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Iniciativa tem como inspiração a 'Igreja em saída' do Papa Francisco.
Cardeal Tempesta reafirma que Arquidiocese é organismo apartidário.
Por Gilmar Pereira
Redação Dom Total
Onze padres e uma freira, inspirados nos ensinamentos do Papa Francisco, encabeçaram nesta segunda-feira (24) uma lista de apoio à candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura da capital fluminense Rio Janeiro. O documento on-line, que conclama os católicos a não se omitirem, é bastante compartilhado nas redes sociais. Ao final do dia, a Arquidiocese do Rio de Janeiro pronunciou-se apartidária e que não autorizou ninguém a falar em seu nome.
Segundo os clérigos e religiosos, a iniciativa teve como entendimento que ‘a política é uma forma sublime de caridade’ e que, ante a realidade do município, os católicos não poderiam ‘lavar as mãos’, como Pilatos o fez’. A lista contou com a rápida adesão de centenas de fieis confirmando o posicionamento de que a candidatura de Freixo seria ‘a que mais sintoniza com a construção de uma cidade mais justa, fraterna e igualitária’.
Embora o manifesto buscasse ser sinal daquilo que o Papa chama de ‘Igreja em saída’, acabou recebendo reprimendas do Arcebispo, o cardeal Dom Orani Tempesta. Em nota assinada por ele e pelos membros da cúria arquidiocesana, a igreja local explicou que “não autorizou ninguém a falar em seu nome, nem dos padres, tampouco em nome de movimentos, pastorais, associações e paróquias acerca do atual processo político carioca”. Apesar de reconhecer que as pessoas têm direito à manifestação pessoal, insiste que as lideranças religiosas não ‘têm autorização da autoridade diocesana para indicar qualquer candidato aos cargos públicos’.
As doze lideranças, no início da lista, recorrem a expressões que remontam à Teologia da Libertação, vertente do pensamento teológico que entende que a libertação proposta por Cristo não é meramente espiritualista, mas da pessoa e toda a suas circunstâncias, o que passa pela atuação política e promoção da justiça social. Em contraposição, a nota da arquidiocese faz aparecer elementos de alas conservadoras da Igreja que se colocam contrárias a qualquer princípio defendido pela esquerda. Nela se insiste em temas como aborto, eutanásia, união homoafetiva e obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas.
O caso revela tensões nos bastidores eclesiais no que diz respeito ao lugar da Igreja na sociedade. Conforme noticiado pela arquidiocese, o episódio ocasionou o “escândalo da desunião”. A divisão, contudo, é mais profunda. Tratam-se de duas perspectivas na leitura do Evangelho e sobre o que se deve defender: a boa convivência com o Estado ou a tensão inerente à defesa dos direitos dos menos favorecidos.
Segue a íntegra do texto do abaixo-assinado e da nota da Arquidiocese:
Abaixo assinado:
Nós, padres da Arquidiocese do Rio de Janeiro, no horizonte do Evangelho da Libertação, da efetivação de uma “Igreja em saída” (como compreende o Papa Francisco) e da antecipação do Reino de Justiça e paz inaugurado por Jesus Cristo, entendemos que a candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio de Janeiro é a que mais sintoniza com a construção de uma cidade mais justa, fraterna e igualitária. Desse modo, entendendo como o Papa Francisco que a política é uma forma sublime de CARIDADE em face da qual não podemos "lavar as mãos", como Pilatos o fez.
Na companhia de um grande número de católicos e católicas, leigos e leigas comprometidos com a Democracia, com a Vida e a Dignidade humanas na história concreta de nossa Cidade marcada pela violência, injustiça e exclusão social, nos unimos, à luz da Fé, na luta pela VIDA e pela PROMOÇÃO DA PESSOA HUMANA na força evangélica da “opção preferencial pelos pobres”.
Afirma o Papa Francisco: “Envolver-se na Política é uma obrigação para um cristão. Os cristãos não podem fazer como Pilatos e lavar as mãos”!
Nota da Arquidiocese
A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, diante da manifestação pública de alguns membros do clero e do laicato, esclarece que não autorizou ninguém a falar em seu nome, nem dos padres, tampouco em nome de movimentos, pastorais, associações e paróquias acerca do atual processo político carioca. As pessoas podem se manifestar pessoalmente e arcar com as consequências, mas não podem falar por quem não foram autorizadas. Tampouco têm autorização da autoridade diocesana para indicar qualquer candidato aos cargos públicos, como aconteceu nessa recente manifestação, na qual indicam um candidato para o segundo turno das eleições municipais da cidade do Rio de Janeiro.
A Arquidiocese reafirma sua posição de organismo apartidário, que defende os princípios da Igreja Católica de acordo com as orientações que assumidas pelo Regional Leste 1 da CNBB e das quais foi dada ampla divulgação. Não é possível compactuar com posições que entram em confronto com princípios contrários aos valores cristãos, tais como o respeito à vida e a clara oposição ao aborto e à eutanásia; a tutela e a promoção da família, fundada no matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo oposto e protegida em sua unidade e estabilidade, frente às leis sobre o divórcio; o tema da paz, que é obra da justiça e da caridade, e que exige a recusa radical e absoluta da violência, anarquismo e terrorismo. Devem ser reafirmados o acolhimento e a tutela com relação ao ensino religioso nas escolas além dos outros temas explicitados nas orientações referidas.
Portanto, o voto do católico só poderá assim ser considerado se os programas dos candidatos merecedores desse voto também estiverem em comunhão com os princípios humano-cristãos.
Diante da perplexidade gerada por tal manifestação já divulgada pelas mídias sociais, ocasionando o escândalo da desunião, a Arquidiocese de São Sebastião Rio de Janeiro pede a união de todos no Senhor Jesus e a contínua disponibilidade para a missão evangelizadora numa Igreja em saída, que caminha junto com seus pastores.
Da Cúria Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, aos 25 de outubro de 2016.
Redação Dom Total
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