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Uma notinha do Estadão, na semana passada, informou que Rímoli teria encontro marcado com executivos da Globo para iniciar conversa relativa à compra de conteúdos.
Com Rímoli à frente, o fundo do poço é apenas o inicio da derrocada.
Por Alexis Parrot*
Diz um velho ditado que após chegar no fundo do poço, só nos resta uma alternativa: tentar sair dele, por não ter mais para onde descer. Mas Laerte Rímoli, o presidente da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) - instituição que engloba os órgãos federais de comunicação pública, de rádio e TV - refaz o dito popular com a maestria de poucos (e o descaramento de vários do governo golpista de Temer). Com Rímoli à frente, o fundo do poço é apenas o inicio da derrocada; ele cava o fundo para que mais e mais afundemos.
Uma notinha do Estadão, na semana passada, informou que Rímoli teria encontro marcado com executivos da Globo para iniciar conversa relativa à compra de conteúdos. A ação se daria em detrimento da política da TV Brasil, vigente até então, de licenciar e co-produzir programas com as TVs públicas estaduais. Para Rímoli, ainda segundo a nota do Estadão, comprar programas da Rede Globo sairia mais barato do que continuar com a prática de parcerias com a rede pública de televisão brasileira. Mas, se pararmos para pensar um pouquinho, fica claro; é o famoso barato que sai caro.
O que Rímoli não diz (e nem dirá) é o absurdo de se usar dinheiro público para comprar produtos de uma emissora comercial brasileira. Trata-se, certamente, de outra transação, mesmo que velada, porém, mais preocupante ainda: compra de apoio político do grupo pertencente à família Marinho para o governo federal.
Além disso, mostra outra face da estratégia político-ideológica do grupo de Temer, o desmonte não só da TV Brasil mas de toda rede pública de TV no país. Programas como o Diverso ou o Dango Balango (co-produções da TV Brasil com a Rede Minas, a TV pública mineira) saem da linha de interesse da EBC sob as asas dessa nova gestão. Quem perde é o telespectador brasileiro; quem ganha é apenas a Rede Globo.
Acrescenta-se a isso o fato de Rímoli ser um ex-empregado da Globo. Ficar bem aos olhos dos antigos patrões pode garantir um empreguinho certo para quando findar sua passagem pelo governo. Ele não seria o primeiro nem o último executivo a agir dessa maneira - com um olho no peixe, outro na frigideira; usando o cargo público para garantir o futuro de sua carreira.
Não iremos também esquecer que antes da EBC seu último endereço de trabalho foi a TV Câmara, durante a triste passagem de Eduardo Cunha pela presidência da casa. Era homem da confiança de Cunha, é homem da confiança de Temer e, pelo jeito, continua a gostar de agradar à Globo. Aparentemente, está a serviço de muita gente, menos ao interesse público e do público.
Outra medida já divulgada por Rímoli é a intenção de organizar um plano de demissão voluntária entre os servidores concursados da EBC. Minar a capacidade de produção própria da empresa é mais uma forma de abrir caminho para uma enxurrada de produtos comerciais na grade de programação da TV Brasil. Pode vir a se tornar a primeira TV pública do mundo com conteúdos exclusivamente comerciais: mais uma grande piada de mau gosto de um governo ilegítimo que nos trata a todos como completos débeis mentais - acham que ninguém enxerga o que está em curso, a maneira sem cerimônia como saqueiam nossos direitos e como privilegiam aqueles que podem lhes garantir alguma vantagem.
Ouço dizer, de gente que o conhece, que Laerte Rímoli é um profissional competente. Pergunto: competente para o quê? Competente para defender os interesses de quem?
Para um executor de políticas públicas, um gestor de dinheiro público, ser apenas competente nunca será o suficiente. Há que se ter caráter - e alguma dignidade, pelo menos.
*Alexis Parrot é diretor de TV e jornalista. Escreve às terças-feiras sobre televisão para o DOM TOTAL.
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