terça-feira, 8 de novembro de 2016

TV Brasil no fundo do poço

 domtotal.com
Uma notinha do Estadão, na semana passada, informou que Rímoli teria encontro marcado com executivos da Globo para iniciar conversa relativa à compra de conteúdos.
Com Rímoli à frente, o fundo do poço é apenas o inicio da derrocada.
Com Rímoli à frente, o fundo do poço é apenas o inicio da derrocada.

Por Alexis Parrot*

Diz um velho ditado que após chegar no fundo do poço, só nos resta uma alternativa: tentar sair dele, por não ter mais para onde descer. Mas Laerte Rímoli, o presidente da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) - instituição que engloba os órgãos federais de comunicação pública, de rádio e TV - refaz o dito popular com a maestria de poucos (e o descaramento de vários do governo golpista de Temer). Com Rímoli à frente, o fundo do poço é apenas o inicio da derrocada; ele cava o fundo para que mais e mais afundemos.

Uma notinha do Estadão, na semana passada, informou que Rímoli teria encontro marcado com executivos da Globo para iniciar conversa relativa à compra de conteúdos. A ação se daria em detrimento da política da TV Brasil, vigente até então, de licenciar e co-produzir programas com as TVs públicas estaduais. Para Rímoli, ainda segundo a nota do Estadão, comprar programas da Rede Globo sairia mais barato do que continuar com a prática de parcerias com a rede pública de televisão brasileira. Mas, se pararmos para pensar um pouquinho, fica claro; é o famoso barato que sai caro.

O que Rímoli não diz (e nem dirá) é o absurdo de se usar dinheiro público para comprar produtos de uma emissora comercial brasileira. Trata-se, certamente, de outra transação, mesmo que velada, porém, mais preocupante ainda: compra de apoio político do grupo pertencente à família Marinho para o governo federal.

Além disso, mostra outra face da estratégia político-ideológica do grupo de Temer, o desmonte não só da TV Brasil mas de toda rede pública de TV no país. Programas como o Diverso ou o Dango Balango (co-produções da TV Brasil com a Rede Minas, a TV pública mineira) saem da linha de interesse da EBC sob as asas dessa nova gestão. Quem perde é o telespectador brasileiro; quem ganha é apenas a Rede Globo.

Acrescenta-se a isso o fato de Rímoli ser um ex-empregado da Globo. Ficar bem aos olhos dos antigos patrões pode garantir um empreguinho certo para quando findar sua passagem pelo governo. Ele não seria o primeiro nem o último executivo a agir dessa maneira - com um olho no peixe, outro na frigideira; usando o cargo público para garantir o futuro de sua carreira.

Não iremos também esquecer que antes da EBC seu último endereço de trabalho foi a TV Câmara, durante a triste passagem de Eduardo Cunha pela presidência da casa. Era homem da confiança de Cunha, é homem da confiança de Temer e, pelo jeito, continua a gostar de agradar à Globo. Aparentemente, está a serviço de muita gente, menos ao interesse público e do público.

Outra medida já divulgada por Rímoli é a intenção de organizar um plano de demissão voluntária entre os servidores concursados da EBC. Minar a capacidade de produção própria da empresa é mais uma forma de abrir caminho para uma enxurrada de produtos comerciais na grade de programação da TV Brasil. Pode vir a se tornar a primeira TV pública do mundo com conteúdos exclusivamente comerciais: mais uma grande piada de mau gosto de um governo ilegítimo que nos trata a todos como completos débeis mentais - acham que ninguém enxerga o que está em curso, a maneira sem cerimônia como saqueiam nossos direitos e como privilegiam aqueles que podem lhes garantir alguma vantagem.

Ouço dizer, de gente que o conhece, que Laerte Rímoli é um profissional competente. Pergunto: competente para o quê? Competente para defender os interesses de quem?

Para um executor de políticas públicas, um gestor de dinheiro público, ser apenas competente nunca será o suficiente. Há que se ter caráter - e alguma dignidade, pelo menos.

*Alexis Parrot é diretor de TV e jornalista. Escreve às terças-feiras sobre televisão para o DOM TOTAL.

Nenhum comentário:

Postar um comentário