terça-feira, 15 de novembro de 2016

Igreja Católica pode ter papel vital na cura dos EUA

domtotal.com
A Igreja Católica está em posição privilegiada para ajudar na cura do país.
Ferramentas desenvolvida para diálogo ecumênico poderiam ser adaptadas para diálogo político.
Ferramentas desenvolvida para diálogo ecumênico poderiam ser adaptadas para diálogo político.

Por Thomas Reese*

Com o fim da eleição, a Igreja Católica precisa desempenhar um papel positivo na cura das graves divisões dos EUA.

Milhões de pessoas estão chocadas e desapontadas com os resultados da eleição. Outros milhões descobrirão que com a vitória vem a responsabilidade para o país. As pesquisas de boca de urna mostram que o país está dividido: Republicanos x Democratas, negros x brancos, hispânicos x anglo-americanos, rural x urbano, idosos x jovens, pessoas com x sem escolarização, e até homens x mulheres.

As divisões sobre políticas de governo têm sido categóricas, com discordâncias entre os candidatos e partidos a respeito de impostos, salário mínimo, imigração, regras governamentais, aquecimento global e aborto.

Elas têm sido ferozes não só em questões políticas, mas também em acusações de racismo, intolerância, incompetência, imoralidade e criminalidade contra os candidatos e seus apoiantes.

Ambos os lados previram desastres apocalípticos caso perdessem a eleição.

Será que os EUA podem se curar ou estas divisões continuarão a provocar feridas no futuro?

A Igreja Católica está em posição privilegiada para ajudar na cura do país. Ela não apenas está presente em quase todos os cantos dos EUA, mas também é uma das poucas organizações que têm membros republicanos e democratas, hispânicos e anglo-americanos, negros e brancos, homens e mulheres, ricos e pobres, pessoas escolarizadas ou não, bem como membros de todas as gerações.

O Papa Francisco diz que a Igreja deve ser como um hospital de campanha que cuida dos feridos. Será que a Igreja pode promover a reconciliação e a cura necessárias para o resto do país ou as divisões da nação separarão a Igreja?

O caminho para a cura consiste no exemplo da possibilidade de diálogo da Igreja para o resto da nação. O Papa Francisco apontou essa direção em seu discurso aos bispos norte-americanos, no ano passado:

O caminho à frente, então, é o diálogo entre vocês, o diálogo em suas paróquias, o diálogo com os leigos, o diálogo com as famílias, o diálogo com a sociedade. Não me canso de encorajá-los a dialogar sem medo. ... A linguagem de um pastor não pode ser dura e divisiva, não há espaço para isto em seu coração; embora possa momentaneamente parecer eficaz, apenas o encanto duradouro pela bondade e pelo amor permanece verdadeiramente convincente.

O diálogo ecumênico levou a uma maior compreensão e melhores relações entre católicos e protestantes, que já chegaram a pensar que estavam fazendo a obra de Deus matando uns aos outros. Se democratas e republicanos tivessem uma relação como a que os católicos e protestantes têm hoje, os EUA estariam muito bem, obrigado.

As ferramentas desenvolvidas pela Igreja em prol do diálogo ecumênico poderiam ser adaptadas para o diálogo político. No diálogo ecumênico, por exemplo, nós aprendemos a importância de começar pelas áreas de comum acordo, em vez de áreas de divergências. O objetivo do diálogo é aprender sobre o outro, e não convertê-lo.

Há muito trabalho a fazer em todos os níveis da Igreja.

Imagine se cada bispo convidasse quatro políticos católicos, dois republicanos e dois democratas, para uma conversa informal em um jantar. O bispo teria um papel de anfitrião e ouvinte neutro. Não seria um bom momento para discursar. Os participantes poderiam começar compartilhando suas histórias individuais de fé, incluindo o papel da fé em sua vocação política. O objetivo de tal encontro seria promover a compreensão e o respeito, não converter o outro a um ponto de vista específico.

E não somente tratando-se de bispos. Poderia ser em paróquias, faculdades católicas e outras organizações católicas tanto com democratas quanto com republicanos. Seria útil treinar algumas técnicas de diálogo, mas isso poderia ser proporcionado por quem tem experiência em diálogos ecumênicos.

O diálogo político, assim como o diálogo ecumênico, não deve ser limitado a conversas sobre ideias e questões. A Igreja também reconhece o que chama de "diálogo de vida", "sobre a postura e o espírito que orientam a conduta pessoal. ... Trata-se de testemunhar o Evangelho em todas as facetas da vida, se envolvendo e vivendo em paz com a diferença religiosa"- que pode ser diferença política.

A Igreja também incentiva o chamado "diálogo de ação social comum", onde "grupos de diferentes contextos religiosos [poderiam ser diferentes contextos políticos] se unem para viver os seus compromissos de fé, trabalhando em conjunto no combate à pobreza, à fome, à falta de direitos dos trabalhadores e outras mazelas sociais". Se a Igreja conseguisse reunir republicanos e democratas para trabalhar mazelas sociais em conjunto, o país teria um grande testemunho. Imagine um Republicano e um Democrata trabalhando juntos para encontrar abrigo e recursos para uma família sem-teto.

A Igreja deve ser parte da solução, ou será parte do problema. Ou ela será um agente de reconciliação e cura ou será dividida pelo ambiente político em que vive. A Igreja tem as pessoas, os recursos e as ferramentas para fazer isso. Vamos começar.

National Catholic Reporter / IHU - Tradução: Luísa Flores Somavilla.
*Thomas Reese é jornalista e jesuíta.

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