quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O Silêncio do Céu

Uma Obra sobre: Quem cala... Sente.
Vale destacar as atuações de dois atores: Carolina Dieckmann, e Leonardo Sbaraglia.
Por Charles Mascarenhas
Era El Cielo, livro escrito pelo argentino Sergio Bizzio, é adaptado para o cinema com o título O Silêncio do Céu, filme dirigido pelo cineasta brasileiro Marco Dutra.

O longa, que se passa na capital do Uruguai, Montevidéu, traz o drama vivido pelo casal Diana (Carolina Dieckmann) e Mario (Leonardo Sbaraglia), que têm o cotidiano afetado por um profundo silêncio.

Na primeira cena do filme o expectador é tomado por um momento de tensão e de claustrofobia. Num jogo de luz e som, Diana aparece sendo estuprada por dois homens que invadem sua casa.  A mesma cena é reprisada de outro ângulo da casa, pois um elemento não mostrado antes será fundamental para o desenvolvimento da trama.

O enredo é narrado através do ponto de vista de Mario, que chega em casa exatamente na hora em que sua mulher está sendo violentada e presencia todo o ato sem saber de que maneira intervir, pois o medo sempre tomou conta do seu ser.

Esse episódio marca sua vida e passa a consumi-lo a cada dia que passa, pois Diana não conta nada sobre a violência sexual sofrida e ele não fala nada sobre o que testemunhou. Os dois ficam em silêncio diante do trauma vivido e a sensação de culpa alimenta o ódio que jamais existiu dentro de Mario e força-o a desejar uma vingança contra os estupradores.

Cria-se um clima de tensão e uma expectativa sobre o personagem de Mario. Nunca se sabe se haverá vingança ou a hora exata da vingança. Para isso, o diretor Marco Dutra, que também é músico, utiliza das trilhas sonoras compostas pelos irmãos Guilherme e Gustavo Garbato para explorar muito bem o suspense. 

Vale destacar as atuações de dois atores: Carolina Dieckmann, que mostra fluência e domínio da língua espanhola e dá vida para a sua personagem, que foi muito bem construída; e o de Leonardo Sbaraglia, que imprime um personagem bastante expressivo.

Marco Dutra dirigiu e roteirizou os filmes Trabalhar cansa (2011) e Quando eu Era Vivo(2014), e mostrou nestes longas grande disposição a trabalhar com cinema de gênero.  Agora, destaca em sua nova obra maior domínio na narrativa cinematográfica.

Principalmente, ao retratar nas telas um roteiro que não é seu e o gênero de suspense, que não costuma trabalhar.

O roteiro de O Silencio do Céu é bastante convincente e questionador. Por que Diana não conta ao marido o que aconteceu? O silêncio de Diana é mesmo que toma as mulheres cotidianamente diante das violências e abusos sofridos dentro e fora da casa.

A violência e a discriminação contra o gênero feminino é um tema que tem sido muito pautado na atualidade. Há um reconhecimento da necessidade deste debate. Alguns dos filmes, por mim analisados para o Dom Total, comprovam a disposição de cineastas contemporâneos em retratar o tema da violência contra as mulheres. Exemplos disso são os longas Paulina, de Santiago Mitre e Mate-me Por Favor, de Anita Rocha da Silveira.
Charles Mascarenhas
Graduando em cinema e audiovisual pela PUC-Minas e estudante de cursos livres de teatro.

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