segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O amor, critério único de definição da família

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É muita ingenuidade acreditar que o modelo nuclear de família seja mais antigo e estático.
A família é casa de amor, que gera compreensão, aceitação, amadurecimento, educação humana.
A família é casa de amor, que gera compreensão, aceitação, amadurecimento, educação humana.

Por Felipe Magalhães Francisco*
Fala-se que a família está em crise. Difícil, mesmo, é saber quais instituições não enfrentam a crise do momento hodierno que vivemos, o qual nos escapa à compreensão, e que chamamos de pós-modernidade. A constatação de que vivemos uma profunda crise não pode cair no pessimismo. Toda crise traz seu fruto, ainda que o processo seja lento, doloroso e carregado de inseguranças. No caso da família, é certo que o modelo que tradicionalmente conhecemos, o nuclear, já não responde, sozinho, às configurações das relações humanas que se transformam, constantemente, em nosso tempo.

É muita ingenuidade acreditar que o modelo nuclear de família seja o mais antigo e estático, ao longo da história da humanidade. Esse modelo, que as vozes conservadoras dizem estar ameaçado, é moderno e se pretendia com papéis muito bem delimitados na sociedade: o pai, o provedor; a mãe, a cuidadora dos filhos, do marido e do lar. As mulheres continuam, em sua maioria, cuidadoras dos filhos, do marido e do lar, mas hoje cuidam de si mesmas, de suas carreiras profissionais; aspiram crescer socialmente, em igualdade de gênero e de autonomia. Em relação aos homens, cobra-se que sua paternidade seja ativa na educação humana dos filhos e que sua esponsalidade seja na paridade de funções na vida e no lar.

Dessa maneira, não espanta que o modelo nuclear de família esteja em crise, pois ele não responde, exclusivamente, às necessidades de organização das pessoas de nosso tempo. É próprio da pós-modernidade o rechaço à rigidez das instituições, pois essas são relativizadas. Não se nega, porém, a importância da família, apesar de ela sentir, não há dúvidas, as consequências de vivermos tempos de profundo individualismo. O papel da Igreja, nesse sentido, não pode, de maneira alguma, ser o de fiscalizar as relações, mas de ajudar na propagação do amor como critério primeiro e único para as relações.

A defesa – consideradas todas as fragilidades de tal palavra – da família por parte da Igreja, não deve ser uma tentativa de agarrar-se ao passado, na tentativa de um restauracionismo tolo e impossível. Não deve, também, ser em vistas da tentativa de controle das relações e dos afetos, ainda que dissimulada por boas intenções. Se a Igreja pretende oferecer uma presença evangélica, inspiradora e transmissora da vivacidade da salvação anunciada por Jesus, ela precisa reconhecer o seu lugar de acolher as diferenças, as liberdades, tal como uma mãe. Aliás, mãe é um título que a Igreja, constantemente, reclama para si.

Esse caminho só será possível de ser trilhado, quando a instituição Igreja dar-se conta que o que constitui uma família são os laços de amor, somados às liberdades de consciência dos sujeitos. Para isso, a Igreja precisa ser mais doméstica, familiar, o que inclui, necessariamente, o clero, tão desfigurado das relações de afeto e de verdadeiro serviço, como se pode perceber em tantos e tantos casos. A família é casa de amor, que gera compreensão, aceitação, amadurecimento, educação humana. Mais que ensinar às famílias a como viverem e se organizarem, a Igreja precisa aprender com elas os muitos valores que carregam. Esses valores e o amor que as constituem merecem defesa e incentivo, com práticas pastorais e evangelizadoras atentas aos sinais de nossos tempos e iluminadas pela riqueza salvífica do Evangelho.

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras.

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