domingo, 10 de julho de 2016

Quem é o meu próximo?

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Seguir o Salvador é ver no outro o meu próximo, o meu irmão em Jesus Cristo.
Só nos amamos de fato quando fazemos dos outros os nossos próximos.
Só nos amamos de fato quando fazemos dos outros os nossos próximos.

Por Marcel Domergue*

Referências bíblicas
1ª leitura: "Esta palavra está bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir." (Deuteronômio 30,10-14)
Salmo: Sl. 68(69) - R/ Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos: o vosso coração reviverá!
2ª leitura: "Tudo foi criado por meio dele e para ele." (Colossenses 1,15-20)
Evangelho: "Quem é o meu próximo?" (Lucas 10,25-37)

O deslocamento

Com o "Bom Samaritano", uma porta imensa se abre: o nosso próximo pode ser qualquer um não importa quem, sem distinção alguma de proximidade geográfica, de parentesco, de raça, religião, etc. “Quem é o meu próximo?”, pergunta o mestre da lei. A resposta virá somente no final: o teu próximo é quem se move para te ajudar.

O Samaritano, de quem não se dá o nome e que é definido apenas por sua qualidade de ser um estrangeiro, tinha a Palavra "ao seu alcance, em sua boca e em seu coração" (ver a primeira leitura).

Mesmo que ignore sem dúvida a sua forma bíblica, que se resume no "mandamento" do amor, este bem-querer que deseja que o outro viva, assim mesmo do jeitinho que ele é, e que seja feliz.

O homem ferido é um desconhecido: seu único título, para ser ajudado, é simplesmente ter necessidade de ajuda. OSamaritano então se faz próximo.

Cristo aproveita para convidar o Doutor da Lei: "Vai e faze a mesma coisa". Ensinar a Lei é bom, mas vivê-la é muito melhor. E isto não é um luxo: como diz o versículo 28, "Faze isso e viverás".

Fazer com que os outros vivam é o que nos mantém vivos. Todo homem, qualquer que seja ele, mesmo estando muito longe de nós, por sua cultura e seus valores morais, torna-se próximo nosso quando nos aproximamos dele.

O próximo não é, com efeito, uma noção estática, um dado "já aí", mas é o fruto de um deslocamento da nossa parte. E sem qualquer preocupação com a reciprocidade, pois este amor caracteriza-se por sua gratuidade. O Samaritano da Parábola busca a vida do homem ferido, não o seu agradecimento.

Quem é o "Bom Samaritano"?

Sabemos que Cristo ocupa os dois postos chaves deste nosso texto. Pois, antes de qualquer coisa, não se faz ele o próximo deste Doutor da Lei, mesmo que esteja tão longe dele? Este homem interroga Jesus, mas não para criar com ele laços de amizade e, sim, para pô-lo em dificuldade.

Jesus, no entanto, se presta ao diálogo e gratifica-o com uma explicação e uma longa parábola. Interroga-o, faz com que fale, mas não para colocá-lo em situação difícil; sim para instruí-lo, para "cuidar" dele.

Jesus, deste modo, se põe já na situação do "Bom Samaritano". Mas há muito mais: ele não é para todos nós o estrangeiro por excelência? Aquele que vem dum outro lugar, do próprio Deus? O Justo veio para junto dos injustos, para assumir a injustiça destes! Ele precisamente é quem opera este imenso deslocamento, para se tornar nosso próximo.

Ele é a Palavra que vem habitar "a boca e o coração" da humanidade (primeira leitura). Ao longo dos sinais que dá, revela-se - e revela Deus - como nosso terapeuta, derramando sobre as nossas chagas o óleo e o vinho.

O albergue para onde conduz o ferido nos faz pensar no de Emaús; o anúncio da sua volta nos fala de sua vinda “em sua glória”, quando liquidará todas as nossas dívidas. E aqui estamos todos convidados, da mesma forma que oDoutor da Lei, a "fazer a mesma coisa": "Tende em vós (e entre vós) o mesmo sentimento de Cristo Jesus..." (Filipenses 2,5). O Espírito que nos foi dado pode fazer-nos ser o próximo de toda mulher ou homem ferido.

Jesus, o homem ferido

Mateus 25,35-36: "Tive fome e me destes de comer (...), era forasteiro e me acolhestes (...)". Tenho vontade de acrescentar: ferido, estava na fossa e viestes cuidar de mim. E mais ainda: crucificado, trespassado e voltastes os olhos para mim.

Cristo identificou-se com todas as nossas vítimas, com todas as vítimas da má sorte, da doença, dos cataclismos... Ao nos fazermos "próximos" destas, nos tornamos próximos d’Ele. O amor que Ele nos trouxe pode agora nos levar até Ele: amor este que tem o nome de Espírito.

Vamos até Ele sim, mas somente passando através dos outros. Desta forma, finalmente, o amor a Deus "de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força" confunde-se com o amor a Cristo e com o amor a todos com quem nos encontramos de verdade e que têm necessidade de nós. Um passa pelo outro.

Ainda há aí uma coisa que falta: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", diz Levítico 19,18. Significa que não se pode amar os outros sem se amar a si mesmo. Sobretudo, não nos desprezemos, nem o nosso corpo, nem o nosso espírito. Imitemos a Deus que nos quer e nos ama da forma como somos.

Amar a Deus, amar o Cristo, amar os outros, amar-nos a nós mesmos, são termos todos eles intercambiáveis, ao menos quando se trata de amor verdadeiro. Só nos amamos de fato quando fazemos dos outros os nossos próximos.

Instituto Humanitas Unisinos
*Marcel Domergue (+1922-2015), sacerdote jesuíta francês.

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