domingo, 11 de dezembro de 2016

'Michelle e Obama' concentra-se mais na política do que no romance

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Filme é recriação ficcional de primeiro encontro do casal e lembra trilogia de Richard Linklater iniciada com 'Antes do amanhecer'.
Parker Sawyers e Tika Sumpter em 'Michelle e Obama'.
Parker Sawyers e Tika Sumpter em 'Michelle e Obama'. (Divulgação)
Por Alysson Oliveira

O título e o pôster de “Michelle e Obama” talvez sejam um tanto enganosos, dando a ideia de um drama romântico sobre a juventude do presidente dos Estados Unidos e da primeira-dama. Nada mais errado do que isso. O filme de Richard Tanne é uma recriação ficcional da primeira vez que o casal – que ainda não era um casal, mas colegas de trabalho – saiu junto. 

Todo mundo já sabe onde essa história irá chegar – casamento, Casa Branca. Mas a graça no filme, roteirizado pelo próprio diretor, está na construção de um suspense do tipo “será que eles vão ficar juntos” – mesmo todo mundo sabendo que irão. A trama se passa numa tarde calorenta na Chicago de 1989, quando Michelle (Tika Sumpter, de “Salt”) já é uma advogada num escritório de renome, e Barack (Parker Sawyers, de “A Hora Mais Escura”), estudante de direito, em Harvard, fazendo um estágio de verão na empresa onde ela trabalha. Ele está se apaixonando por ela – mas a moça resiste por diversos motivos.

Ela sabe que haverá falatório se eles se envolverem – ela é a chefe dele, e o fato de ser uma mulher e negra já pesa sobre ela, fazendo que seja “vigiada” o tempo todo. Ela precisa provar permanentemente sua competência. Ele sabe de tudo isso, mas não desiste de tentar conquistá-la. O pretexto para o primeiro encontro é uma reunião de afro-americanos numa igreja, onde será discutido um centro comunitário que ainda nem foi construído. A reunião realmente vai acontecer, mas antes disso, Barack tem outros planos.

De certa forma, o resultado lembra a trilogia de Richard Linklater iniciada com “Antes do Amanhecer”. Assim, “Michelle e Obama” é uma longa discussão sobre questões pessoais, culturais, sociais e políticas, sobre a visão de mundo, bastante parecida, dos dois. Por isso, andam de um lado para outro falando – vão a uma exposição de Ernie Barnes, à reunião na igreja, a um parque, e terminam o dia vendo “Faça a Coisa Certa”, de Spike Lee.

As conversas transitam desde o trabalho duro de Michelle, seus pais idealistas às origens de Barack, problemas na infância e a vida no Havaí e na Indonésia. Um ou outro comentário dá conta, de forma leve, sobre alguma ambição política que ele possa ter. Algumas falas soam como piadas internas para o público do filme: “Você realmente leva jeito para fazer discursos”, diz a moça ao então colega.

Por mais que se busque o que havia, na época, de mais humano em Michelle e Barack, o filme, muitas vezes, injeta neles um estado de quase santidade. São duas grandes figuras do século 21 começando a se moldar naquilo que são hoje. É um excesso de zelo que, às vezes, torna o filme frio e engessado, mas também dá conta de uma época que ficou para trás, e, com a vitória de Trump, ainda mais distante.

Reuters

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