quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Ética da empresa

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Existe uma cultura empresarial. Não é uma entidade isolada.
A multiplicação de escândalos exige repensar o papel das organizações econômicas.
A multiplicação de escândalos exige repensar o papel das organizações econômicas.

Por Élio Gasda*
A pessoa humana está na origem, na evolução e na finalidade da empresa. Que fins devem orientar a atividade econômica? Quais os meios adequados podem alcançar os fins escolhidos? Tais meios são éticos e aceitáveis? O interesse pela dimensão ética está relacionado com o desgaste sofrido pelas empresas. Subornos, extorsões, danos ambientais, exploração do trabalhador, fraude fiscal.

A multiplicação de escândalos exige repensar o papel das organizações econômicas. Graves acusações apontam para a importância de uma ética nos negócios. As empresas forjam uma identidade que as identifica como honestas ou como corruptas. Empresas interagem com as pessoas, com outras empresas, com o governo, com o meio ambiente, com os consumidores.  O espaço por excelência do encontro entre trabalho e capital continua sendo o interior da empresa. Ao lado do Estado,  é uma das organizações mais influentes da sociedade, exercendo um profundo impacto sobre a política e a cultura.

As economias capitalistas são economias empresariais (Keynes). A empresa, no sentido moderno da palavra, designa uma entidade jurídica de caráter individual ou corporativa com fins lucrativos, organizada para oferecer bens e serviços no mercado. Os componentes materiais e as demais instâncias do capitalismo se encontram na empresa. A sua gestão, assim como a do mercado, não se baseia unicamente na mão invisível, mas nas decisões de agentes econômicos: pessoas com valores, interesses e princípios. Existe uma cultura empresarial. Não é uma entidade isolada. Ela é, também, uma instituição social complexa que abarca diversos aspectos: grupo humano, instituição social, organização econômica, espaço de desenvolvimento científico-tecnológico.

A empresa tem compromissos e responsabilidades que extrapolam os interesses dos acionistas. Nenhuma deveria descuidar dos Stakeholders que se beneficiam ou que são prejudicados por sua atividade (Edward Freeman): proprietários, trabalhadores, provedores, consumidores, concorrentes, governos, meio ambiente, comunidade local etc. A sua ética  projeta suas  relações com todos estes indivíduos, instituições, grupos e realidades. São eles que avaliam a sua qualidade ética, por meio de códigos éticos.

Crises econômicas são, também, crises éticas porque retratam uma conduta empresarial. O Papa Francisco entende que “a vocação de um empresário é uma nobre tarefa, sempre que se deixe interpelar por um sentido mais amplo da vida; isto lhe permite servir verdadeiramente ao bem comum, com seu esforço por multiplicar e tornar mais acessíveis os bens deste mundo para todos” (Evangelii Gaudium, 203). A dignidade humana e o bem comum são os dois princípios apontados pela Igreja para a constituição de uma ética da empresa. Princípios que são operacionalizados na satisfação das necessidades do mundo com bens verdadeiramente bons, na justa distribuição, no trabalho digno e na subsidiariedade. A ética da empresa atinge seu potencial quando se reconhece o papel central da pessoa, o objetivo do bem comum e o cuidado ambiental.

Responsabilidade empresarial com princípios cristãos . A Doutrina Social da Igreja oferece elementos para que empresários e empreendedores superem questões delicadas e comuns ao confrontar fé e vida, no dia a dia da empresa. Executivos, gestores e líderes  são desafiados a praticar na gestão de seus negócios os mesmos valores que professam como cristãos. Como afirmou João Paulo II, “a finalidade da empresa não se reduz a gerar lucros, mas existir como comunidade de pessoas que, de diversas maneiras, buscam satisfazer suas necessidades e formam um grupo especifico a serviço da sociedade inteira” (Centesimus annus, n. 35). Procurando, para isso, responder os interesses não apenas dos acionistas. Que ela alcance objetivos sociais e éticos a perseguir conjuntamente com a sociedade. A empresa, antes de ser uma sociedade de capitais é, também, uma sociedade de pessoas (n. 43). Porque não transformar o lucro em instrumento para objetivos humanos e sociais?

*Élio Gasda: Doutor em Teologia, professor e pesquisador na FAJE. Autor de: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016).

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