sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Arquidiocese se posiciona sobre padre que chamou coronel Ustra de ‘herói’


Menção ao coronel Ustra repercute de diferentes maneiras nos meios eclesiásticos
Menção ao coronel Ustra repercute de diferentes maneiras nos meios eclesiásticos

Por Gilmar Pereira
Redação Dom Total

A Arquidiocese Militar se posicionou sobre a polêmica envolvendo a menção feita ao coronel Brilhante Ustra durante uma missa na Paróquia Militar de São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, celebrada no dia 15 de outubro. Na ocasião, o padre José Eudes chamou o coronel de ‘herói’ que teria lutado pela justiça e pela paz, mas que acabou sendo ‘incompreendido’. 

Em nota enviada à redação do Dom Total nesta sexta-feira (21), a Arquidiocese Militar lembrou que sua ‘missão é a de prestar assistência religiosa e espiritual aos militares brasileiros, da ativa e da reserva, aos seus familiares e dependentes, à qual se dedica com generosidade e espírito de serviço à nação’.

“A Missa em sufrágio pelo falecido foi solicitada pela família, que professa a fé católica. O celebrante, na sua homilia, ao comentar as leituras bíblicas proclamadas, dirigiu algumas palavras aos familiares e amigos presentes. E, finalmente, as opiniões contidas no sermão e as interpretações que a elas foram dadas não constituem a posição oficial desta Arquidiocese Militar que, respeitando as leis e as instituições vigentes no País, não se pronuncia sobre questões contingenciais ou políticas”, diz a nota, assinada pelo chanceler da Cúria Militar, José Carlos de Medeiros.

Controvérsia 

O certo é que a declaração do padre gerou controvérsia nos meios eclesiásticos e foi repercutida até pelo jornal Folha de São Paulo, na matéria “Em celebração, Brilhante Ustra é chamado de herói que lutou pela paz”.

De um lado, há setores da Igreja que buscam reviver uma aura pré-conciliar e se posicionam radicalmente contra não só ao Comunismo, como a toda perspectiva de esquerda. Para esta ala, a perseguição que se operou no período ditatorial, que culminou em mortes e desaparecimentos de opositores ao regime seria justificável.

Em contrapartida, outros segmentos religiosos posicionam-se contrários a posição do clérigo. Para estes, é inaceitável uma defesa de Ustra, que figura no relatório final da Comissão Nacional da Verdade como tendo “participação direta em casos de prisão, detenção ilegal, tortura, execução, desaparecimento forçado e ocultação de cadáver”.  A aversão dessa ala da Igreja, mais que justificável, encontra base no projeto Brasil Nunca Mais, encabeçado por Dom Paulo Evaristo Arns, Rabino Henry Sobel e Pastor presbiteriano Jaime Wright. Nele, são sistematizadas mais de um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar e que revelam a perseguição política do período que vai de 1961 a 1979. Apesar da extensão do relatório, o padre parece ter conhecimento somente da versão tecida pelo outro lado da história.

O ocorrido revela uma cisão presente nos bastidores eclesiais. Há uma ala que se recorda da luta de religiosos contra o regime, como o fizeram Dom Evaristo, Frei Tito Alencar e tantos outros, e outra que se recente da perda das pompas e honrarias de uma Igreja atrelada e conivente com Estado. O mesmo embate também se faz sentir na Cúria Romana, como tantas vezes manifestou Papa Francisco.

Ustra

Carlos Alberto Brilhante Ustra foi chefe comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo no período de 1970 a 1974. Em 2008, tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido, pela Justiça, como torturador durante a ditadura.

Ustra foi acusado pelo Ministério Público Federal por envolvimento em crimes como o assassinato do militante comunista Carlos Nicolau Danielli, sequestrado e torturado nas dependências do órgão.

Ustra morreu em 15 de outubro de 2015 no Hospital Santa Helena, em Brasília. Ele tratava de um câncer.

Dom Total

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