domingo, 7 de agosto de 2016

Ativa e vociferante oposição ao Papa

 “Há, na Igreja, uma forte, significativa, ativa e vociferante oposição ao Papa”, afirma cardeal Schönborn

Ante de deixar a Áustria rumo à Jornada Mundial Mundial da Juventude de Cracóvia, o cardeal Christoph Schönborn – arcebispo de Viena e fiel intérprete do Papa Francisco – concedeu uma entrevista ao jornal Der Standard, na qual falou sobre a oposição “muito forte e significativa”, e ao mesmo tempo “ativa” e “vociferante” que existe dentro da Igreja contra o Papa.

A reportagem é de Cameron Doody e publicada por Religión Digital, 06-08-2016. A tradução é de André Langer.

“Estamos em meio a um grande debate na Igreja”, afirmou o cardeal ao jornal austríaco, “e é bom que o tenhamos”. Schönborn – cuja interpretação da exortação apostólica Amoris Laetitia Francisco considera a mais próxima da sua própria – afirmou que enquanto o Papa teve boa acolhida entre os que não têm muito a ver com a Igreja, “dentro da Igreja há uma polarização” de opiniões sobre as reformas que o Pontífice tentou realizar.

Negar-se a aceitar que haja tal divisão ideológica na Igreja passa também pela via da caridade, como o cardeal Schönborn revela que lhe aconselhou o próprio Francisco: “O Papa me disse [em meados de julho] algo que me impressionou muito: que temos que convencer a oposição intraeclesial carinhosamente”.

Embora, para o cardeal Schönborn, haja “uma clara maioria” de católicos “que está de acordo com o Papa e contente com o seu proceder”, esta divisão não deve ser considerada, sem mais, como uma ruptura entre progressistas e reacionários, nem nada semelhante. “Estamos muito acostumados em que haja conservadores e liberais”, afirmou o arcebispo de Viena ao Der Standard.

Na sua opinião, em vez de simplesmente aceitar que seja assim, devemos recuperar a mensagem de Jesus Cristo como algo que nos desafia a todos: “O Evangelho não é nem conservador nem liberal, é desafiante”, disse o cardeal ao jornal vienense.

Para o cardeal Schönborn, o caráter desafiador do Evangelho segue fazendo-se presente no projeto de renovação do Papa Francisco, algo que – por mais resistência ou intransigência que houver – já não poderá ser impedido.

“Creio que já se conseguiu muito”, opinou o cardeal, referindo-se aos “processos” de mudança nos quais o Papa se apoiou para começar a colocar em marcha suas mudanças. “A mudança não se opera na meta, mas no caminho”, disse Schönborn, que deu como exemplo os dois Sínodos sobre a Família em 2014 e 2015.

“Em 2014, os discursos do Sínodo ainda eram incrivelmente abstratos”, afirmou o cardeal, ao passo que “um ano depois, de repente, já se falava da realidade”. No Sínodo de 2015, “os bispos falavam da situação concreta da família, e já não teorizavam simplesmente de forma abstrata”. Algo que revela, na opinião do cardeal, que “de alguma maneira o caminho é o destino”.

“Não há perpetrador [de atos terroristas] que antes não tenha sido vítima”

O cardeal arcebispo de Viena também fez uma alusão, nesta entrevista ao Der Standard, ao fenômeno do terrorismo que parece ter se instalado na Europa. Ainda não tinha acontecido o último ataque extremista na igreja da Normandia quando conversava com o jornal vienense, mas em referência ao atentado de Nice perpetrado no dia 14 de julho Schönborn manifestou que este se deve não apenas ao “fanatismo religioso”, mas também “à loucura”.

Diante da barbaridade do extremismo, afirmou o cardeal, a única resposta possível é “o amor e a bondade, a misericórdia e o perdão”.

Embora o terrorismo “seja um problema para o islã”, segundo o cardeal – contra o qual a tradição deve lutar, através, por exemplo, de denúncias claras expressadas por seus líderes –, no Ocidente, não podemos esquecer que “a maioria das vítimas do terror são muçulmanos”.

“Não há perpetrador [de atos terroristas] que antes não tenha sido vítima”, recordou Schönborn: consequência da “globalização da indiferença” que o Papa Francisco denunciou e contra a qual o cardeal receita que nos preocupemos em “olhar para o que acontece à nossa própria porta”, ou que redobremos os nossos esforços de zelar pelo outro.

Nota da IHU 0n-Line:

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