quarta-feira, 6 de julho de 2016

Nos Porões da Loucura

 domtotal.com
Por Charles Mascarenhas*

Sabe aqueles filmes ou peças teatrais que te prendem do início ao fim e ao final você precisa discutir sobre tudo que viu e ouviu, pois aquele assunto não para de martelar em sua cabeça? Pois é, este é caso de Nos Porões da Loucura. Esta peça, dirigida por Luiz Paixão é baseada na obra literáriade mesmo nome,escrita por Hiram Firmino.Em 1979, Firmino foi um dos primeiros jornalistas a conseguir entrar no Hospital Colônia (manicômio de Barbacena, inaugurado em 1903), e a relatar tudo que acontecia por ali. Somente agora, Nos Porões da Loucura foi adaptado para os palcos. Uma forma mais acessível para popularizar o conhecimento do chamado Holocausto Brasileiro.

Na peça, o cenário simples, de paredes manchadas e grades, remete a uma prisão; e os figurinos azuis referem-se aos uniformes usados pelos internos. Este era o ambiente do pátio do Colônia, lugar onde os pacientes tinham de ficar das 05:00 horas da manhã, até às 19:00 horas, longos momentos de torturas, sob sol ou chuva, frio ou calor.

No decorrer da trama, vamos testemunhando os motivos que fizeram cada pessoa ser levada para aquele hospício. A princípio, eramenviados os que aparentavam ter algum tipo de deficiência mental. Depois, tornou-se a prisão, onde as famílias largavam menores vítimas de abusos sexuais, prostitutas, homossexuais, alcoólatras e todos os “desajustados” na sociedade.A Colônia de Barbacena era o pátio da desesperança e do abandono. A única liberdade seria a morte, que não demorava muito, em razãodas condições desumanasa que estavam suscetíveis.

Assim como o filme Nise – O Coração da Loucura, a peça Nos Porões da Loucura traz à tonao debate sobre a legitimidade do papel dos manicômios e a forma de tratamento das pessoas com transtorno mental.Porém, ao contrário de Nise,na peça não há nenhuma intervenção dos médicos ou autoridadesem relação as condições desumanas em que os internos viviam.

Somente em 2001 foi promulgada aLei nº 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

As barbáries no Hospital de Barbacena foram tantas, que chegou a ser comprado aos campos de concentração nazistas.Cerca de 60 mil pessoas foram mortas, em razão do descaso por parte do governo, que não tinha medidasde proteção para aquelas pessoas.
Espetáculos como esse devem ser vistos e revistos para que os erros de antes, não se repitam agora.

Nos Porões da Loucura será apresentado até o dia 17 de julho, no Teatro Marília. Vale a pena conferir



*Charles Mascarenhas

Graduando em cinema e audiovisual pela PUC-Minas e estudante de cursos livres de teatro.

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