Menção ao coronel Ustra repercute de diferentes maneiras nos meios eclesiásticos
Por Gilmar Pereira
Redação Dom Total
A Arquidiocese Militar se posicionou sobre a polêmica envolvendo a menção feita ao coronel Brilhante Ustra durante uma missa na Paróquia Militar de São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, celebrada no dia 15 de outubro. Na ocasião, o padre José Eudes chamou o coronel de ‘herói’ que teria lutado pela justiça e pela paz, mas que acabou sendo ‘incompreendido’.
Em nota enviada à redação do Dom Total nesta sexta-feira (21), a Arquidiocese Militar lembrou que sua ‘missão é a de prestar assistência religiosa e espiritual aos militares brasileiros, da ativa e da reserva, aos seus familiares e dependentes, à qual se dedica com generosidade e espírito de serviço à nação’.
“A Missa em sufrágio pelo falecido foi solicitada pela família, que professa a fé católica. O celebrante, na sua homilia, ao comentar as leituras bíblicas proclamadas, dirigiu algumas palavras aos familiares e amigos presentes. E, finalmente, as opiniões contidas no sermão e as interpretações que a elas foram dadas não constituem a posição oficial desta Arquidiocese Militar que, respeitando as leis e as instituições vigentes no País, não se pronuncia sobre questões contingenciais ou políticas”, diz a nota, assinada pelo chanceler da Cúria Militar, José Carlos de Medeiros.
Controvérsia
O certo é que a declaração do padre gerou controvérsia nos meios eclesiásticos e foi repercutida até pelo jornal Folha de São Paulo, na matéria “Em celebração, Brilhante Ustra é chamado de herói que lutou pela paz”.
De um lado, há setores da Igreja que buscam reviver uma aura pré-conciliar e se posicionam radicalmente contra não só ao Comunismo, como a toda perspectiva de esquerda. Para esta ala, a perseguição que se operou no período ditatorial, que culminou em mortes e desaparecimentos de opositores ao regime seria justificável.
Em contrapartida, outros segmentos religiosos posicionam-se contrários a posição do clérigo. Para estes, é inaceitável uma defesa de Ustra, que figura no relatório final da Comissão Nacional da Verdade como tendo “participação direta em casos de prisão, detenção ilegal, tortura, execução, desaparecimento forçado e ocultação de cadáver”. A aversão dessa ala da Igreja, mais que justificável, encontra base no projeto Brasil Nunca Mais, encabeçado por Dom Paulo Evaristo Arns, Rabino Henry Sobel e Pastor presbiteriano Jaime Wright. Nele, são sistematizadas mais de um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar e que revelam a perseguição política do período que vai de 1961 a 1979. Apesar da extensão do relatório, o padre parece ter conhecimento somente da versão tecida pelo outro lado da história.
O ocorrido revela uma cisão presente nos bastidores eclesiais. Há uma ala que se recorda da luta de religiosos contra o regime, como o fizeram Dom Evaristo, Frei Tito Alencar e tantos outros, e outra que se recente da perda das pompas e honrarias de uma Igreja atrelada e conivente com Estado. O mesmo embate também se faz sentir na Cúria Romana, como tantas vezes manifestou Papa Francisco.
Ustra
Carlos Alberto Brilhante Ustra foi chefe comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo no período de 1970 a 1974. Em 2008, tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido, pela Justiça, como torturador durante a ditadura.
Ustra foi acusado pelo Ministério Público Federal por envolvimento em crimes como o assassinato do militante comunista Carlos Nicolau Danielli, sequestrado e torturado nas dependências do órgão.
Ustra morreu em 15 de outubro de 2015 no Hospital Santa Helena, em Brasília. Ele tratava de um câncer.
Dom Total
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