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A crise de criatividade da TV.
O que nos resta? Sintonizar no SBT e assistir, pela sétima vez, a saga de Paola e Paulina Bracho.
Por Alexis Parrot*
Qual foi a grande estreia da TV por assinatura dos últimos tempos? Respondo rápido: a novela A Gata Comeu, no Canal Viva. E qual será a próxima grande estreia da TV aberta? Respondo mais rápido ainda: A Usurpadora, no SBT.
É a lei do eterno retorno levada a extremos; uma prova da grande crise de criatividade por que passa a televisão brasileira hoje. Quer outros exemplos?
Qual será a grande novidade na programação do SBT em 2017? Jô Soares. E na Globo? Pedro Bial. Os dois conduzindo que tipo de programa? Um talk show! (Mais um talk show...) Com tanta novidade assim, como desgrudar os olhos da telinha?
Qual foi o casal de personagens da nossa teledramaturgia que marcou 2016? Shirlei e Felipe (ou Shirlipe, como querem alguns), de Haja Coração (ou de Torre de Babel?).
E a TV Aparecida? Para marcar os 300 anos de devoção a Nossa Senhora Aparecida no Brasil, a emissora católica exibe, a partir de abril de 2017, A Padroeira, novela de Walcyr Carrasco e o último trabalho de Walter Avancini. Uma produção da Globo para o horário das seis, levada ao ar em 2001.
Qual foi a principal estreia da Band no segundo semestre? Master Chef! (O segundo no ano. O fato de ser agora uma edição para profissionais do ramo acaba não fazendo tanta diferença para quem está assistindo ao programa de casa.)
Merece menção, também da Band, a primeira temporada (certamente virão outras) da versão brasileira do X Factor - mais um reality musical. Mas nada esconde a verdade: X-Factor, The Voice, o extinto Ídolos, The Voice Kids... todos são variações diminutas sobre o mesmo velho e batido tema do programa de calouros: a exploração televisionada do sonho de estrelato de incautos participantes.
Remake é uma coisa, a repetição ad infinitum de temas, histórias e personagens, é outro departamento, completamente distinto. A televisão, que é também conhecida pela alcunha de "fábrica de salsichas" (pela necessidade inerente do meio de uma produção rápida e constante), tenta agora clonar suas próprias salsichas.
A Record começa a produzir "programação" ao vivo, exclusivamente para o youtube. A ideia, é mostrar a preparação (making offs, reuniões de pauta e de criação, o que os convidados fazem enquanto não começa a gravação e outros mimos e que tais...) de programas da casa, como o talk show de Fabio Porchat e o Legendários. Se o que já vai ao ar pela televisão já não é lá essas coisas, o que esperar dos bastidores dessas produções?
E o Roda Viva, programa fundamental na história da TV Cultura, levou para o centro da arena essa semana o filósofo Luiz Felipe Pondé e o historiador Leandro Karnal, para discutir o que foi chamado de "Dilemas Contemporâneos". No momento em que o Brasil está pegando fogo, com as denúncias da Lava Jato finalmente atingindo políticos não petistas como José Serra; com as ocupações estudantis Brasil afora contra a PEC 241 e um dia após o segundo turno das eleições municipais onde o grande vitorioso foi o voto nulo e em branco, o programa decide se travestir e roubar a temática do Café Filosófico (outra atração imprescindível da emissora).
Talvez a única novidade mesmo que vimos esse ano na televisão foi a estreia do programa solo de Marcelo Adnet na Globo, o Adnight. De tão confuso e bobo, é praticamente inassistível, mais uma massagem no ego de celebridades do que propriamente um programa de televisão. Não consegue nem ser um humorístico. Compete diretamente com a irrelevância do Estrelas da Angélica e com o TV Fama do folclórico (para dizer o mínimo) Nelson Rubens, na Rede TV!
Nesse cenário de terra devastada, imitações e cópias, o que nos resta? Provavelmente sintonizar no SBT e assistir, pela sétima vez, a saga de Paola e Paulina Bracho; as Ruth e Raquel mexicanas de A Usurpadora.
Ou isso, ou o Chaves.
*Alexis Parrot é diretor de TV e jornalista. Escreve às terças-feiras sobre televisão para o DOM TOTAL.
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