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O dia 31 de agosto vai sim ficar marcado como um dia de infâmia.
Manifestantes contra o impeachment em frente ao Palácio da Alvorada.
Por Ricardo Soares*
Hoje os jornais, os portais, quaisquer espaços onde as pessoas possam se manifestar escrevendo, hão de estar repletos de textos como esse onde cidadãos e cidadãs do Brasil manifestarão sua indignação, sua repulsa ou mesmo sua aprovação ao processo de impeachment de Dilma Rousseff cujo governo agora jaz. É um direito democrático que diante dos novos tempos tememos perder. Pois com Temer há muito a temer além do trocadilho óbvio e de mais esse texto que se juntará a tantos outros no dia de hoje sem o menor poder de alterar o curso de uma história que já estava com as cartas marcadas.
Agora os vencedores já começam quase a proibir a palavra "golpe" e insistirão, com o apoio massivo da mídia que os embala, na tese de um processo legítimo de afastamento da presidente eleita. Sim, de Dona Dilma, a senhora que errou bastante. Às vezes até quando tentou acertar, errou. Escolheu mal algumas companhias, não priorizou uma agenda progressista, deu de ombros ao meio ambiente, à sustentabilidade, à comunicação pública. Mas mesmo que tanto tenha errado me senti essa semana representado quando a vi combater o bom combate contra uma escumalha ilegítima, iletrada, predadora e arruaceira que lhe tirou o mandato. Quarenta e nove investigados de um total de 81 senadores dos quais 61 votaram por sua saída apesar de eleita por mais de 54 milhões de votos. Mesmo que eu prefira Dilma discursando com texto pronto do que no improviso sua opção por enfrentar os abutres olho no olho foi louvável. Louvável sua escolha mesmo sabendo que as cartas eram marcadas e que todos eles só merecessem que ela fizesse um discurso contundente e lhes desse as costas dizendo que não lhes reconhecia autoridade moral para julgá-la. Todas as críticas que lhe fiz e faço enfiei dentro de um embornal por um momento para dizer que sua dignidade me representou apesar de todos os seus equívocos e do meu voto relutante em vossa excelência .
Tiramos o país das mãos de uma mulher de governo titubeante, cheio de erros, mas não há de se negar sua fibra na defesa daquilo no qual acreditava. Tiramos o país das mãos de uma mulher sem bússola e o jogamos na mão de ratos. É um destino que nem Dilma e nenhum de nós merecia. Apesar de tudo fica aqui registrado nesse "dia seguinte" onde tantos registros ficarão o meu mais sincero respeito e reconhecimento pela postura de Dilma que foi muito superior a minha e a de milhões que gostariam que ela apenas desse as costas ou cuspisse nos traidores. Seu gesto não a tirou da vida pública e lhe concedeu um espaço na história. Mas o dia 31 de agosto (outro 31, como o de março do golpe de 64) vai sim ficar marcado como um dia de infâmia, um dia que pessoalmente me deixou anestesiado pela estupefação e literalmente pela extração de um dente que me doeu menos que a perda da democracia levada de roldão por uma súcia de delinquentes que apontou as falhas alheias com os dedos imundos.
*Escritor, diretor de tv, roteirista e jornalista. Publicou sete livros , dirigiu 12 documentários e escreve todas as segundas e quintas no DOM TOTAL.
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