quinta-feira, 28 de julho de 2016

Os ETs estão aqui

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Somos seres feitos de sonho. Gostamos de fantasia. Terráqueos ou marcianos.
Talvez haja até gente com duas cabeças, três pernas e quatro braços. Não estamos sozinhos.
Talvez haja até gente com duas cabeças, três pernas e quatro braços. Não estamos sozinhos.

Por Luís Giffoni*

Acredito que os ETs existam. É uma questão estatística. Veja só. A Via Láctea possui mais de cem bilhões de estrelas. Há em torno de duzentos bilhões de Vias Lácteas no Universo. Não surgiria nessa imensidão toda nem um planetazinho semelhante à Terra? Claro que sim. Claro que nossas condições de vida se repetem em vários mundos. Talvez haja até gente com duas cabeças, três pernas e quatro braços. Não estamos sozinhos.

Se os ETs já nos visitaram é outra questão. Duvido. Duvido mesmo. As distâncias entre as estrelas é tão grande que uma viagem entre elas está fora de cogitação em nossos dias. Não para a imaginação. Eu até escrevi um romance sobre a primeira ida a Alpha Centauri, a vizinha mais próxima do Sol. A imaginação vai lá, a tecnologia não.

Idêntico raciocínio vale para eventuais centaurianos em incursões ou excursões à Terra. Não há pacotes à venda em Alpha Centauri, Sirius ou Capella para as Olimpíadas do Rio. Mesmo em naves propulsionadas a plasma ou a motores de fusão atômica, sonho de muitos cientistas, os ETs levariam séculos para chegar aqui. Como se sabe, as Olimpíadas no Rio foram decididas há menos de uma década. E duram apenas um mês.

Muitas pessoas juram ter visto discos voadores e ETs. Em São Tomé das Letras, fui o único a divisar apenas aviões, morcegos, meteoritos, vaga-lumes. Disseram que, apesar de exótico, eu era pior que São Tomé. Não enxerguei o óbvio do óbvio, as esquadrilhas de naves alienígenas sobrevoando a cidade. Contaram-me até que irmãos do ET de Varginha andaram por lá. Gente boa, segundo as testemunhas. Fumaram um baseado, tomaram duas garrafas de cachaça e se mandaram para Órion. Acho que não havia bafômetro no caminho.

Na estrada para Ouro Preto, de madrugada, dois amigos viram um disco voador passar rente ao carro. Desceram para acompanhá-lo enquanto sumia no espaço. Ao entrarem no veículo, no banco de trás, quem estava lá? Um ET de olhos em brasa, risonho, a tamborilar os dedos nos encostos para o pescoço. Os dois marmanjos estão fugindo até hoje. De vez em quando, param num bar, tomam mais biritas, ganham coragem, relatam o episódio. O caso está ficando famoso.

Governos também parecem acreditar em ETs. Dizem que os norte-americanos criaram um grupo de recepção para os alienígenas. Spielberg seria um dos anfitriões. Os brasileiros temem mostrar o Temer. Aquela semelhança com o personagem da Transilvânia não externa grande receptividade, convenhamos.

Tudo isso me deixa frustrado. Apesar das inúmeras horas a peneirar os céus, sou dos poucos que nunca viram disco voador, muito menos um ETzinho de Alpha Centauri, por menor que seja. Nem duende. Nem fantasma. Nem dama de branco. Nem curupira. Nem saci. Nem o Elvis Presley de volta. Nada. Sou um São Tomé. Uma aberração. Por isso tantos fogem de mim?

Somos seres feitos de sonho. Gostamos de fantasia. Terráqueos ou marcianos. Daí nosso prazer em criar e ouvir histórias. Eu as busco dentro de mim. Invento uma todos os dias. Essa contínua busca, um vício, gera uma dúvida: existo ou me imagino? Para aliviar a tensão, corro ao espelho e me olho. Meus quatro braços, três pernas e duas cabeças garantem que eu existo. Sim, existo. Aqui e em Marte, terra querida.

*Luís Giffoni tem 25 livros publicados. Recebeu diversas premiações como do Prêmio Jabuti de Romance, da APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte, Prêmio Minas de Cultura, Prêmio Nacional de Romance Cidade de Belo Horizonte.

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