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Profissional pode atuar nas áreas energética, de fármacos e biotecnologia, entre outras.
Por Luiz Carlos Angrisano*
Criada no Massachussets Institute of Technology (MIT), em 1888 nos Estados Unidos da América, a Engenharia Química é uma engenharia associada às engenharias tradicionais (civil, elétrica, mecânica e de minas) e a tecnologias, o que engloba um conjunto maior de conhecimentos, habilidades e competências. Na definição da Engenharia Química pelo American Institute of Chemical Engineers (AIChE), é a engenharia responsável pela transformação de matérias primas em bens de consumo, dedicando-se à concepção, desenvolvimento, dimensionamento, melhoramento e aplicação dos processos e dos produtos. Dentro desta definição inclui-se, também, a análise econômica, dimensionamento, construção, operação, controle e gestão das unidades industriais que efetivam esses processos, bem como a pesquisa e desenvolvimento nesses campos.
O profissional formado nessa área, o Engenheiro Químico, tem uma formação generalista, que pelo próprio caráter de sua formação combina os princípios das disciplinas básicas como matemática, física, química e biologia para atuar no desenvolvimento de processos na produção de diversos produtos em qualquer escala. As disciplinas de crivo tecnológico como: termodinâmica para engenharia, transferência de calor e massa, mecânica dos fluidos, ciência e engenharia de materiais, operações unitárias, processos industriais, automação e controle, bioquímica e bioengenharia, cinética e cálculo de reatores, resistência dos materiais e química com as suas disciplinas conexas, têm seus tópicos amparados por um cálculo avançado - auxiliados ou não pela computação - fundamentado nas equações e sistemas de equações diferenciais ordinárias e parciais.
Além dessas habilidades, pode-se citar as aptidões adquiridas através das disciplinas: economia, meio ambiente, direito, empreendedorismo e inovação tecnológica, filosofia, sociologia, ética profissional, segurança do trabalho, estatística e organização sistemas e métodos, que garantem uma formação humanística de caráter interdisciplinar possibilitando uma compreensão do seu trabalho contextualizado no meio social de sua inclusão.
Industrialmente, pode desempenhar funções importantes nas áreas de cosméticos; fármacos; alimentos; biotecnologia; fertilizantes; cimento; papel e celulose; tintas e vernizes; materiais poliméricos, metálicos e não metálicos; meio ambiente; limpeza (sabões e detergentes); petroquímica; energética; financeira e, qualidade e produtividade entre muitas outras. É um profissional versátil que atua eficazmente desde a escolha da matéria prima passando pelo planejamento da produção, prestação de serviços e produtividade, comprometendo-se com a garantia de eficiência energética ambientalmente correta até a obtenção de um produto final. Esta ligação com os processos ocorre através da otimização por meio da modelagem e simulação garantindo reduções de:
i) Consumo de matéria prima;
ii) Consumo de energia elétrica e combustíveis;
iii) Efluentes sólidos e líquidos.
Tudo isso avaliza a geração de produtos acabados e semiacabados de qualidade e baixo custo, obedecendo aos rigorosos padrões ambientais exigidos pela legislação brasileira. Além disso, preocupa-se e adapta-se às mudanças pelas quais passa a sociedade contemporânea dentro dos contextos sociais, econômicos e tecnológicos. É imperativo ao engenheiro químico o respeito pelo meio ambiente e segurança das pessoas. É um papel audacioso, pois deve estar antenado nas transformações e nas oportunidades, antevendo as dificuldades e minimizando-as, garantindo inclusão social por meio de facilidade ao acesso a novos produtos, processos, serviços e tecnologias.
Desde meados dos anos de 1800, século XIX, a engenharia química é exigida pela sociedade mundial, propagada pela euforia tecnológica da Revolução Industrial com a criação de novos processos de produção (em grandes quantidades, de forma padronizada e em série, com o uso de máquinas), fabricação de novos produtos químicos, maior eficiência da energia da água, uso da energia à vapor e o desenvolvimento das máquinas-ferramentas, o que motivou profissionalmente suas funções na época. Atualmente a engenharia química permeia as necessidades da sociedade com participação direta nos seguintes avanços:
– Inovação tecnológica na indústria química por meio da criação de novos equipamentos com maior segurança, totalmente automatizados e do desenvolvimento de processos químicos mais otimizados;
– Geração de materiais poliméricos biodegradáveis (poliéster biodegradável feito a partir de resinas de amido do milho, mandioca ou batata), garantindo a preservação da natureza, uma vez que o tempo de duração de sacolas plásticas (UHMWPE-polietileno e PP-polipropileno), como rejeitos sólidos, é muito elevado, em alguns casos chegando até 100 anos.
– Melhoramento da produção alimentar com a criação de fertilizantes, pesticidas e herbicidas que aumentam e protegem o cultivo de pomares e hortas, com menor impacto ambiental, bem como o desenvolvimento de técnicas de processamento alimentar, de esterilização e de embalagens, garantindo a conservação das propriedades organolépticas e propiciando um tempo maior para armazenamento, transporte e consumo.
– Indústria de fibras artificiais através da criação de materiais utilizados na indústria de tecidos e da moda (Nylon, Lyocel, Poliéster, Viscose e outros), indústria de materiais de segurança (Kevlar, Tyvek, Nomex, Tychem e etc.), indústria automobilística e de lazer (fibras de Sisal, de vidro, de carbono, ótica e etc.) e na medicina com a criação de materiais biocompatíveis (Polyjet MED610, Silicone, PTFE, Biocerâmicas e Biovidros).
– Processamento do petróleo através da criação do craqueamento (térmico, à vapor ou catalítico) e purificação de impurezas do petróleo (refino) por métodos avançados onde são retirados metais pesados e enxofre da composição, antes da separação.
– Desenvolvimento de fontes de energias renováveis como: utilização da cana de açúcar para produção de etanol, da mamona para produção do biodiesel, dos ventos para produção de energia eólica, solar fotovoltaica e, a mais recente, a energia maremotriz ou das marés.
Atualmente, devido a esse amplo leque de habilidades e competências, grandes companhias e instituições financeiras vêm acrescentando aos seus diversos quadros de diretores o profissional formado em Engenheira Química.
Luiz Carlos Angrisano é coordenador do Curso de Engenharia Química da Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE).
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