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Têm a missão de porta-vozes do Deus da vida, num mundo marcado pela injustiça que gera morte.
Por Felipe Magalhães Francisco*
Profetas e profetisas não têm um dom mágico. São verdadeiros analistas da realidade do mundo, discernindo-as à luz daquilo que Deus sonha para a humanidade: relações pautadas no direito, na justiça, na fidelidade e na misericórdia. Têm uma missão fundamental, de serem porta-vozes do Deus da vida, num mundo marcado pela injustiça que gera morte e, com isso, cerceia a dignidade da vida dos mais vulneráveis.
Muitas vezes, os profetas e profetisas gritam sozinhos, sem que ninguém lhes dê ouvidos. Ferem, com suas palavras, o âmago da injustiça dos poderosos, que insistem em oprimir os pequenos do mundo e que, por isso, muitas vezes derramam o sangue desses que incomodam por sua força de denúncia. “Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa” (Mc 6,4), porque incomoda, com sua palavra de fogo. A História, por sua vez, insiste em conferir razão aos profetas e profetisas: esses que, com os pés fincados no chão da realidade, enxergam longe e desmascaram as relações de poder que não resultam na dignidade da vida para todos.
A profecia, nesse sentido, não é privilégio de alguns, mas missão de todos e todas que têm sua vida interpelada pela vida de Jesus, e que dela participam por força do Batismo. Nesse sentido, é importante voltar nosso olhar para a vida de Jesus, inspirando-nos em nossa missão, de sermos agentes de denúncia das teias de injustiças e arautos da esperança evangélica. É o que nos interpela o doutorando em Ciências da Religião e mestre em Teologia Edward Neves M. B. Guimarães, com o artigo O profeta como porta-voz da esperança.
A profecia está, necessariamente, a serviço de desmascarar meandros da injustiça, que ganham luz pela voz dos profetas e profetisas. Fazendo uma leitura da importância da profecia como instituição fundamental na constituição da identidade de Israel como povo, no Antigo Testamento, o artigo A importância da profecia para o rompimento com as estruturas de injustiça, do mestre em Teologia Antônio Ronaldo Vieira Nogueira, ajuda-nos a perceber a real necessidade da profecia como impulso a uma vida pautada segundo a vontade de Deus, em que a dignidade da vida se faça verdade e realidade.
Todo o caminho profético precisa alcançar os discípulos e discípulas de Jesus. A Igreja, nesse sentido, em constante diálogo com o mundo, não pode se esquivar do seu papel de denúncia e de anúncio, pois tem um compromisso irrenunciável com o Reino, fundamento de sua missão. Nesse sentido, nosso artigo A profecia na Igreja latino-americana, propõe uma leitura do espírito profético que irrompeu na Igreja de nosso continente, na recepção do Concílio Vaticano II, e que, aos poucos, foi esmorecendo. Esse espírito profético, no entanto, ainda ecoa em nosso continente e tem, na figura do Papa Francisco, um ponto de inspiração e apoio.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).
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