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É desejo do que não se tem e que o outro possui, somado ao desejo de ser este outro.
A inveja provoca ciúme, calúnia, maledicência e por fim o desejo não só de eclipsar, mas de dominar.
Por Dom Pedro Carlos Cipollini*
Inveja do latim invidia, olhar com maus olhos, é o popular mal olhado que todos temem com certa razão. O diabo veste Prada é o título do filme que assisti dias atrás. Baseado no livro de Lauren Weisberger que já vendeu milhares de exemplares. O filme é uma parábola sobre a inveja em nossa sociedade consumista, dominada pelo desejo de status e projeção social. A protagonista da história é uma jovem bonita e de bem com a vida porque livre interiormente, além da competente no que faz. Para ela vale mais a amizade, o fazer amigos, que o luxo e a carreira na loja em que trabalha. Sobre ela vão incidir a inveja das colegas e por fim até mesmo da temida dona do estabelecimento. Ela, no entanto, saberá se libertar de tudo e de todos na hora certa, o que a tornará invejada em definitivo.
Já foi dito que se perdoam mais facilmente os pecados dos outros do que seus êxitos. Pois a inveja é uma paixão, um vício que planta suas raízes na tristeza experimentada à vista do bem observado nos outros. Diante do sucesso do outro, o invejoso sente um aperto no coração, alguma coisa paralisa seus membros e faz despontar a angústia. Inveja é tristeza que invade o invejoso e o machuca, ele vê o bem do outro como se fosse um golpe vibrado em sua pretensa superioridade. A inveja nasce do orgulho, o qual não pode tolerar rivais ou superiores.
Objeto de inveja é o sucesso do outro, suas qualidades e muitas vezes virtudes. É desejo do que não se tem e que o outro possui, somado ao desejo de ser este outro, ou tomar seu lugar. O invejoso não tolera que se elogie a pessoa invejada, para ele tal elogio é uma ofensa. Como o outro ousa ser bom e querido se eu não consigo? Em nossa sociedade onde a competição é alta, a inveja está na moda. O invejoso não se contenta nunca com o que possui ou recebe.
Os primeiros cristãos vão recordar a história de José vendido como escravo no Egito pelos seus irmãos que tinham inveja dele (At 7,9). José é figura de Jesus, vítima da inveja no seu último grau que é o ódio. Vendo o bem invejado aumentar, o invejoso passa a ter ódio e desejo de eliminar o invejado. Foi o que aconteceu com Cristo: “De fato, Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja” (Mt 27,18). A inveja pode provocar ciúme, calúnia, maledicência e por fim o desejo não só de eclipsar, mas de dominar e até eliminar os rivais. O invejoso, no entanto não tem paz, mesmo eliminando a pessoa invejada , fica a sua lembrança e esta incomoda.
Santo Agostinho via na inveja o pecado diabólico por excelência “pois foi pela inveja do diabo que a morte entrou no mundo”. Deus criou o mundo e viu que tudo era bom. A serpente maligna invejosa do amor de Deus por Adão e Eva procurou um meio de induzir o homem a estragar tudo. Assim a inveja que odeia é coroada com a vingança. O problema do invejoso, porém, é que mesmo vingando-se não está satisfeito, pois “a inveja apodrece os ossos do invejoso”, vai sentenciar a Bíblia (cf. Pr. 14,30).
Uma das melhores maneiras de glorificar a Deus é fugir da inveja e aprender a se alegrar com o mérito dos outros que são dons de Deus. Quem não tem inveja é livre e vive bem, mesmo padecendo a inveja dos que invejam quem não tem inveja.
CNBB 12-07-2016.
*Dom Pedro Carlos Cipollini: Bispo de Santo André.
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