sábado, 23 de julho de 2016

Nem todo mundo precisa ser fã de bichos

domtotal.com
Por Gilmar P. da Silva SJ*

De tanto domesticar o animal quiseram-no fazê-lo humano. Sim. Mataram os animais fazendo-os bebês. Na antropomorfização do animal, animalizaram o humano. Porque cachorro não é um “serumaninho”. Pouco me importa se sua experiência com as pessoas seja frustrante o suficiente para dizer que prefere animal à gente, tendo em vista que os primeiros não traem. Mas quem quiser fugir de relacionamentos autênticos com quem possa apresentar interditos, que o faça. Aceitar a possibilidade da frustração é para adultos.

Quando os vídeos de gatos e bebês invadiram a internet, parecia que sua duração seria a de um verão, mas persistiram. As postagens sobre crianças diminuíram um pouco, mas as de animais não. Junto com elas, campanhas de adoção de animais de rua cresceram avassaladoramente. Até aí tudo bem. Mas a cultura vem dando outros sinais. Há insistência em se enxergar comportamento humano nos felinos e caninos, o que culmina em sua superestimação.

O ser humano erra – às vezes conscientemente –, diz não, trai, ama de um jeito não esperado, reage de modo imprevisto. O conjunto de possibilidades é muito maior que as animais, tendo em vista que, no geral, os segundo têm um comportamento marcado pela sua espécie. No caso humano, o indivíduo está sempre se reconfigurando, constituindo-se a si mesmo, e é justamente o romper com a natureza que o funda como tal. Lidar com o mistério de alguém que será sempre outro, não minha propriedade, cuja liberdade pode constitui-lo como ameaça, é fundamental para não fazer de tudo minha própria extensão. Se o bebê não percebe muito as diferenças entre ele o mundo, o adulto é aquele capaz de reconhecer a alteridade. Mais ainda, a adultez se marca pela capacidade de ser si mesmo e, com isso, de poder viver sozinho e deixar que o outro seja quem é.

Na febre dos animais, parece que algumas personalidades não chegam a amadurecer. Por trás de sua doçura com os bichinhos, há quem esconde seu desejo de manipular e que não encontra total vazão em humanos. A impossibilidade de relação com o diferente faz com que a solidão seja mascarada em outros seres vivos que passam a ser como que continuações da própria pessoa. Não só o cachorro passa a ter a cara do dono, mas o dono mesmo se torna uma coisa só com ele. Mexeu com um mexeu com o outro. E a sensibilidade para perceber que nem todo mundo gosta de bicho lhe cheirando ou relando quando se faz visita a quem tem animais vira a arrogância de “se não gosta vai, vá embora; a casa é do bicho”.

Ter animais é algo saudável e não teria nada de errado. O problema não está neles, mas na cultura atual que os hipervaloriza e que mascara a dificuldade das pessoas em crescer. A consequência da não diferenciação entre gente e bicho é tratar os primeiros como se fossem os segundos. Dar comida a pessoa em situação de rua é visto como assistencialismo que deve ser combatido, mas juntar a vizinhança para tratar e alimentar o cachorro do mesmo é a coisa mais humana a se fazer. Irônico, não?!

Festa Peruana

Uma das belezas da humanidade é sua diversidade cultural. Nesse sentido, Belo Horizonte é brindada pela presença de muitos grupos étnicos e pessoas de nacionalidades distintas que, com certa frequência, reúnem-se para celebrar o que têm em comum e sua relação com o país que os acolhe. Dia 30 de Julho é a vez da comunidade peruana se reunir. A 2ª edição da Festa Peruana acontecerá no quarteirão da Rua Tomé de Souza, entre as ruas Rio Grande do Norte e Getúlio Vargas, na Savassi, das 11h às 21h. Nessa ocasião também será comemorada a Independência do Peru. Além de música, artesanato e apresentações culturais, a festa é regada à sua famosa culinária – com o delicioso lomo saltado, ceviche e muito mais – e, para beber, cerveja Wäls.


*Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com pesquisa em Signo e Significação nas Mídias, Cultura e Ambientes Midiáticos. Graduação em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Possui Graduação em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Experiência na área de Filosofia, com ênfase na filosofia kierkegaardiana.

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