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Roteiro é muito fiel ao livro 'A Garota no Trem', com narrativa de difícil adaptação.
Emily Blunt em cena do filme 'A Garota no Trem'.
Por Nayara Reynaud
“Cuidado com o vão entre a janela e a realidade que acontece por de trás dela” deveria ser o aviso para todos os voyeurs de plantão, tal como Rachel Watson, protagonista de “A Garota no Trem”.
O público sabe disto por experiência própria, é claro, mas também conhece os seus perigos pelo que o cinema ensinou, especialmente com o mestre Alfred Hitchcock, para saber que a constante observação da personagem vivida pela atriz Emily Blunt renderá problemas no filme de Tate Taylor.
As referências ao cineasta inglês que redefiniu o gênero de suspense vão além de “Janela Indiscreta” (1954), a exemplo da associação direta aos trens de “A Dama Oculta” (1938) e “Pacto Sinistro” (1951). No entanto, as origens do longa estão no best-seller homônimo de Paula Hawkins, uma jornalista britânica que, em seu primeiro livro, teve os seus direitos para o cinema adquiridos antes mesmo de sua publicação.
Rachel pega o mesmo trem, sempre no mesmo horário e, já há algum tempo, criou um interesse especial pelos moradores de uma casa que vê no caminho, Megan (Haley Bennett) e Scott (Luke Evans), que ela enxerga da sua janela como sendo um casal perfeito. Justamente o que não conseguiu manter com Tom (Justin Theroux), seu ex-marido, por quem ainda procura quando está bêbada (ou seja, quase sempre, pois ela é alcóolatra), apesar de ele já estar casado com Anna (Rebecca Ferguson) e ter uma filha.
Mas quando um intruso atrapalha a sua fantasia e um desaparecimento aparece nos noticiários, a protagonista se envolve no caso, buscando solucioná-lo incessantemente, enquanto tenta recuperar a memória de uma noite em que voltou para casa cheia de sangue.
A armadilha do livro, porém, está em sua narrativa, muito difícil de ser adaptada para as telas, por dividir-se na voz de três narradoras, Rachel, Megan e Anna, em tempos diferentes. No entanto, o trabalho da roteirista Erin Cressida Wilson nesta adaptação saiu-se melhor do que as expectativas, por conseguir condensar algumas passagens do livro em uma mesma cena coesa.
Em sua essência, o roteiro é muito fiel ao livro. As mudanças que os fãs mais sentirão, além da já conhecida alteração de cenário – sai Londres, entra Nova York –, é a figura do Kamal, um pouco diferente da original em que é um refugiado dos Bálcãs, não só pelo casting do venezuelano Edgar Ramírez, mas por ser mais plano em seu desenvolvimento. As mulheres, pelo menos, continuam sendo marcantes e complexas.
Isso porque, desde sua origem, em uma comparação com o livro de Gillian Flynn e o filme de David Fincher, “Garota Exemplar” – feita pelos próprios editores para alavancar as vendas –, “A Garota no Trem” não apresentava um suspense tão surpreendente quanto aquele, mas que tinha na construção das personagens a sua melhor qualidade. Isso fica mais claro neste longa, que torna a resolução do mistério mais previsível, mesmo investindo de maneira instigante na protagonista não confiável, nem para ela própria.
Sorte que Tate Taylor, que já demostrou seu talento para direção de atrizes em “Histórias Cruzadas” (2011), tem outro bom elenco à disposição para garantir a força das três personas. Blunt está ótima na vulnerabilidade perigosa de Rachel em seu alcoolismo e há de se destacar o trabalho de Ferguson, com uma Anna bem mais interessante do que a do romance. Isso é essencial para uma obra que fala de machismo e questões de gênero.
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