terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Antártica é mais vulnerável ao aquecimento do que se pensava

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Há água congelada suficiente no continente polar para, em caso de derretimento, elevar o nível do mar em dúzias de metros e redesenhar o mapa do mundo.
Ventos fortes podem erodir as plataformas de gelo que ajudam a mantê-la no lugar.
Ventos fortes podem erodir as plataformas de gelo que ajudam a mantê-la no lugar. (Divulgação)

A camada de gelo maciça da Antártica Oriental pode ser mais vulnerável ao aquecimento global do que se pensava, de acordo com um estudo publicado na segunda-feira (12), que mostra como os ventos fortes podem erodir as plataformas de gelo que ajudam a mantê-la no lugar.

Há água congelada suficiente no continente polar para, em caso de derretimento, elevar o nível do mar em dúzias de metros e redesenhar o mapa do mundo.

Mas a compreensão da dinâmica da região - que inclui a camada de gelo muito menor da Antártica Ocidental - tem se mostrado difícil.

Até agora, os cientistas se concentraram na ameaça da Antártica Ocidental.

Estudos recentes sugeriram que as mudanças climáticas já podem ter condenado grandes pedaços da sua camada de gelo à desintegração, seja em uma escala de tempo de séculos ou de milênios.

Em contraste, o gelo que cobre a Antártica Oriental foi visto como muito mais estável, até mesmo com ganho de massa.

Acreditava-se que as plataformas de gelo flutuantes que se estendem sobre a terra e o oceano, impedindo que o gelo interior escape para o mar, estavam solidamente ancoradas.

Isso continua sendo em grande parte verdadeiro. Mas uma misteriosa cratera na plataforma de gelo King Baudoin, ao sul da ponta da África, levou uma equipe de pesquisadores da Holanda, Bélgica e Alemanha a questionar essa suposição.

"Nossa pesquisa mostrou que a Antártica Oriental também é vulnerável às mudanças climáticas", disse Jan Lenaerts, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Utrecht, na Holanda.

Os resultados foram publicados na revista científica Nature Climate Change.

Alguns estudos atribuíram a cratera a um impacto de meteorito, mas quando Lenaerts e sua equipe chegaram no local, em janeiro, perceberam que a cavidade cheia de água tinha outras origens.

Combinando modelos climáticos, dados de satélites e medições no local, eles concluíram que ventos fortes carregando ar quente estavam levando embora a neve refletiva, permitindo que os raios solares fossem absorvidos pelo gelo mais escuro em vez de serem devolvidos ao espaço.

Excesso de calor

A principal vulnerabilidade das plataformas de gelo às mudanças climáticas continua sendo o aquecimento da água do oceano, que desgasta sua parte inferior.

Normalmente, essa erosão é compensada pela acumulação de neve fresca e gelo de cima.

Mas os oceanos absorveram, nas últimas décadas, grande parte do excesso de calor gerado pelo aquecimento global, que elevou as temperaturas médias globais do ar em um grau Celsius.

Quando combinado com a erosão de cima, o impacto na estabilidade da camada de gelo pode ser maior do que se entendia anteriormente.

"Esses processos - anteriormente não observados na Antártica Oriental - indicam que o aquecimento adicional pode ampliar o risco de colapso da plataforma de gelo", disse Martin Siegert, do Imperial College London, comentando o estudo.

Um ensaio geral do que poderia acontecer mais amplamente aconteceu em 2002, quando a plataforma de gelo Larsen B da Antártica Ocidental sofreu uma "rápida e catastrófica falha mecânica", caindo no mar, ele observou.

"A Larsen B nos diz que o derretimento superficial pode ser crítico para a integridade estrutural das plataformas de gelo," escreveu Siegert em um comentário na Nature Climate Change.


AFP

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