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O ano de 2016 tem todas as credenciais para se tornar o ano mais quente da história.
16 dos 17 anos mais quentes foram registrados justamente no século XXI. (Agência Brasil)
Por Marica Di Pierri*
Não há nada de realmente novo ou inesperado no alerta lançado nessa segunda-feira nas mesas da COP-22 pela OMM, a Organização Meteorológica Mundial. Em um comunicado divulgado durante o dia de abertura da segunda semana de trabalhos em Marrakech, a agência da ONU confirmou que 2016 tem todas as credenciais para se tornar o ano mais quente da história. Seria o terceiro recorde seguido depois dos primados registrados por 2014 e 2015.
Especificamente, o aumento é de 0,88°C a mais em comparação com o período de 1961-1990 e de nada menos do que 1,2 graus em comparação com a época pré-industrial. Um aumento que torna cada vez mais próximo o limite de +1,5°C, considerado por muitos como o limiar máximo que não deve ser superado para garantir a sobrevivência de grandes regiões do planeta.
A tendência exponencial das temperaturas globais também é confirmada por outro dado: 16 dos 17 anos mais quentes foram registrados justamente no século XXI. Também aumentam os eventos climáticos extremos, inundações e ondas anômalas de calor.
Em outubro, a OMM tinha divulgado outros dados referentes ao alcance do limiar de 400 ppm (partes por milhão) de CO2 na atmosfera. A novidade em relação ao passado é que tal quantidade não é registrada mais apenas em algumas zonas e em períodos particulares, mas em nível global e ao longo do ano inteiro e está destinada a não diminuir por diversas gerações.
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, acrescentou que, em algumas regiões árticas da Rússia, registram-se temperaturas de 6-7 graus a mais do que a média, enquanto aumentaram em três graus as temperaturas de outras regiões setentrionais, incluindo o Alasca e o noroeste do Canadá.
No dia 21 de julho de 2016, a Sociedade Meteorológica Wunder Ground tinha divulgado o dado recorde registrado em Mitribah, no Kuwait: uma temperatura de 54°C. Se essas tendências se confirmarem, o continente africano poderia literalmente queimar.
A desertificação ameaça um quarto das terras do planeta e um bilhão de pessoas alocadas em cerca de 110 países, mas é na África que se registra a situação mais dramática. A seca na Somália levou a +32% da população subnutrida e a 431 mil refugiados no Quênia, aos quais se unem os 300 refugiados interno.
De acordo com o Banco Mundial, com um aumento das temperaturas médias globais entre +1,5°C e +2°C, entre 40% e 80% das terras agrícolas da África subsaariana não serão mais adequadas para os cultivos de milho, painço e sorgo já entre 2030 e 2040. Por causa dos rendimentos agrícolas mais baixos, estima-se um aumento entre 35 milhões e 122 milhões de pessoas em condições de extrema pobreza.
Uma das consequências sociais mais dramáticas conectadas com os dados elencados acima diz respeito ao crescente fenômeno das migrações climáticas: em 2015, de 27,8 milhões de deslocados internos, 14,7 milhões foram determinados por eventos climáticos extremos. O relatório The Human Cost of Weather Related Disaster afirma que, nos últimos 20 anos, os desastres naturais foram determinados em 90% por eventos climáticos extremos. Entre os países mais atingidos, estão também a China, as Filipinas, a Indonésia e os Estados Unidos.
Além dos riscos internos, os Estados Unidos correm o risco de ter que enfrentar o aumento dos migrantes provenientes do México: de acordo com as estimativas, serão 900 mil as pessoas a mais a cada ano rumo à fronteira por causa do deserto que avança em 60% do território mexicano.
A pergunta é obrigatória: Trump está realmente convencido de que pode enfrentar essas emergências investindo com uma mão na energia fóssil e, com a outra, construindo ao redor do país milhares de quilômetros de muro de contenção?
Il Manifesto, 15-11-2016.
* Jornalista italiana, ativista da associação A Sud e presidente do Centro de Documento sobre os Conflitos Ambientais (CDCA).
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