Secretário de estado Vaticano, Cardeal Pietro Parolin. Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa
VATICANO, 27 Set. 16 / 04:00 pm (ACI).- O Secretário de Estado Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, participou na cidade colombiana de Cartagena das Índias da assinatura do acordo de paz entre o governo do país e as FARC em 26 de setembro. Um acontecimento histórico no qual o Cardeal pediu que sejam curadas as feridas do coração dos colombianos e assegurou que é possível viver sem massacres.
Na Liturgia da Palavra que presidiu, estiveram presentes mandatários de todo o mundo, assim como o rei emérito da Espanha D. Juan Carlos.
O Purpurado se mostrou confiante na “possibilidade de construir um futuro diverso, no qual convivam sem massacres e no qual possuir convicções diversas, respeitando as regras democráticas, da dignidade humana e da tradição católica desta grande nação”.
“A paz que a Colômbia deseja vai além da também necessária consecução de certas estruturas ou convenções, e se centra na reconstrução da pessoa: de fato, é nas feridas do coração humano onde se encontram as causas profundas do conflito que destruiu este país nos últimos anos. Só Deus nos dá a força para enfrentar tais problemas e, sobretudo, a capacidade de nos identificar com todos aqueles que sofrem por sua causa”, disse Parolin na homilia.
“Desejo, em primeiro lugar, transmitir a proximidade do Papa Francisco ao querido povo colombiano e às suas Autoridades, especialmente na presente circunstância da assinatura do Acordo Final entre o Governo da Colômbia e as FARC-EP”.
O cardeal assegurou que “o Santo Padre tem seguido com grande atenção os esforços dos últimos anos na busca de harmonia e reconciliação”.
“Várias vezes animou estes esforços, sem mencionar as soluções concretas que foram negociadas, e sobre as quais decidirão, de maneira livre, informada e em consciência, os próprios cidadãos”.
“O Papa sempre animou o respeito dos direitos humanos e dos valores cristãos que estão no centro da cultura colombiana. Acredito que todos que estamos aqui presentes somos conscientes de que, no fundo, estamos no final de uma negociação, mas também no início de um processo, ainda aberto, de mudança, que requer a contribuição e o respeito de todos os colombianos”, indicou.
O Secretário de Estado recordou a história da cidade de Cartagena das Índias e sua relação com a escravidão e a figura de São Pedro Claver que ajudou a eliminá-la. “Poderíamos dizer que, como há alguns séculos os escravos e comerciantes se dirigiam ao porto doentes e maltratados, hoje muitos colombianos viajam tristes e sofridos, com a dignidade ferida ou roubada. Passaram por tormentas e tempestades, sem perder a esperança. Têm necessidade de serem resgatados e amados, eles têm sede de água fresca”.
“Da mesma maneira, hoje Jesus também nos espera para nos libertar das cadeias da escravidão. A própria e a que nos ocasionam outros. Está ansioso para nos abraçar, para curar nossas chagas, enxugar nossas lágrimas, para nos dar a água e o pão da vida, para nos olhar com amor no profundo da alma, para nos levar nos seus braços até um porto seguro… Sabemos que o sofrimento das vítimas, oferecido aos pés da Cruz, se converte em um recipiente para receber a sua misericórdia”.
O Purpurado recordou também que Francisco expressou em várias ocasiões o desejo de visitar a Colômbia, mas quando o acordo de paz fosse assinado. “O método mais seguro para começar um futuro melhor é reconstruir a dignidade de quem sofre, e para fazer isto é necessário aproximar-se deles sem restrições de tempo, até o ponto de identificar-se com ele”.
O Secretário de Estado pediu para não considerar “este encontro como mais um evento, mas como uma manifestação da confiança das autoridades e de todos aqueles que nos seguem com a força da oração a Deus”.
“Por isso, pedimos a Deus que nos conceda esse heroísmo na solidariedade, que é necessária para preencher, na verdade e na justiça, o abismo do mal causado pela violência”, acrescentou.
Por último, manifestou que a Colômbia experimentou “a ambição do dinheiro e do poder e, por causa dela, a exploração do homem pelo homem, o deslocamento forçado, a violência e o desconhecimento da dignidade das vítimas, entre outros flagelos, permanentemente causam danos à humanidade”.
“As religiões induzem a escutar, a compreender e a reconhecer as razões e o valor do outro. A fé se opõe ao dano à dignidade da pessoa que causa a laceração do tecido civil, e não é contrária a laicidade, entendida como o respeito às diversas esferas de competência da realidade civil e da espiritual. De fato, a laicidade tem necessidade da fé, como ponto de referência necessário para a convivência e para o respeito”.
“A Igreja Católica, de modo particular, promove a serena convivência social, em concordância com a tradição espiritual dos colombianos, sem reclamar que todos tenham uma mesma confissão religiosa”. “Oferece pontos de referência para que as pessoas e coletividades possam encontrar e contribuir com luzes na busca do bem comum”, concluiu.
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