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A montagem estreia nessa quinta-feira (14) no Centro Cultural Banco do Brasil, em SP.
Texto faz refletir sobre reintegração na sociedade.
“Se você gritar no espaço sideral, ainda que a pessoa esteja ao seu lado, ela será incapaz de te ouvir”, uma mulher lê um trecho de um livro. “Aqui na Terra, isso também acontece”, responde a outra. O texto da dramaturga Chloë Moss traz confidências de mulheres que cometeram crimes e foram encarceradas. A inglesa conviveu com as presidiárias do Cookham Wood, um presídio originalmente construído para abrigar rapazes infratores e que, mais tarde, passou a alojar mulheres. A experiência de três meses da dramaturga redundou na criação de Lorraine e Marie, ex-detentas de Noites Sem Fim, vividas por Angela Figueiredo e Fernanda Cunha. A montagem estreia nessa quinta-feira (14) no Centro Cultural Banco do Brasil.
A montagem de Marco Antonio Pâmio reproduz a casa de Marie, lugar do reencontro das velhas amigas. O texto não se furta a dar a descrição completa das personagens, talvez porque a sala de espetáculo não se pareça em nada com um tribunal. O diretor explica que a peça oferece pistas sobre a vida delas. “O que importa é o que está acontecendo no palco, em como elas vão viver nesse novo mundo.”
Durante a criação da peça, a dupla de atrizes visitou a Penitenciária de Sant’Anna, no Carandiru. “Não conseguimos falar com as presidiárias, mas conversamos com pessoas que trabalham lá dentro”, explica Angela. O que impressionou as duas é que as diferenças entre homens e mulheres seguem, mesmo atrás das grades. Fernanda explica que a fila de visitantes é longa nos presídios masculinos. O mesmo não acontece com as presidiárias. “Muitas delas são abandonadas pelos pais, maridos e filhos.” Angela acrescenta que a grande maioria está lá porque foi parceira nos crimes de cônjuges. “Elas acobertaram crimes e levaram a culpa por eles”, conta.
Mas também existem mulheres que assumiram os próprios atos e foram julgadas. A personagem de Angela matou um homem. No fim de sua pena, ela sai da prisão e vai ao encontro de Marie, que vive em um studio. “Uma maneira chique de dizer quitinete”, ironiza a personagem. A jovem trabalha e passa a abrigar a amiga em sua casa, até que as coisas possam melhorar. O que segue são noites de inquietação que, como o nome da peça, vão ajudar a expor a fragilidade delas. “O mundo não vai ajudá-las”, diz Fernanda. “Elas precisam se virar para sobreviver.” Para Fernanda também foi importante compreender quem seriam essas mulheres na realidade brasileira. “Não são mulheres pobres, ou que vivem na periferia.” O diretor afirma que não seria interessante localizar a história no mapa. “O que as personagens sofrem é mais universal”, ressalta Pâmio.
A parceria das amigas também vai sofrer com a revelação de alguns segredos. Lorraine recebe a carta do seu filho e vai encontrá-lo. Já Marie enfrentará problemas sérios no trabalho. “Elas percebem que não podem viver sozinhas, e isso se transforma numa relação de mãe e filha”, conta Angela.
E nas próximas semanas, as atrizes estarão bem juntas. Elas vão cumprir um extensa jornada com apresentações do espetáculo de segunda a domingo, exceto às terças, quando o CCBB está fechado. E o projeto seguirá no caminho inverso ao da dramaturga: Angela e Fernanda desejam realizar leituras dramáticas da peça em penitenciárias.
Agência Estado
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