sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Papa Francisco se inspirou em São João Paulo II para seu programa de misericórdia?

Por Walter Sánchez Silva
São João Paulo II. Foto oficial / Papa Francisco abençoando um idoso na Sala Paulo VI. Foto: ACI Prensa

BOGOTÁ, 02 Set. 16 / 08:00 am (ACI).- O Arcebispo de Los Angeles, Dom José Gómez, sugeriu recentemente que o Papa Francisco se inspirou na reflexão de São João Paulo II sobre a misericórdia para promovê-la como seu programa e chave do seu pontificado.

Assim indicou o Prelado de origem mexicana, que é responsável pela maior arquidiocese dos Estados Unidos, durante sua intervenção no dia 30 de agosto no evento de celebração do Jubileu da Misericórdia na América, realizado em Bogotá (Colômbia).

Em sua exposição intitulada “Só a Misericórdia é credível: O Papa Francisco e a Missão Continental em toda a América”, Dom Gómez disse que “o programa de misericórdia” do Santo Padre “está enraizado em uma profunda reflexão espiritual sobre a visão profética de São João Paulo II”.

Em primeiro lugar, o Arcebispo explicou “um simples acontecimento que acredito que todos já sabemos: o Papa Francisco não ‘inventou’ a misericórdia”.

Na noite da sua eleição em março de 2013, recordou, os meios seculares “insistiram em uma narrativa que apresenta o Papa Francisco como um ponto de quebra em relação aos Papas que o precederam e como um reformador radical dos defasados ensinamentos da Igreja e da sua tradição”.

Obviamente, continuou, “todos sabemos que esta narrativa da ‘descontinuidade’ não é correta”, mas, “embora o Papa não tenha ‘inventado’ a misericórdia, é verdade que ele foi profético ao reconhecer que a misericórdia é a ‘palavra’ que os homens e mulheres de hoje devem ouvir fortemente em nosso mundo”.

“De um modo mais profundo, acredito que a visão do Papa Francisco está enraizada em ter descoberto uma ‘chave’ espiritual no pontificado de São João Paulo II. Creio que este ponto precisa ainda de maior estudo, mas me parece que podemos ver as prioridades pastorais e as perspectivas do Papa Francisco já antecipadas na seção final da grande encíclica do Santo, Dives in Misericórdia”.

O Arcebispo de Los Angeles explicou que “na bela e quase mística passagem final com a qual conclui a encíclica, o Papa João Paulo II afirma que a misericórdia é uma resposta profética às ‘s múltiplas formas do mal que pesam sobre a humanidade e a ameaçam’”.


Ali também, prosseguiu, o Papa “encoraja os cristãos a ‘praticar a misericórdia para com os homens através dos homens’; exorta a Igreja a redescobrir as ‘características maternas’ do amor de Deus pelos seus filhos; e a seguir ‘o exemplo de Maria’ e procurar ser ‘mãe dos homens em Deus’”.

Estes temas, explicou o Prelado, “caracterizam a pregação e o testemunho do Papa Francisco”.

Antídoto para a descristianização

“Desde os primeiros dias do seu pontificado, o Santo Padre guiou a Igreja a uma espécie de ‘retorno às fontes’: uma recuperação da misericórdia como a chave das Escrituras e a história da salvação; entendida também como os alicerces da atividade pastoral da Igreja e da vida de todo cristão”, explicou o Arcebispo.

Com tudo isto, remarcou, “acredito que o Papa Francisco nos mostra uma nova forma, ressaltando um caminho a seguir para a Igreja em um mundo que está passando por um momento crítico na história”.

A misericórdia, que o Papa Francisco testemunha sempre em primeira pessoa em seu pontificado com obras muito concretas, é o que necessita o mundo de hoje que vive ameaçado pela secularização e a descristianização” que dominam “os países da América e em todo Ocidente”.

“Podemos estar de acordo em que as elites que governam e moldam a direção de nossas sociedades estão profundamente secularizadas e são hostis à religião, aos valores religiosos e à cultura tradicional”, denunciou o Prelado.

“Não vemos uma perseguição violenta em nossas sociedades, como sofrem nossos irmãos e irmãs no Oriente Médio, na África e em outros lugares. Mas em nossos países vemos cada vez mais as elites usando todo o poder da lei e as políticas públicas para impor suas perspectivas e prioridades, que procuram negar os direitos e liberdades dos que não estão de acordo com elas”.

Dom Gómez explicou que “estamos confrontando em nossas sociedades um ‘humanismo’ poderoso e falso: um perigoso conjunto de crenças sobre o que significa ser humano e o que permitiria a felicidade e o florescimento humano. Esta falsa visão está enraizada em hipóteses materialistas e hedonistas que são completamente opostas à verdade revelada na tradição cristã“.

Além disso, mencionou, “este falso humanismo é contrário à consideração de que a pessoa humana é criada a imagem de Deus e tem como destino a santidade e a comunhão”.

Testemunhar a misericórdia em primeira pessoa

Deste modo, o Arcebispo de Los Angeles ressaltou que “o testemunho é sempre mais poderoso e mais persuasivo do que as palavras, como bem sabemos, mas isto se torna mais crucial em uma sociedade que nega a realidade de Deus, a relevância da fé e a liberdade de consciência”.

“Em uma sociedade pós-cristã, a misericórdia – vivida através das obras do amor – se converte na melhor ‘prova’ da presença de Deus e de seu poder”, continuou.

O Papa Francisco, disse o Prelado, “ressaltou que a misericórdia não é uma virtude passiva, nem uma estratégia ‘de defesa’ da Igreja ante uma cultura hostil. A misericórdia é missionária, está conduzida por um amor universal pela humanidade, por um desejo de salvação e libertação da pessoa humana”.

“A misericórdia busca tirar os homens e as mulheres da sua solidão e levá-los ao encontro da irmandade com o Deus vivente”.

“Nossa prática da misericórdia leva a transformação do entorno, pois podemos começar a ver o mundo através dos olhos misericordiosos de Cristo. E, assim, poderemos ver o início de uma cultura do encontro, que é a porta de entrada a um novo mundo de fé, uma cidade de amor e verdade”, sublinhou.

Em seguida, Dom José Gómez citou como exemplo São Junípero Serra, canonizado em setembro do ano passado pelo Papa Francisco e que dizia em um de seus sermões que Deus “é misericórdia completa, amor completo e ternura completa para todos, inclusive para os pecadores mais ingratos”.

Apresentar isso aos homens, para que também saibam que o Senhor é o caminho, a verdade e a vida, “é a nossa missão agora”, precisou.

“Que este Ano Jubilar da Misericórdia nos renove e nos dê uma nova coragem para proclamar a Boa Nova de que o amor de Deus é mais forte que o mal e a morte no mundo de hoje, e que sua misericórdia pode se encontrar na misericórdia que mostremos uns aos outros”.

Ao concluir, o Arcebispo de Los Angeles desejou “que a Virgem de Guadalupe – Mãe de Misericórdia e Mãe da Nova Evangelização – ajude todos a ser discípulos missionários e mensageiros da misericórdia divina”.

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