destacaram no caminho da fé. 

No encontro com as diversas tradições regionais, as festas juninas foram adquirindo contornos característicos. Tornaram-se tradição, por exemplo, o erguimento do mastro, o estender bandeirinhas e pendurar balões coloridos, o forró e os fogos de artifício. Tudo marcado por forte apelo religioso!

O povo assim cultiva um sentido, por vezes diluído, que dá unidade a tudo o que existe e sucede na experiência. Este sentido se coloca à disposição de todos através de nossas tradições culturais que representam a hipótese de realidade com que cada ser humano pode olhar o mundo em que vive. Isso se expressa na religiosidade popular! Entretanto, em um mundo no qual tudo se torna motivo de negócio, até mesmo as tradições culturais e religiosas com sua sabedoria vão perdendo sua característica de oferecer significado à vida e ao mundo. 

A religiosidade popular que, nas festas juninas, se expressa de forma tão humana e bela, simples e rica pode ser expressão de um desejo latente na alma de nossa gente que busca um mundo melhor, marcado por paz e justiça, fraternidade e concórdia. Por isso, o povo não se cansa de lutar para superar todo tipo de dificuldades (Santo Antônio); empenha-se por cooperar na preparação de caminhos, em vista de um mundo um pouco melhor para as novas gerações (São João); deseja um fundamento firme sobre o qual possa construir um futuro promissor, através de um projeto claro de nação (São Pedro); não foge à luta e ousa avançar (São Paulo).

As festas juninas, demonstração da religiosidade de nosso povo, são expressão do desejo humano de confraternização, permitem construir comunhão e unidade, refletem uma compreensão latente do ambiente no qual o ser humano se encontra inserido. Elas são espaço para cultivar a possibilidade de um mundo transformado, no qual dificuldades imputadas possam ser superadas; bloqueios e empecilhos, desfeitos; a unidade, reconstruída.


CNBB, 23-06-2016.

*Dom Jaime Spengler: Arcebispo de Porto Alegre.

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