Padre Geovane Saraiva*
Deus seja louvado, amado e
glorificado, em nossos irmãos e amigos falecidos, na certeza de que neles o
amor de Deus fixou morada, cresceu e se fez dom para o mundo, no mais elevado
espírito de confiança e na feliz bem-aventurança, indicadores daquele caminho,
pelo qual deve prevalecer uma enorme sede de eterna felicidade, raiz maior do
cristianismo, dadivosa vida, associada ao nosso bom e terno Deus. Que nossa
reflexão sobre o tema da morte nos conscientize de que a bondade de Deus é sem
limites, ao socorrer a dor e a angústia humana de toda natureza.
Compreendemos que somos
limitados, que não conseguimos dar um passo a mais diante de tragédias, tensões
e situações de limites. Elas nos ensinam e revelam algo precioso: a certeza de
que a realidade dura e pesada dos sinais de morte nos engrandece e humaniza,
dizendo-nos que a vida está acima de tudo. Daí olhar para a realidade da morte
como nossa amiga, irmã e companheira inseparável. O exemplo tão bem conhecido
vem de Francisco de Assis, ao dizer, com grande fé, sabedoria e confiança:
“Louvado seja Deus pela irmã morte”.
O grande romancista, dramaturgo,
poeta e maior escritor espanhol, Miguel Cervantes (1547-1616), em seu clássico
da literatura ocidental e obra-prima “Dom Quixote”, nos estimula no sentido de
jamais perder a coragem de lutar e viver de bem com a vida, na seguinte
afirmação: “Quem perde seus bens, perde muito; quem perde um amigo, perde mais;
mas quem perde a coragem, perde tudo”. Aos olhos de Deus é a esperança do
encontro beatífico e sagrado, quando a criatura humana irá participar da
promessa da feliz eternidade.
A Carta aos Hebreus diz que “nós
não temos aqui nenhuma cidade permanente, estamos à procura da cidade que há de
vir” (cf. Hb 13, 14). O mundo deveria ser bom e, igualmente, as cidades deveriam
ser boas.
Que as pessoas de boa vontade
saibam perceber a bondade de Deus, na busca do seu próprio bem e do próximo,
contribuindo para a harmonia do mundo como um todo, feito para nós, suas
criaturas, na sede da eterna felicidade, agarrando-nos na força daquele que
está acima das dores, angústias e tristezas humanas: “Sabemos que, quando Jesus
se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é” (cf.
I Jo 3, 2). Dentro do contexto da recompensa celestial, não obstante a criatura
humana fixar morada em cidades, mas por vontade do Criador e Pai, somos
convidados a nunca perdermos de vista a cidade do céu, a Jerusalém do Alto.
Encerramos com Santo Agostinho,
na beleza de sua obra “A cidade de Deus”, colocando-nos diante do mistério
acima e propondo uma escolha: “Dois amores fundaram duas cidades, a saber: o
amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena; e o amor a Deus, levado ao
desprezo de si próprio, a celestial”. Assim seja!
*Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da
Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras
de Fortaleza - geovanesaraiva@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário